A trama começa em 2010, quando Andrew (Rufus Sewell) foi fotografado em público ao lado do bilionário que já era alvo de denúncias. Anos depois Epstein é preso por tráfico de menores e se suicida sob circunstâncias misteriosas na prisão. A relação entre o ricaço e o príncipe volta a ser discutida pela mídia britânica e o programa Newsnight da BBC decide tentar agendar uma entrevista com o arredio príncipe, recorrendo principalmente à produtora Sam McAllister (Billie Piper) e a âncora Emily Maitlis (Gillian Anderson).
O filme detalha todo o processo de negociação da entrevista e como os repórteres tentam convencer a assessoria de Andrew de que ele teria amplo espaço para falar. A equipe da BBC faz isso não por leniência, mas por saber que se deixar o príncipe falar livremente, será mais fácil ele cair em contradição do que simplesmente pressioná-lo e arriscar que ele deixe de responder. Do mesmo modo, vemos como as duas equipes, tanto a de repórteres da BBC, quanto os assessores do príncipe se preparam para a entrevista, se preocupando com o peso de cada palavra dita.
Digo os assessores porque o Andrew parece alienado demais da vida comum e do que a população pensa a seu respeito para encarar a entrevista com a gravidade que ela merece. Durante a preparação para entrevista ele suspira e se debate a cada objeção feita pela equipe por suas péssimas escolhas de linguagem como se ele fosse uma criança recebendo uma reclamação injusta da mãe, falhando em entender como cada palavra importa. Essa imaturidade se mostra também na linguagem infantilizada com a qual se refere à rainha, falando de Elizabeth com o palavreado que uma criança pequena usaria para mencionar a mãe ou no apego que o príncipe tem com sua coleção de bichinhos de pelúcia. Andrew é menos um sujeito ardiloso e escorregadio e mais um playboy tolo superprotegido, imaturo, inseguro e ególatra que vê na entrevista não o óbvio risco que os assessores enxergam, mas uma chance de finalmente ser ouvido e aceito pelo povo.
Rufus Sewell vende bem a falta de noção de Andrew e sua leitura paupérrima da realidade a sua volta, principalmente durante a entrevista, quando seus assessores tentam interferir sempre que ele dá uma resposta prejudicial e o príncipe pede para que eles se afastem, agindo como se a entrevista estivesse sendo um sucesso para ele. Ainda que seja uma representação fidedigna da entrevista que foi exibida na televisão, isso faz o clímax do filme não exibir nenhum senso de drama ou risco, já que Andrew se enrola sozinho e cai facilmente em todos os ardis de Emily, não havendo um embate astuto como em Frost/Nixon, por exemplo. O filme consegue imprimir mais tensão durante as negociações para a entrevista do que a entrevista em si.
Ainda assim, o clímax funciona por desnudar a soberba de uma
realeza que se crê infalível, acima da lei e plenamente amado por sua
população. Não é a toa que o filme mostra Andrew saindo nu da banheira para
assistir a entrevista na televisão, uma metáfora visual de como ele, naquele
momento, estava plenamente exposto para a nação em todas as suas falhas, vícios
e conduta ridícula. É, talvez, o único momento mais visualmente criativo do
longa, já que todo o restante é bem quadrado e protocolar em suas escolhas de
encenação. Ainda assim, A Grande
Entrevista vale pelo modo como detalha o processo jornalístico de se
aproximar de uma fonte hostil e conseguir extrair informação dela.
Nota: 6/10
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