quinta-feira, 2 de maio de 2024

Crítica – Tales of Kenzera: Zau

 

Análise Crítica – Tales of Kenzera: Zau

Eu adoro metroidvanias, mas o que me atraiu mesmo para Tales of Kenzera: Zau foi a ambientação que misturava fantasia e afrofuturismo para contar uma história inspirada em mitologias africanas. A narrativa acompanha Zau, um xamã que parte em busca de Kalunga, o deus da morte, para pedir de volta a alma de seu falecido pai. Para cumprir o desejo de Zau, Kalunga propõe um desafio: se Zau conseguir domar três poderosos espíritos que evadiram o deus da morte, Kalunga trará o pai dele de volta. Assim, o jovem xamã parte em uma jornada pela terra de Kenzera para cumprir a missão.

É uma narrativa sobre luto, a dificuldade de se despedir de pessoas amadas e lidar com sua ausência. Ao longo de sua jornada e em no contato com os espíritos fugitivos a trama nos lembra que a morte é parte natural de nossa existência e que se perder na negação, na raiva ou em outros estágios do luto é causar desarmonia na natureza. A ideia da morte como algo natural do ciclo da vida se verifica principalmente na construção de Kalunga, que é menos um ceifador digno de medo e mais um conselheiro benevolente preocupado com Zau. São temas que a trama lida com muita sensibilidade, com o diretor Abubakar Salim construindo a narrativa a partir de sua experiência real de lidar com a morte do pai. Ao longo das cerca de oito horas de jogo (tempo que levei para completar a história e coletar todos os colecionáveis) me peguei emocionado em vários momentos.

A jogabilidade se apoia em dois eixos principais, em elementos de plataforma e combate. A exploração e os segmentos de plataforma remetem a games como Ori and the Will of the Wisps, com Zau usando dashes aéreos, um gancho para se deslocar em certos pontos de contato ou a capacidade de planar. É tudo bem executado, mas o desafio fica restrito a alguns segmentos opcionais para obter novos talismãs que podem ser equipados em Zau. No caminho normal os segmentos de plataforma raramente oferecem algum desafio ou trazem algo de muito marcante como em Ori ou Hollow Knight. O que chama atenção na exploração é o visual dos espaços, que mistura mitologia africana com afrofuturismo, criando lugares e criaturas bastante singulares.

O principal problema da exploração é o modo como o jogo é pouco generoso com seus checkpoints e pontos de viagem rápida. Obrigando o jogador a perder um pedaço de progresso ao morrer em certos pontos ou a gastar muito tempo retornando a áreas anteriores para coletar os colecionáveis e upgrades de cada região. Felizmente o número de coisas a coletar é pequeno em relação a outros games do gênero, o que diminui a frustração.

O combate se constrói em cima das duas máscaras mágicas que Zau usa, uma com os poderes do sol e outra com os poderes da lua. Cada uma dá habilidades de combate diferentes ao personagem, sendo necessário alternar entre elas durante as lutas para explorar as fraquezas de cada inimigo ou desfazer seus escudos de proteção que só podem ser derrubados se atacados com um elemento específico. Apesar de não ter uma variedade muito grande de inimigos, cada adversário requer tácticas especificas e como o jogo tem um bom ritmo na introdução de novos adversários, habilidades e ferramentas, evita que as coisas fiquem entediantes. Vencer inimigos concede pontos de experiência que podem ser usado para melhorar os ataques do protagonista.

Apesar do combate e da exploração evocar um senso de agilidade e movimento constante, controlar Zau nunca dá a sensação de fluidez e precisão que o game requer. A impressão que a movimentação dele é mais rígida do que deveria e algumas habilidades, por conta dos frames de animação do movimento do personagem, demoram um pouco para responder o que pode ser letal em alguns segmentos avançados do jogo, causando algumas mortes frustrantes em que você falha não por uma falta de domínio nas mecânicas, mas porque ele não responde como deveria. O game também tem sua parcela de bugs, com Zau ficando parado por alguns segundos toda vez que abria um mapa ou algum menu e ocasionalmente ficando preso no cenário, em especial em superfícies inclinadas ou em algumas quinas.

Mesmo que sua jogabilidade não traga nenhuma grande inovação em relação a metroidvanias recentes, Tales of Kenzera: Zau vale pela força de sua narrativa e o impacto emocional trazido por sua reflexão sobre o processo de luto e nossa relação com a morte.

 

Nota: 7/10


Trailer

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