A trama se passa em 1988 e se baseia na história real do sequestro de um voo da VASP saindo de Minas Gerais. O sequestrador, Nonato (Jorge Paz) toma o controle do avião e ordena que os pilotos mudem a rota para Brasília, desejando jogar a aeronave em cima do Palácio do Planalto para matar o então presidente José Sarney, a quem culpa pelo desemprego e alta inflação que assola o país. Sob a arma do sequestrador, o piloto Murilo (Danilo Grangheia) precisa achar um meio de aterrissar em segurança e manter todos vivos na aeronave.
A narrativa acerta na construção do contexto, estabelecendo o clima de frustração com o governo apesar de finalmente termos saído do julgo dos governos militares. De certa forma, as tensões entre o delegado da polícia federal e os militares da aeronáutica pelo controle da investigação servem como metonímia para as tensões entre civis e militares no governo, com os militares sempre querendo tutelar as decisões dos civis (até hoje, na verdade) apesar das próprias escolhas dos militares não serem as melhores. Aqui, o impulso inicial da aeronáutica é abater a aeronave, impedindo o sequestrador de realizar o atentado e matando todos os cem civis à bordo. Nesse sentido não é por acaso que o filme coloque uma civil, a controladora aérea Luzia (Roberta Gualda) como a voz da sensatez conforme ela começa a conversar e negociar com o sequestrador antes que os militares tomem medidas drásticas.
O crescente da tensão é desenvolvido com habilidade pelo filme, com Nonato se tornando cada vez mais instável e violento conforme ele percebe que seu plano não irá se concretizar e também pelas várias ameaças que surgem, desde um caça da força aérea aguardando ordens para abater o avião, passando pelo uso de combustível que fica cada vez mais perto do fim. Há um senso de urgência sempre presente e o fato do filme conseguir nos manter nesse estado constante de tensão apesar de ser baseado em uma história real que já sabemos como termina revela sua eficiência na construção da tensão, em especial durante o clímax quando acompanhamos as manobras audazes do piloto para aterrissar em segurança.
Os personagens, por outro lado, não tem muito estofo. A narrativa usa os filhos dos dois pilotos como muleta afetiva para que torçamos por sua sobrevivência (ou lamentemos quando as coisas dão terrivelmente errado) e durante boa parte do tempo não há muito espaço para desenvolver mais esses indivíduos, com o sequestrador sendo tratado de maneira bem unidimensional. Só perto do final que Murilo revela o motivo de ter ficado dois meses de pilotar e a informação dele ser também um trabalhador prejudicado por um sistema de exploração inescrupulosa da mão de obra o aproxima de Nonato, mas essa conexão não chega a ser devidamente explorada.
Ainda assim, O Sequestro do Voo 375 é um eficiente suspense cheio de bons momentos de tensão e que tenta usar a história real que conta para revelar as tensões políticas do período da redemocratização.
Nota: 7/10
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