quarta-feira, 20 de março de 2024

Crítica – Ecos do Silêncio

 

Análise Crítica – Ecos do Silêncio

Review – Ecos do Silêncio
Protagonizado por Thalles Cabral (o Nem de As Five) Ecos do Silêncio é um filme sobre errância, sobre se perder, se encontrar e tentar dar algum sentido ao caos da nossa existência. Infelizmente a produção nem sempre alcança as pretensões temáticas que se propõe a discutir.

A narrativa é centrada em Davi (Thalles Cabral), que viaja para a Argentina para estudar musicoterapia na esperança de poder ajudar o irmão que tem autismo severo. De lá ele parte para a Índia em uma jornada espiritual e acaba confrontando sua relação com a família e os traumas que o moveram até então.

O filme se move entre o presente de Davi, memórias de seu passado e ocasionais flashfowards de sua jornada na Índia. A impressão é que o filme tenta nos mergulhar no fluxo de consciência do personagem, mostrando como o passado materializa seu presente e informa o seu futuro, bem como nos faz sentir a conexão metafísica que o protagonista diz sentir em relação ao irmão.

Thalles Cabral é eficiente em transmitir a natureza inquieta e carregada de anseios de Davi. É alguém que sente o desejo profundo de se conectar a algo que acalme seus sentimentos e lhe traga algum sentimento de paz, lhe impelindo a se jogar por inteiro a qualquer envolvimento que pareça lhe oferecer esse alento, seja o envolvimento amoroso com a amiga da família que o hospeda na Argentina, seja sua tentativa de aprender cânticos religiosos hindus ou o estudo de musicoterapia.

A questão é que nem sempre as transformações e guinadas do personagem são construídas de maneira convincente. Ele está decidido a se tornar musicoterapeuta até que uma aula com uma professora explicando o quanto é bem mais complexo do que ser apenas músico é suficiente para que ele tenha certeza de a profissão não é para ele. O mesmo acontece com sua decisão de parar de aprender cânticos hindus, que soa súbita e não devidamente construída.

As reviravoltas que a trama insere sobre a família de Davi e os irmãos acrescenta novas informações sobre ele, mas não necessariamente ampliam ou aprofundam seu conflito emocional. A bricolagem que o texto faz com medicina, psicologia e espiritualidade também nunca é costurada em um todo que soe coeso.

Assim, apesar de um começo promissor e de uma estrutura eficiente em nos deixar imersos na consciência de seu personagem, Ecos do Silêncio não consegue amarrar todas as suas ideias de um modo que consiga causar o impacto da epifania proposta.


Esse texto faz parte de nossa cobertura do XIX Panorama Internacional Coisa de Cinema.

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