quinta-feira, 14 de março de 2024

Crítica – Meninas Malvadas

 

Análise Crítica – Meninas Malvadas

Review – Meninas Malvadas
Quando foi lançado em 2004, Meninas Malvadas surpreendeu pelo seu olhar crítico sobre o universo de panelinhas adolescentes. O sucesso do filme gerou uma continuação sem o envolvimento da equipe criativa original, Meninas Malvadas 2 (2011), cujo resultado foi execrável, e também um musical da Broadway inspirado no filme de 2004. Agora a versão musical é adaptada aos cinemas e não tem muita coisa a acrescentar ao ótimo original.

A trama segue a mesma. Cady (Angourie Rice) é uma garota ingênua que cresceu educada pelos pais enquanto eles viajavam pela África em pesquisa. Quando eles voltam para os Estados Unidos Cady vai experimentar pela primeira vez um colégio comum. Lá faz amizade com os excluídos Janis (Auli’i Cravalho) e Damian (Jaquel Spivey), mas também chama a atenção do grupo de garotas populares liderados por Regina George (Reneé Rapp) e logo aprende como o colégio não é muito diferente de uma selva.

As batidas da narrativa e boa parte das piadas permanecem as mesmas o que levanta a questão do porquê fazer uma nova versão que não traz nenhum tipo de releitura ou novo olhar para essa história e só entrega mais do mesmo. A maioria das mudanças é superficial e diz respeito a se adequar aos novos tempos de uma juventude conectada e que se comunica por redes sociais.

Algumas mudanças nos personagens, porém, deixam elementos da trama sem sentido. No início filme estabelece que essa versão de Regina George não é uma contadora de calorias obcecada por magreza e de comportamento quase anoréxico e sim alguém confiante e confortável no próprio corpo que não tem problemas em comer junk food, no entanto, minutos depois usa a subtrama de Cady e Janis fazendo ela comer barrinhas cheias de calorias para engordá-la. Imagino que as condutas de Regina foram mudadas por não acharem apropriado sua apologia à magreza e comentários sobre a aparência feminina, mas o original nunca endossou essa conduta e fazia disso parte de sua personalidade tóxica, nos dando mais motivos para vê-la como vilã. Ao remover essa parte de sua personalidade e manter a trama da engorda, o filme não muda o conteúdo a respeito de comentários sobre a aparência das garotas e ainda cria uma incoerência.

Os números musicais são competentes, mas a maioria deles não tem nada de muito marcante, com as melhores canções sendo as de Janis e as de Regina, além de um número envolvendo Karen (Avantika) na festa de Halloween. São números em geral bem executados, com alguns prezando pelo uso de planos sequência com as personagens transitando por vários ambientes sem cortes, como ocorre em dois números de Janis e a já citada canção de Karen, mas cujas canções não empolgam como deveriam. Isso acontece principalmente nas canções de Cady, que não fazem muito além de repetir o que as cenas normais já mostraram.

O elenco é fiel ao espírito das personagens do original e as desenvolve com habilidade ainda que, novamente, não tenham muito a acrescentar à versão original. Angourie Rice, por exemplo, faz de Cady uma garota ingênua que aos poucos passa a apreciar a atenção que recebe. Reneé Rapp claramente se diverte devorando o cenário como a venenosa Regina, mas quem se destaca mesmo é Auli’i Cravalho que consegue dar mais camadas a Janis, em parte porque o roteiro também dá mais evidência à personagem. Me surpreendi com o trabalho de Avantika como Karen, já que interpretar personagens extremamente burras não é tão fácil quanto parece, mas ela consegue fazer sua patricinha ter um olhar constantemente perdido e ainda assim soar como um ser humano crível. Por outro lado Christopher Briney é um buraco negro de carisma como Aaron Samuels e nunca consegue justificar porque tantas garotas brigariam por um sujeito tão sem graça.

No fim das contas a nova versão de Meninas Malvadas não faz muito além de repetir os méritos do original e nunca justifica sua própria existência para além da inserção de números musicais.

 

Nota: 6/10


Trailer


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