quarta-feira, 13 de março de 2024

Crítica – Donzela

 

Análise Crítica – Donzela

Review – Donzela
Abrindo com um diálogo que diz algo tipo “existem muitas histórias sobre cavaleiros salvando donzelas em perigo, essa não é uma delas” faz parecer que Donzela, produção original da Netflix, tem algo de bastante subversivo. O problema é que o filme não faz nada de interessante com essa ideia e ou que já tenha sido feito melhor por outros filmes com protagonistas femininas.

A trama é protagonizada por Elodie (Millie Bobby Brown), uma princesa de um reino que está definhando e é convencida pelo pai, lorde Bayford (Ray Winstone), e pela madrasta, Lady Bayford (Angela Bassett), a se casar com um príncipe de um próspero reino distante para salvar o seu próprio. Chegando lá se encanta pela beleza do local e como é recebida pela rainha Isabelle (Robin Wright) e o príncipe Henry (Nick Robinson). No casamento, porém, ela descobre que tudo não passa de uma farsa e um ritual para sacrificá-la a um dragão que habita o reino muito antes dos humanos chegarem. Sozinha no covil do dragão, Elodie precisa encontrar um jeito de sobreviver.

O principal problema do filme é o quanto ele é arrastado. A primeira meia hora se alonga demais em diálogos expositivos que detalham a situação mais do que necessário como se não fosse uma premissa familiar que já vimos várias vezes. Quando Elodie finalmente cai no covil da criatura pensamos que as coisas vão melhorar, mas tudo continua moroso, com a protagonista passando parte do tempo parada se escondendo do dragão, com pouquíssimo de interessante acontecendo.

Muito do tédio também vem pelo tom excessivamente sério da direção e de boa parte do elenco. Tudo é conduzido e atuado como se fosse um drama sério e bastante realista, como se tivesse vergonha de ser uma aventura fantasiosa ou achasse que precisa ser excessivamente sisudo por estar tratando de temas como feminismo. Essa seriedade prejudica principalmente o trabalho de Nick Robinson e Millie Bobby Brown, cujos personagens não tem lá muita substância e a maneira estoica com a qual se conduzem só reforça o quanto eles são vazios e entediantes. Robin Wright parece ser a única que realmente entende o material que tem em mãos, devorando o cenário como a deliciosamente maligna rainha.

Visualmente a produção carece de qualquer senso de encantamento ou mesmo de algum senso de personalidade em seu universo fantasioso. A impressão é que alguém mandou uma IA gerar um mundo de fantasia e o resultado foi esse universo genérico, que não tem nada marcante. A única escolha minimamente interessante é o modo como o sopro do dragão funciona. Ao invés de ser uma labareda de fogo, o ataque funciona como se fosse napalm, com a criatura expelindo uma substância incendiária que se espalha pelas superfícies. A ação carece de urgência, já que não importa o quanto Elodie se machuque, ela se levanta como se nada tivesse acontecido, nunca dando a sensação de que ela está realmente em perigo.

Quando a verdade é revelada sobre a motivação do dragão parecia que o filme ia abordar como o processo de colonização é violento (afinal a criatura já estava lá quando chegaram) com os nativos, mas fica só nisso e nada é muito desenvolvido. Mesmo a jornada de Elodie não vai além do que já virou clichê para uma “personagem feminina forte”, um tipo de personagem que começou como um contraponto às representações femininas típicas de Hollywood, mas que hoje virou o mesmo tipo de retrato reducionista e unidimensional que deveria combater. Filmes como Valente (2012), Frozen (2013) ou Moana (2016), só para ficar em exemplos recentes, construíram melhor a desconstrução de elementos machistas de fantasia e contos de fada. A ideia dela sobreviver com base nas anotações de outras princesas nas paredes da caverna parece ser uma metáfora para sororidade e a importância da cooperação feminina, porém é só mais um elemento tratado de modo superficial.

O modo como a protagonista precisa ir removendo camadas do seu vestido de noiva para sobreviver serve para ilustrar o aprisionamento que é o ideal patriarcal de “ser mulher” e como ela precisa se livrar dessas noções que lhe foram impostas para superar seus desafios. É uma ideia interessante que termina meio esquisita pelo fato de que ela termina vestindo algo tão revelador que o simbolismo empoderador perde um pouco da força.

Embora tenha a intenção de ser subversivo, Donzela é prejudicado por um texto raso, tom inconsistentes, personagens inanes e visuais sem personalidade. Sua mocinha pode ser capaz de salvar a si mesma, mas não consegue salvar o público do tédio que é assistir esse filme.

 

Nota: 3/10


Trailer

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