Na trama, Celie (Fantasia Barrino) uma mulher que desde cedo sofre abusos nas mãos do pai, Alfonso (Deon Cole), e depois é forçada por ele a se casar com o violento viúvo Mister (Colman Domingo). Além de agredir Celie e reduzi-la a uma empregada doméstica, o marido também expulsa Nettie (Halle Bailey) da casa da família, privando Celie do contato com a única irmã. Ao longo dos anos, Celie encontra em outras mulheres da vizinhança o apoio e conforto para suportar os maus tratos do marido.
O filme acerta ao situar os números musicais de Celie como parte de sua imaginação, fazendo esses momentos funcionarem como uma fuga dela de sua realidade dura, ajudando a entender como ela se mantem suportando tudo aquilo. Por outro lado, nem todos os números musicais funcionam tão bem. A cena de Sofia (Danielle Brooks) deixando o marido basicamente só faz musicar o diálogo original e acaba carecendo de um certo senso de espetáculo, diferente dos números que envolvem Celie.
Como a versão de Spielberg, o filme acaba tendo que passar rápido demais por algumas subtramas do livro, deixando alguns arcos superficiais, mas talvez mais até do que a versão de 1985. Aqui, o filme parece sempre ter pressa de fazer a trama avançar, o que faz muito coisa não ter o devido tempo para se desenvolver, seja um momento mais dramático, seja cômico.
Isso é visível, por exemplo, na cena em que Celie serve água com cuspe para o sogro. No filme de Spielberg ele era interrompido várias vezes até beber a água, ampliando a catarse e a comicidade, aqui ele rapidamente encerra a conversa e bebe a água. O mesmo pode ser visto na cena do almoço em que Celie tenta matar o marido com uma navalha, com tudo se encerrando muito rápido sem que a tensão do momento seja devidamente construída. A trama também tem problemas na construção das tramas das personagens secundárias.
A reconciliação de Shug (Taraji P. Henson) com o pai é jogada de qualquer maneira perto do final e parece desconectada de todo o resto. O filme gasta um tempo para mostrar o sofrimento de Sofia na prisão e como essa experiência somada a ser forçada a virar doméstica da mulher prefeito causaram um severo dano psicológico a ela, mostrando como a lógica racista da sociedade dobra à força uma mulher que se recusa a caber no papel social que lhe é imposto. Alguns minutos depois, no entanto, Sofia está completamente de volta ao normal como se nada tivesse acontecido, fazendo tudo soar um pouco inconsequente.
Por outro lado, o filme deixa mais explícito que na versão de Spielberg o sentimento que Celie tinha por Shug, deixando evidente através de um número musical já na primeira cena das duas como a cantora mexe com Celie. Do mesmo modo, a trama acaba dando mais camadas a Mister, trabalhando como a relação com o pai o fez do jeito que é, mostrando-o sob um aspecto mais patético em alguns momentos e também construindo alguma medida de reparação entre ele e Celie sem, no entanto, aliviar ou justificar suas ações.
A força do filme, porém, reside no elenco e no modo como as atrizes convencem dos laços de sororidade que unem essas mulheres e no sentimento genuíno de cooperação entre elas que torna difícil não se emocionar com suas dores e seus triunfos. Fantasia Barrino nos fazer o anseio por liberdade e conexão humana que há por trás da resignação sofrida e silenciosa de Celie. Taraji P. Henson devora o cenário como a voluntariosa Shug, uma diva do blues extravagante que é sempre a alma da festa. Já Danielle Brooks traz uma determinação feroz a Sofia, uma mulher que não está disposta a se dobrar para ninguém. Confesso que fiquei surpreso com o trabalho do comediante Deon Cole como o pai de Celie. Cole costuma fazer personagens sem noção em comédias como Black-ish ou Uma Turma do Barulho (2002), então não esperava que ele fosse ser tão convincente nos modos brutos e presença intimidadora de Alfonso.
Essa nova versão de A
Cor Púrpura pode não ter fazer nada que outras versões já não tenham feito,
mas tem emoção o suficiente para nos manter investidos em seu conto de amizade
e resiliência.
Nota 6/10
Trailer
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