segunda-feira, 6 de maio de 2024

Crítica – Godzilla Minus One

 

Análise Crítica – Godzilla Minus One

Review Crítica – Godzilla Minus One
Quando se fala em filmes do Godzilla, muita gente lembra dos momentos mais farofa que se tornaram memes, como a imagem da criatura dando uma voadora em um monstro inimigo. A verdade, porém, é que o primeiro filme do Godzilla lançado em 1954 era uma produção séria que usava a criatura como um meio para expor o luto e o temor de um Japão arrasado pelas consequências das duas bombas atômicas disparadas contra o país. Quase 70 anos depois de sua origem, Godzilla Minus One devolve o rei dos monstros ao seu contexto original de um Japão pós Segunda Guerra para falar sobre os traumas desse período.

O filme se passa em 1947 com um Japão ainda se recuperando da guerra. Um país destruído, sem exército ou apoio internacional tendo que lidar com a ameaça atômica de Godzilla. O protagonista é Koichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki) um piloto kamikaze que, nos momentos finais da guerra, fingiu um problema mecânico em seu avião para evitar a missão suicida que lhe foi dada. Ele volta para encontrar sua cidade em ruínas, seus vizinhos o repudiam por sua desonra de não levar a cabo sua missão e ele próprio se despreza por ter fugido da guerra.

É um personagem que representa o senso de fracasso moral do povo japonês no pós-guerra ao ver seu país devastado em uma guerra na qual foram massacrados e quem sobreviveu não sabe que rumo tomar. Os primeiros minutos são dedicados a mostrar Shikishima e seus vizinhos reconstruindo aos poucos seu bairro e tentando voltar a algum senso de normalidade mesmo em meio a uma paisagem que ainda carrega consigo o passado recente da guerra. Vemos isso no trabalho que o protagonista arruma em um barco que limpa minas no oceano, mostrando que os perigos da guerra ainda se fazem presentes.

Em seu cotidiano no barco, Shikishima e os amigos conversam sobre suas experiências no período de guerra, debatendo a força do pacismo, a importância de sobreviver e as pressões injustas que governos colocam em seus cidadãos durante períodos de conflito. São reflexões que mostram o comprometimento do filme em analisar as feridas abertas da guerra e como isso estava presente na população do período, nunca reduzindo sua escolha de ambientação a um mero pano de fundo.

Quando Godzilla entra em cena, sua presença e as cenas de destruição são menos para produzir um espetáculo e mais para provocarem temor. A criatura é usada como uma representação de um ataque atômico que vem inesperadamente e deixa uma devastação tão grande que faz todos ficarem sem rumo e sem esperança. O impacto das cenas de destruição vem não apenas do apuro visual que mostra em detalhes as consequências da devastação, não sendo a toa que o filme recebeu um Oscar de efeitos visuais, impressionando não apenas pela construção dessas cenas, mas por ter custado um décimo do valor de blockbusters hollywoodianos que não chegam nem perto de provocar o impacto emocional que esse filme causa. Parte do nosso envolvimento também vem do filme ter dado tempo para desenvolver seus personagens e a relação deles com o lugar onde vivem, nos fazendo nos importar com seus dramas e entender o peso que essa devastação causa neles.

Se as produções do Monsterverse da Warner (com exceção da série Monarch) muitas vezes perdem tempo com personagens humanos vazios e nunca conseguem nos dar a sensação de que há um risco direto para eles, aqui o filme consegue muito bem criar um senso de que há algo em jogo para esses personagens. Assim, cada prédio devastado, cada grupo de cidadãos em fuga esmagados por escombros ou sob as patas de Godzilla é sentido como uma perda impactante. A criatura é um monstro apavorante por sua capacidade de destruição e aparente invencibilidade. Cada vez que ele usa seu sopro atômico e reduz a pó tudo em sua trajetória, ele reaviva o trauma daquela população com as bombas. São momentos feitos para serem aterradores, para mostrar a fragilidade e insignificância da humanidade diante do poder do átomo. Mesmo que muito do filme seja focado nos personagens humanos, a narrativa faz valer cada aparição do Godzilla em sequências impactantes que nos lembram do quão temível a criatura pode ser.

Ao retornar o monstro a suas origens no pós guerra, Godzilla Minus One entrega um dos melhores filmes da franquia equilibrando um consistente drama humano com impactantes cenas de destruição.

 

Nota: 8/10


Trailer

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