A trama se passa mais de duzentos anos depois que uma guerra nuclear dizimou o planeta. Parte da humanidade passou a viver em refúgios, abrigos subterrâneos protegidos da radiação da superfície. Os habitantes desses refúgios esperam a queda na radiação para voltar a habitar a superfície, que se tornou um deserto povoado por criaturas mutantes e saqueadores violentos. No centro da narrativa está Lucy (Ella Purnell), uma habitante do refúgio 33 que precisa se aventurar na superfície depois que seu pai é sequestrado por saqueadores.
A série transpõe com muita fidelidade a estética presente nos games que mescla referências dos anos 50 com elementos de futurismo, criando uma espécie de “futuro analógico”. O clima dos games, de um ermo hostil no qual diversas facções lutam por poder e dominação também está presente, com algumas dos principais grupos dos games aparecendo ao longo desta primeira temporada.
Por outro lado, a trama não apresenta nada de muito diferente do que já vimos em outros cenários apocalípticos. Vemos uma protagonista ingênua adentrar em um espaço implacável, aprendendo a navegar por seus perigos, uma narrativa sobre como a humanidade recorre à barbárie quando não há lei e como o ser humano é mais perigoso do que qualquer mutante radioativo. Sim, tudo isso já estava nos games, mas é um daqueles casos em que a influência de Fallout inspirou tantos produtos que quando o próprio é levado as telas ele não parece ter algo muito diferente a oferecer, algo similar ao que aconteceu com produções como John Carter (2012) ou o live action de Ghost in the Shell (2017).
Entre os personagens quem se destaca é Lucy, cujo otimismo inabalável inicialmente soa como uma repetição vazia da doutrinação sob a qual ela cresceu no refúgio, mas conforme ela se aventura pelos ermos a personagem demonstra uma crença verdadeira nesses valores, evitando se deixar corromper (pelo menos até aqui) pela brutalidade desse espaço. Seu otimismo nunca soa como uma ingenuidade maniqueísta, mas fruto de seu olhar crítico sobre o mundo e de um esforço genuíno de melhorar as coisas. Não à toa, ela sempre busca aprender sobre o mundo para tentar encontrar o melhor curso de ação.
O arco de Cooper (Walton Goggins), por sua vez, ajuda a entender como esse universo se tornou a ruína que conhecemos, ilustrando o clima de pânico moral e totalitarismo corporativo que tomava os Estados Unidos pré guerra. Se nos jogos conhecemos o passado por peças de propaganda ideológica que fazem tudo parecer idílico e perfeito, a série mostra o lado sombrio dessa suposta “era dourada”. O necrótico interpretado por Goggins diverte pelo modo como evoca heróis de antigos westerns, basicamente agindo como um Clint Eastwood mutante que caminha pelos ermos fazendo justiça segundo seu código moral particular.
A ação reproduz a violência dos games, que mostra o poderio absurdo das armas futuristas e transforma as vítimas em sacos de carne que explodem em mil pedaços com o impacto de tiros ou golpes de armaduras tecnológicas. Em alguns momentos essa sanguinolência exagerada acaba sendo fonte de humor, mostrando o absurdo do cotidiano violento dos ermos.
A primeira temporada de Fallout
exibe uma reprodução fiel do universo dos games e se sustenta por essa
construção visual e pelo carisma de alguns personagens, já que a trama em si
não faz nada de muito diferente do que já vimos em ambientações similares.
Nota: 7/10
Trailer
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