quinta-feira, 7 de março de 2024

Crítica – O Astronauta

 

Análise Crítica – O Astronauta

Review – O Astronauta
Sempre fico curioso com os trabalhos mais sérios de Adam Sandler. Em geral o ator parece render mais em produções assim, como Joias Brutas (2019) do que nas comédias pastelão que ele próprio produz. Esse O Astronauta, no entanto, é um raro caso de um trabalho mais sério protagonizado por Sandler que não funciona.

Na trama, Jakub Prochazka (Adam Sandler) é o primeiro homem da República Checa a ir para o espaço. Ele viaja sozinho em uma missão para investigar a Nuvem Chopra, uma estranha nebulosa que surgiu próxima a Júpiter anos atrás e deixou nosso céu parcialmente roxo. Sem dormir e extremamente solitário, o astronauta começa a perceber uma estranha criatura em sua nave, um ser que parece uma aranha gigante a quem ele chama de Hanus (Paul Dano). Conversar com Hanus aplaca sua solidão e a criatura alienígena se mostra curiosa sobre a humanidade e passa a querer saber mais sobre Jakub, o impelindo a falar sobre seu passado e sua relação complicada com a esposa, Lenka (Carey Mulligan).

O filme começa interessante por sua atmosfera de estranhamento envolvendo Jakub e a estranha criatura que surge, inicialmente gerando dúvida se estamos diante de um alienígena de verdade ou se o personagem está apenas pirando por conta da solidão. Os visuais psicodélicos são outro elemento que chama atenção, com os tons fortes de roxo da nebulosa invadindo os espaços e as imagens da nave em meio à nuvem cósmica terem algo que remente a uma viagem lisérgica e a montagem constantemente inserindo fragmentos de memória do personagem dá a impressão de que estamos navegando por seu subconsciente. O design de produção é outro acerto, com os espaços apertados da nave ajudando na sensação de isolamento e claustrofobia do protagonista, ajudando a entender porque ele está em uma situação tão frágil psicologicamente.

A questão é que conforme a narrativa se desenvolve as coisas vão ficando menos interessantes já que o filme começa a andar em círculos em suas ponderações sobre a condição humana que surgem dos diálogos entre Jakub e Hanus. Ao explorar o afastamento de Jakub e a esposa, fica óbvio desde o início que chegaremos a conclusão de que o protagonista empreendeu essa longa viagem espacial como uma fuga para encarar seus problemas matrimoniais. Esse entendimento é construído em cima de platitudes sobre a necessidade humana de conexão que nunca vão além da superfície. A narrativa ainda tenta falar da relação de Jakub com o pai e dos processos políticos da República Checa para se tornar um país independente e sair da influência da Cortina de Ferro soviética, mas é tudo tão rápido que acaba não fazendo muita diferença para a trama e tem muito pouco a dizer sobre esses temas complicados de política.

Sandler é competente em demonstrar o cansaço e senso de isolamento de Jakub, enquanto Paul Dano entrega uma performance vocal como Hanus que consegue soar simultaneamente bizarra e amigável. O resto do elenco, porém, não tem muito o que fazer. Carey Mulligan fica presa ao papel da esposa amargurada enquanto Isabella Rossellini é completamente desperdiçada como a comandante da missão que tenta apaziguar os ânimos entre Lenka e Jakub para garantir o bem estar do astronauta e da missão.

Assim, apesar de um começo promissor e inicialmente apresentar boas ideias embaladas em um senso instigante de bizarrice, O Astronauta acaba decepcionando por sua exploração superficial do isolamento e das relações humanas.

 

Nota: 5/10


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