A trama é focada em Seydou (Seydou Sarr) um jovem senegalês que está juntando dinheiro com um primo para que ambos consigam atravessar de barco para a Itália. A mãe de Seydou e outras pessoas ao seu redor tentam dissuadi-lo dessa atitude, alertando para os perigos dessa travessia, bem como do fato de que a Europa não é a utopia que os retratos midiáticos fazem parecer. Ainda assim Seydou decide empreender a viagem e é defrontado com uma realidade tacanha de violência e exploração.
O filme enquadra a viagem migratória de Seydou e do primo como um verdadeiro calvário no qual ele não encontra nada além de sofrimento. Autoridades dos países que ele atravessa os extorquem cobrando subornos para deixá-los passar por pontos de checagem, atravessadores criminosos os tornam reféns e tentam cobrar dinheiro de suas famílias e o status ilegal deles em países como Líbia, que Seydou passa um tempo durante a travessia, os impede até mesmo de procurar um hospital em caso de necessidade.
É um percurso marcado por dificuldades brutais e o filme não economiza em mostrar o peso e o risco que pende sobre os personagens, mostrando como essa é uma viagem na qual é mais fácil fracassar ou morrer pelo caminho do que completá-la. O problema é que a produção não oferece muito mais que isso, construindo uma sucessão de dificuldades e reduzindo seus personagens às circunstâncias de miséria na qual vivem sem muita nuance ou nada que sirva para lhes dar complexidade. Produções como Touki Bouki: A Viagem da Hiena (1973) ou Atlantique (2019) trazem olhares mais ricos e menos unidimensionais acerca da migração de africanos para a Europa.
Imagino que a intenção dos realizadores ao contar essa história era atrair nossa atenção e empatia pelo sofrimento desses migrantes, nos ajudando a vê-los mais como pessoas do que como estatísticas, mas ao reduzir seus personagens a suas circunstâncias acaba por desumanizá-los. Além disso, como não há muito mais do que uma sucessão de situações de sofrimento, a trama acaba ficando monótona por literalmente estar andando em círculos repetindo as mesmas ideias e temas. Se a ideia era meramente fazer algo expositivo, que explicasse a situação para o espectador, teria sido melhor fazer um documentário.
O clímax, que coloca Seydou para guiar, sem qualquer experiência prévia, um pequeno barco lotado de imigrantes deixa evidente os riscos e as dificuldades que essas pessoas experimentam ao tentar cruzar o oceano em embarcações precárias e sem capacidade para comportar a quantidade de pessoas que é levada ali. Ainda assim, o encerramento da trama no momento em que o barco é resgatado pela guarda costeira italiana ser enquadrado com um viés de triunfo é um pouco incômodo. Claro, num nível pessoal para Seydou ter conseguido finalmente chegar em seu destino e ter guiado todos no barco com vida é de fato uma grande vitória para o personagem.
Porém enquanto representação da experiência de populações africanas migrantes (e o filme claramente propõe que tomemos a jornada de Seydou como uma metonímia para a experiência comum desse tipo de movimento migratório) questão de construir a chegada à Europa como uma espécie de terra prometida na qual tudo vai dar certo para o personagem daí em diante só reforça o tipo de retrato midiático que a mãe de Seydou e outros personagens tanto criticam lá no início. É um final que não só mantem o estado das coisas, como ignora o tratamento que imigrantes africanos recebem no continente e como eles têm sido cada vez mais alvo de hostilidade de grupos reacionários e xenófobos.
Competente em mostrar a realidade tacanha dos imigrantes
africanos que tentam chegar à Europa Eu,
Capitão esbarra, porém, em um olhar superficial e excessivamente expositivo
sobre a realidade retratada. Um exemplo de como boas intenções e um tema
relevante nem sempre resultam em um bom filme.
Nota: 5/10
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