A trama conta como Furiosa (Anya Taylor-Joy) foi sequestrada de seu lar, uma terra de abundância governada por mulheres em meio ao deserto estéril que o mundo se tornou, pelo caótico Dementus (Chris Hemsworth). Jurando vingança contra o vilão que lhe tirou tudo, Furiosa se torna soldado do cruel Immortan Joe (Lachy Hulme) para tentar destruir Dementus.
Tal como em Mad Max: Estrada da Fúria a força da trama contada por Miller reside mais na construção das imagens do que em diálogos. Os temas, as emoções e os significados são mais transmitidos via a construção visual do que através de falas dos personagens. Há uma clara oposição entre o verde saturado da terra de abundância das Vuvalini e os causticantes tons de laranja que dominam o deserto governado por homens violentos como Dementus e Joe. O mundo das mulheres é um mundo de verde, de cuidado, de preservação, vida e coletividade, o mundo dos homens é cruel, estéril, bruto, sem esperança onde apenas a morte prospera. Essa metáfora visual permanece até o fim quando Furiosa planta dentro de um inimigo a semente que recebeu de sua mãe, mostrando como a vida pode crescer através da destruição dessa lógica masculina violenta e a necessidade de derrubar essa lógica para reavivar um mundo devastado.
Do mesmo modo figurinos e adereços ajudam a contar as histórias dos personagens e refletir seus estados de ânimo sem que muito seja dito. O ursinho de pelúcia que Dementus sempre carrega consigo inicialmente parece apenas uma peculiaridade inconsequente, mas ao sabermos que pertencia aos filhos dele que morreram após a calamidade que devastou o mundo, passamos a ver o vilão não como um sujeito que sempre foi sádico e violento, apenas aproveitando a falência da humanidade para ceder aos seus piores impulsos e sim como alguém que cedeu à loucura, caos e desesperança de um mundo que lhe tirou tudo. Nesse sentido, como fica evidenciado no embate final entre ele e Furiosa, Dementus representa o que Furiosa pode se tornar caso não tenha outra coisa pelo que viver que não a vingança e a violência.
Com poucos diálogos, cabe ao elenco usar o corpo para transmitir o que se passa com os personagens. Os olhos expressivos de Anya Taylor-Joy nos fazem sentir a obstinação raivosa da protagonista, bem como a dor ainda presente da perda da mãe e do seu lar. O sentimento que Furiosa tem pelo pretoriano Jack (Tom Burke) é percebido pelos gestos, pelos toques e olhares, nos fazendo entender o que eles significam um para outro sem qualquer declaração explícita de afeto ou mesmo de um beijo, já que não há espaço para tal coisa em um universo tão brutal.
A ação é tão intensa quanto em Estrada da Fúria, com perseguições caóticas que empolgam pela energia de sua condução e também pela capacidade de fabulação que o filme traz a esses combatentes do apocalipse. Na primeira vez que Furiosa coopera com Jack, acompanhamos a dupla defendendo um dos veículos de Immortan Joe de um insistente ataque de saqueadores que vem por todas as direções, usando desde motos, a pessoas sendo puxadas por paraquedas para atacar por cima. O que impressiona, além da criatividade desses dispositivos e armas improvisadas desse universo apocalíptico, é como muito disso é realizado com dublês e efeitos práticos, recorrendo a computação gráfica só quando é realmente necessário.
A ação se beneficia também dos longos planos-sequência (e de uma montagem que constrói a ilusão de planos-sequência em alguns momentos) para dar a impressão de que estamos acompanhando toda aquela perseguição, com pessoas se deslocando em cima de um caminhão ou pulando de um carro para o outro, em tempo real. A sensação é que aquilo estivesse acontecendo quase que de verdade diante de nós, ampliando o senso de urgência e perigo daqueles embates.
Furiosa: Uma Saga Mad
Max entrega ação tão intensa quanto a jornada emocional de sua protagonista
em mais uma corrida caótica e brutal conduzida por George Miller.
Nota: 9/10
Trailer
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