Muito do humor vem do contraste entre a voz grave e áspera da narração de Benjamin e o total absurdo que acontece ao seu redor. A narração serve para entendermos o que se passa na cabeça do protagonista, mas o modo sério com o qual ele pensa sobre si mesmo sempre esbarra na maluquice que toma sua jornada de vingança ou na sua incompreensão do que o cerca, a exemplo do momento em que tenta ler os lábios de um sujeito falando um idioma diferente e tudo que a voz consegue transmitir é uma série palavras aleatórias sem sentido.
Sempre que o filme parece aderir aos clichês de uma trama de vingança, ele os expõe ao ridículo. Um exemplo são os constantes flashbacks que o protagonista tem com a irmã falecida. Ao invés de servirem para construir o personagem como uma alma atormentada, esses momentos são usados como galhofa, com a garota dando dicas pouco úteis, desviando ele em digressões ou contribuindo para a atmosfera aloprada do longa ao aparecer fantasiada de ninja com asas de borboleta.
A ação é veloz e sangrenta, mas sua violência está mais próxima de um exagero cartunesco do que uma busca por realismo. Com uma câmera sempre em movimento, a ação transmite a energia insana do protagonista que elimina sem dó os vários capangas que passam por seu caminho, provocando risos com o exagero de algumas mortes. A ação diverte também por sua criatividade nas situações que propõe, como o embate com mascotes de uma marca de cereal, ou das lutas em si, como no momento em que o protagonista luta com um ralador de queijo e usa o utensílio para esfolar a pele dos inimigos.
A despeito de todo o ritmo insano, o filme cai na besteira
de se levar a sério durante o clímax, deixando de lado a narração de H. Jon
Benjamin e tentando construir um drama genuíno ao redor da vingança e relações
familiares do personagem. Como tudo até então vinha sendo desenvolvido como
galhofa, a tentativa de criar um envolvimento dramático não funciona.
Reviravoltas previsíveis como a revelação envolvendo June27 (Jessica Rothe de A Morte Te Dá Parabéns) também
contribuem para que a tentativa de um clímax mais sério não tenha muito
impacto. Não é o bastante, porém, para impedir que Contra o Mundo seja uma aventura caótica e divertida por conta de
seu senso de humor singular e ação sangrenta.
Nota: 7/10
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