A trama se passa na década de 60. Tom Ripley (Andrew Scott) é um jovem que vive de pequenos golpes até ser chamado por rico construtor de navios que pensa que Ripley é muito próximo de seu filho, Dickie (Johnny Flynn). O pai de Dickie quer que Ripley vá atrás de Dickie na Itália e o traga de volta, já que Dickie deve deixar sua vida de playboy e retornar aos EUA para assumir os negócios da família. Chegando na Itália Ripley se encanta pelo estilo de vida luxuoso e despreocupado de Dickie, mas o ricaço logo fica entediado com o amigo carente, tentando mandá-lo embora. Ripley acaba matando Dickie e decide tomar sua identidade, mas a namorada de Dickie, Marge (Dakota Fanning), e a polícia italiana estão em seu encalço.
De início chama atenção que Andrew Scott e os demais membros do elenco sejam bem mais velhos do que deveriam, já que os personagens têm cerca de vinte e poucos anos na narrativa original. Com o tempo isso se torna uma questão menor, já que Scott e os demais são bons o suficiente para relevarmos essa discrepância. Scott traz um senso de solidão a Ripley, alguém que viveu sozinho tempo demais, se reprimiu demais e foi rejeitado vezes demais para se apegar a qualquer que lhe dê alguma atenção, como o caso de Dickie. Scott, porém, evidencia também um lado ególatra em Tom, no desejo de ser aceito, admirado e no modo como ele rechaça qualquer um que tente tirar o foco dele, a exemplo de quando Dickie o leva para conhecer Freddie (Eliot Sumner), seu outro amigo na Europa.
Essa mescla de sentimentos, somada à falta de escrúpulos do personagem em fazer o que for preciso para conseguir o que quer, é o que move Ripley a matar Dickie, não aceitando ser descartado pelo amigo que se tornou alvo de sua obsessão e também vendo todo o prospecto de uma vida de luxo se esvair instantaneamente. A astúcia de Ripley é bem ilustrada em todo o tenso jogo de gato e rato entre ele, os amigos de Dickie e a polícia local, alternando entre sua identidade e a de Dickie para esconder o fato de que o amigo está morto e tirar as suspeitas sobre si.
Scott é auxiliado por um hábil elenco coadjuvante, com Johnny Flynn evocando a natureza hedonista e despreocupada de Dickie, também trazendo um ar de mistério que explica seu magnetismo pessoal. Flynn faz dele um sujeito sem muitas preocupações e que vê o mundo e as pessoas à sua volta como um meio de extrair prazer e satisfação pessoal, se entediando assim que deixa de se divertir e descartando qualquer um que se torne um tédio ou desinteressante a seus olhos.
Dakota Fanning traz a Marge uma nuance que o livro e outras versões da personagem raramente exibem. Ela claramente está com Dickie por apreciar as facilidades de seu estilo de vida, mas a personagem também demonstra uma ciência de que Dickie a vê como uma diversão temporária enquanto ela nutre sentimentos mais intensos por ele. Essa discrepância afetiva motiva muito da insegurança quanto ao relacionamento e a faz exibir uma vulnerabilidade e insegurança depois que Dickie some, como se ela não soubesse quem é sem ele. Outro destaque é o trabalho de Maurizio Lombardi como um detetive italiano sem papas na língua, cujos modos secos e astúcia o fazem ser um oponente a altura para o ardiloso Ripley. Por outro lado Eliot Sumner é bem unidimensional como Freddie, não conseguindo ir além da postura de esnobe intransigente e falhando em trazer a fisicalidade impositiva do personagem que o tornavam inicialmente uma ameaça aos esquemas de Tom.
Zaillian conduz a trama sem pressa, com um ritmo bastante deliberado, cozinhando as tensões em fogo baixo até elas se tornem sufocantes nos últimos episódios. Não é uma trama que traz ganchos no fim de cada episódio e tensões explosivas a cada minuto. A tensão é mais subjacente, implícita, construída nos pequenos gestos e inflexões de linguagem de cada personagem quase como uma esgrima verbal em que eles vão medindo com cuidado seus oponentes para decifrar suas reais intenções e qualquer descuido pode significar a perdição.
A série é toda filmada em preto e branco, com a escolha inicialmente me causando estranhamento. Conforme a série avança a decisão se apresenta como um meio de evocar o cinema italiano da década de 60 (tanto que o quarto episódio se chama La Dolce Vita) e também a arte de Caravaggio, com o pintor sendo citado inúmeras vezes pela trama e o tenebrismo no uso de luzes e sombras de suas pinturas sendo bastante explorado pela fotografia.
Pode ser que a cadência mais lenta não agrade a todos, mas Ripley é uma competente adaptação da
obra de Patricia Higsmith por conta da direção precisa de Steven Zaillian e da
nuance que o elenco traz a seus personagens.
Nota: 9/10
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