terça-feira, 30 de abril de 2024

Crítica – Love Lies Bleeding: O Amor Sangra

 

Análise Crítica – Love Lies Bleeding: O Amor Sangra

Review – Love Lies Bleeding: O Amor Sangra
A máxima de que o amor nos leva a cometer as maiores loucuras é levada aos extremos mais violentos neste Love Lies Bleeding: O Amor Sangra conforme as duas protagonistas tentam proteger uma a outra e terminam por se envolver em mais crimes a cada nova tentativa. A narrativa se passa na década de 80 e é focada em Lou (Kristen Stewart), uma jovem solitária que trabalha em uma academia e se apaixona pela fisiculturista Jackie (Katy O’Brien). Lou tem uma relação ruim com o pai, também chamado Lou (Ed Harris), que é um importante traficante de armas da região e com quem Jackie vai trabalhar como garçonete em seu bar sem saber inicialmente o quanto ele é perigoso ou o parentesco dele. Expulsa de casa e viajando a esmo pelo país enquanto tenta competir em um torneio de fisiculturismo em Las Vegas, Jackie passa boa na academia em que Lou trabalha e as duas começam a se aproximar.

É curioso que apesar de ser um romance queer passado na década de 80, a homofobia é o menor dos problemas que essas personagens enfrentam, Mesmo o pai criminoso de Lou parece não se importar com o fato dela “gostar de garotas” e como ele é um criminoso conhecido isso dá a ela certa proteção. É uma maneira de não reduzir as experiências queer a uma existência de apenas lidar com o preconceito e explorar outras histórias que podem ser contadas com esses personagens.

A trama começa estabelecendo a solidão e vulnerabilidade das duas personagens, nos fazendo ver o que elas tem em comum e porque elas se atrairiam uma pela outra apesar de serem diferentes. Quando elas se encontram e vão para cama pela primeira vez, o filme deixa evidente a química e a conexão física intensa entre as duas. Closes mostram as veias no braço de Jackie saltando e seus músculos inchando enquanto elas transam. É uma imagem de caráter surrealista que vai ser usada algumas vezes para transmitir como Lou a vê e o fascínio e excitação que Jackie desperta nela e em si mesma.

Se Jackie é uma personagem mais afeita a externar o que sente, com sua fisicalidade impositiva deixando claro que ela faz o que quer, quando quer, sem pensar muito no que vem depois, Lou é mais introspectiva. Com um mullet desgrenhado e camisetas surradas, Stewart faz de um Lou uma caipira decadente, sem perspectiva e com uma raiva contida do pai e da ausência da mãe, cuja real razão por seu sumiço ela sabe, mas prefere não confrontar. É alguém que na confiança de Jackie um senso de liberdade que talvez nunca tenha experimentado, mas que logo irá aprender que viver como bem entende pode trazer problemas, principalmente no cotidiano de violência envolvendo o pai de Lou.

As coisas se complicam quando Jackie decide dar uma lição no violento cunhado de Lou, JJ (Dave Franco), por espancar a esposa, Beth (Jena Malone). Tudo sai do controle e termina de maneira brutal, acidentalmente envolvendo Jackie e Lou nos crimes do pai dela e gerando uma bola de neve de crimes e reações inesperadas que vão tornando as coisas cada vez mais tensas. A violência é retratada de maneira crua, com a imagem da cabeça despedaçada de JJ e outras instâncias de brutalidade sendo visualmente impactantes. Ela também é retratada em rompantes rápidos, com as consequências rapidamente se impondo diante das personagens.

Incomoda um pouco como a trama tenta colocar as ações violentas de Jackie como um momento de raiva descontrolada causada pelo uso de anabolizantes porque simplifica a personagem (a conversa dela no telefone com a mãe dá a entender que ela já fazia coisas assim antes) e também vira uma muleta conveniente da narrativa toda vez que precisa dar uma guinada inesperada. Ainda assim a narrativa usa os vários momentos de violência para explorar a dinâmica entre as duas personagens, mostrando como Lou e Jackie são ideais uma para outra por se completarem e por entenderem o senso de isolamento e busca de propósito vivenciado pela outra. Ao mesmo tempo, a trama pensa nos modos como elas são tóxicas uma para a outra por conta de toda bagagem emocional e de vida extremamente problemática que trazem para o relacionamento e que as impele de agir de maneira autodestrutiva prejudicando a outra.

É uma dinâmica estranha e o filme reconhece isso nas imagens bizarras que transmite a partir do que parece ser um mergulho na subjetividade das duas, como o delírio de Jackie durante a competição em que ela “vomita” Lou ou quando Lou vai enfrentar o pai e vê uma Jackie gigante chegando para protegê-la. Esse surrealismo ilustra o que se passa nas mentes dessas personagens e o senso de conexão ou desconexão que elas entre si.

Repleto de uma sexualidade intensa e uma violência impactante, Love Lies Bleeding: O Amor Sangra apresenta um estudo de personagem que mostra os extremos do amor nas maneiras em que ele nos eleva e nos machuca.

 

Nota: 8/10


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