A trama é protagonizada por Maxine (Kristen Wiig), uma ex-miss que sonha em entrar para o Palm Royale, o clube mais elitizado e seleto da Flórida. Sua chance vem quando Norma (Carol Burnett), a tia rica de seu marido tem uma embolia, deixando Maxine e o marido, Douglas (Josh Lucas), no controle dos bens dela por serem os únicos parentes vivos. Usando a riqueza de Norma, Maxine tenta entrar de qualquer jeito no mundo da alta sociedade e no clube Palm Royale.
A narrativa funciona como uma comédia de erros, com Maxine se metendo em vários problemas por sua falta de noção e desejo cego de ser aceita, mas conseguindo sair por cima graças à pura sorte ou ao seu otimismo ingênuo diante das dificuldades. Apesar de ser uma alpinista social disposta a qualquer coisa para ser aceita, o modo como a ingenuidade dela contrasta com a malícia, o veneno e a manipulação das demais dondocas ao seu redor acaba nos fazendo torcer por ela. Maxine não é exatamente uma boa pessoa, afinal está depenando o patrimônio da tia em estado vegetativo para conseguir ganhos pessoais, mas ao menos ela é honesta em relação à sua trambicagem e não tenta passar uma imagem de moralmente superior. Talvez seja essa sinceridade em um mar de falsidade que eventualmente faz o garçom Robert (Ricky Martin), cuidador de Norma, eventualmente ajudar Maxine.
Enquanto Wiig diverte pela falta de noção de sua protagonista o resto do elenco devora o cenário como socialites venenosas e playboys trambiqueiros. Allison Jenney é puro veneno como a maliciosa Evelyn, uma socialite que tenta aproveitar o vácuo deixado por Norma para virar a nova rainha da alta sociedade. Leslie Bibb faz Dinah, uma alpinista social que casa por dinheiro, mas trai o marido com o instrutor de tênis. Josh Lucas exala cafajestice como o marido bon vivant de Maxine, um sujeito que paga de bom moço, mas quer mesmo é curtir e ganhar dinheiro fácil. Já Laura Dern é Linda, uma hippie que usa a fortuna do pai para financiar um coletivo feminista. Isso sem mencionar o trabalho divertidíssimo de Carol Burnett, que passa boa parte da série vegetando como Norma, mas deixa claro como a personagem se sente com as hilárias caras e bocas que sua personagem faz diante dos movimentos limitados que tem.
São personalidades histriônicas, exageradas, que tratam qualquer festa ou jantar da alta sociedade como questão de vida ou morte e não hesitam em mentir ou trapacear para ganharem visibilidade. Apesar da caricatura, a trama investe essas personalidades de humanidade suficiente para que entendamos de onde elas vêm e o que as motiva, evitando que se tornem decalques inanes como outras produções sobre a hipocrisia da alta sociedade, como Triângulo da Tristeza (2022). Igualmente exageradas são as situações que a série coloca na trama, de uma baleia encalhada impedindo a realização de uma festa a uma tentativa de assassinato a Richard Nixon a impressão é que a série está sempre em busca de uma nova guinada absurda ou grandiloquente.
Quanto mais Maxine força para ser aceita, mais ela acaba esgarçando a fina costura que mantem inteiro aquele mundo de mentiras e hipocrisias. Não que ela queira prejudicar ninguém, pelo contrário, quanto mais ela sabe a respeito de Norma manipular a alta sociedade com chantagens sobre os segredos que ela guarda, mais Maxine tenta eliminar essa necessidade de manipulação e chantagem. O problema é que uma vez que ela remove os segredos, os falsos moralismos, a hipocrisia, não há muito mais naquelas pessoas. São justamente os segredos e as trapaças que mantem tudo aquilo funcionando, mas Maxine crê nas imagens romantizadas que tem daquelas pessoas até praticamente o último momento.
É só no episódio final, quando descobre as traições do marido e que até mesmo Norma, a quem idealizava, conquistou sua posição social na base da trapaça e da mentira, é que ela finalmente vê que tudo não passava de sombras na parede. “É só isso?” diz ela no que deveria ser seu grande discurso para a alta sociedade, incrédula que sacrificou tanto para ter a aprovação de pessoas tão simplórias, provincianas e alpinistas sociais como ela própria. O deslumbre dá lugar a amargura conforme ela resolve expor os segredos das principais figuras da sociedade, desfazendo todos os fios de mentiras e hipocrisias que mantinham tudo funcionando e irremediavelmente tornando impossível as coisas se manterem como estão.
Se antes ela achava que destruir a agenda de Norma que continha todos os segredos era a maneira de tirar o poder daquelas pessoas horríveis, ao final ela se dá conta de que expor todos os segredos era o verdadeiro meio de fazer isso. Essa ruptura com a lógica hipócrita culmina em uma tentativa fracassada de assassinar o presidente Nixon que é ironicamente impedida pela hippie Linda, mas o tiro acaba acertando em Robert, justamente o único sujeito bem intencionado em todo aquele ninho de víboras. O desfecho pode decepcionar alguns por não mostrar as consequências de todo o caos do baile, mas considero que amarra bem as principais ideias da série. Ele mostra como é impossível sobreviver nesse ambiente sem ser corrompido por ele, se desiludir com ele (como Maxine) ou ser destruído por ele (como Robert). Tudo que mantinha aquele mundo de pé foi devastado. A trama sempre girou em torno de Maxine abrir seu caminho à força naquele meio social, esgarçando o frágil equilíbrio daquele espaço e ao final, quando enfim conseguiu abrir um espaço para si, ela deixou tudo em pedaços ao mesmo tempo em que foi devastada por esse meio.
Claro, Palm Royale
não tem nada a dizer que já não tenha sido dito antes em termos de crítica
social ou em sua análise das hipocrisias de uma alta sociedade conservadora,
mas é bem conduzido em sua mistura de melodrama e sátira, elevada por um ótimo
elenco e um desfecho impactante.
Nota: 7/10
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário