É uma trama que transita entre comédia, drama, terror e surrealismo, com muito do que sustenta essa variação sendo a performance de Nicolas Cage. Logo quando conhecemos Paul o vemos como um sujeito pacato e relativamente patético, exemplificado na cena em que ele cobra de outra acadêmica os créditos por um termo que ele crê ter cunhado. A cena em questão nos mostra o anseio do personagem ao mesmo tempo em coloca algo de ridículo no modo como ele parecer exigir do mundo algum reconhecimento. Conforme a trama progride e a fama passa a ser um fardo para Paul e sua família, Cage transita entre a dor e a frustração de ver que nem assim suas ambições irão se realizar.
Já as cenas de sonho permitem uma atmosfera de estranhamento, com muitos deles sendo Paul caminhando a esmo em meio a algum desastre, construída tanto pelas imagens surreais apresentadas quanto pela esquisitice da performance de Cage. O ator também exercita performances de terror conforme as pessoas começam a ter pesadelos com Paul e o filme nos mostra essas imagens de Paul matando de maneiras extremamente cruéis.
De início toda essa ideia curiosa de um sujeito comum habitando os sonhos das pessoas parece ser uma maneira de falar sobre inconsciente coletivo e como projetamos para o mundo nosso próprio inconsciente. A partir do momento que Paul se torna uma celebridade o tema parece ser o da fama. O filme então usa a história de Paul para ponderar como os fenômenos midiáticos tem um ciclo cada vez mais veloz e curtos, com alguém se tornando um fenômeno cultural do dia para noite e rapidamente cansando as pessoas que se tornam fartas dele e o descartam como se não fosse nada. Em meio a isso a trama também tenta falar sobre cultura do cancelamento, conforme as pessoas começam a ter pesadelos violentos com Paul e ele se torna um pária.
A questão é que a partir do momento que o filme abandona essas facetas mais surreais para usá-las como metáforas para a cultura midiática contemporânea, a produção não tem muito a dizer além dessas constatações óbvias de que elevamos pessoas comuns à fama só para derrubá-las depois e extrair algum tipo de catarse desse julgamento coletivo de internet. Posteriormente a trama também tenta explorar como essa cultura midiática tenta transformar tudo em produto, apresentando o bizarro aparato que permite inserir publicidades nos sonhos das pessoas. É uma ideia promissora, mas que a narrativa infelizmente nunca desenvolve a contento.
Assim, O Homem dos
Sonhos chama a atenção por sua atmosfera surrealista e imagens bizarras que
são elevadas pelo comprometimento de Nicolas Cage em levar seu personagem a
múltiplas direções, mas sua trama nem sempre aproveita o potencial da premissa
que constrói.
Nota: 7/10
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