quarta-feira, 6 de março de 2024

Crítica - Bom Dia, Verônica: 3ª Temporada

 

Análise Crítica - Bom Dia, Verônica: 3ª Temporada

Review - Bom Dia, Verônica: 3ª Temporada
Depois de um segundo ano em que a trama se perde um pouco em uma conspiração excessivamente mirabolante, Bom Dia, Verônica chega em sua terceira e última temporada com uma duração abreviada de apenas três episódios. Imagino que deve ter sido mais uma decisão de financiamento da Netflix do que da equipe criativa da série, já que o número reduzido não dá conta de resolver tudo que foi construído até aqui com o impacto que deveria.

A trama começa no ponto onde o segundo ano parou. Depois que Verônica (Tainá Muller) prende o evangelista Matias (Reynaldo Gianecchini) ela vai atrás do misterioso Doúm, líder da máfia da qual Matias fazia parte. Investigando as origens do grupo criminoso, ela fica na mira de Jerônimo (Rodrigo Santoro), que parece saber mais do que parece. Quando a filha de Verônica é sequestrada, ela precisa correr para solucionar tudo.

Se nas duas temporadas anteriores a trama era mais focada em investigação e desbaratar os nós das conspirações do grupo criminoso, aqui tudo é mais centrado na corrida contra tempo para encontrar a filha de Verônica, já que o vilão se apresenta a ela logo de início e não há muito mais a ser descoberto em relação a quem lidera o grupo criminoso. Isso, no entanto, não significa que a temporada não tenha sua parcela de reviravoltas, incluindo uma envolvendo o passado de Verônica.

Rodrigo Santoro traz uma faceta sedutora a Jerônimo, mostrando como o personagem tem um magnetismo pessoal capaz de envolver e manipular mulheres em seu esquema. Ao mesmo tempo, o ator confere uma boa dose de instabilidade e sadismo no personagem, fazendo dele um oponente imprevisível e verdadeiramente ameaçador. É uma pena, porém, que o pequeno número de episódios não dê muito espaço para explorar o passado traumático do personagem e como ele se tornou o sujeito perturbado que é, reduzindo esse passado a uma série de diálogos expositivos quando seria mais interessante mostrar isso através de flashbacks.

Igualmente envolvente é o trabalho de Maitê Proença como Diana, a mãe de Jerônimo que é tão perturbada quanto o filho e tem uma relação, digamos, pouco saudável (para dizer o mínimo) com ele. A motivação da dupla de gerar um filho perfeito realizando diferentes experimentos em sua fazenda me lembrou um pouco dos filmes do Zé do Caixão, no qual o célebre personagem de horror também transitava por paisagens do interior de São Paulo com uma finalidade semelhante.

Por outro lado, considerando como as temporadas anteriores estabeleceram o grupo liderado por Jerônimo como altamente influente, com agentes em todas as esferas de poder e capaz de manipular quaisquer eventos a seu favor, a revelação de que a atividade do grupo consiste apenas de um esquema de tráfico de pessoas soa banal demais para toda a aura conspiracionista mirabolante construída até então e é um pouco decepcionante.

O arco de Verônica soa como uma progressão natural de seu desencanto com as autoridades, afinal estamos no Brasil e nos acostumamos a ver poderosos evadindo a lei a polícia atuar em prol deles ao invés da população, então não poderíamos enxergar a polícia com o mesmo viés heroico de séries estadunidenses. É também coerente com a conduta violenta da personagem e o modo com o qual ela demonstra apreciar punir brutalmente os homens violentos com quem ela cruzou ao longo da série.

O número reduzido de episódios acaba prejudicando o clímax, com o levante das mulheres cativas na fazenda de Jerônimo vindo muito fácil apesar de anos de dominação e lavagem cerebral. Também deixa pouco espaço para os personagens coadjuvantes, que quase não aparece e tem seus principais desenvolvimentos fora de cena, como Ângela (Klara Castanho), cujo relacionamento com a namorada e eventual noivado são mais informados através de diálogos do que efetivamente mostrados em cena, não permitindo que vejamos esse desenvolvimento. Considerando o que a personagem passou no segundo ano, vê-la encontrando o amor e reconstruindo a vida seria importante para falar sobre superação de traumas.

A terceira temporada de Bom Dia, Verônica tinha elementos para construir um ótimo encerramento para a série, mas é prejudicada pelo pequeno número de episódios que faz tudo soar apressado e sem o desenvolvimento necessário para que alguns momentos chave tenham o devido impacto.

 

Nota: 5/10


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