É uma narrativa que trata a ideia de concepção imaculada não como um milagre, mas como uma situação de horror na qual uma mulher perderia completamente a autonomia sobre o próprio corpo, sendo forçada a uma gravidez que não quis e tratada como um objeto, um mero receptáculo para o bebê por todos a sua volta. A noção do corpo de uma grávida como “propriedade coletiva” não é novidade no cinema horror, O Bebê de Rosemary (1964) já fazia isso muito bem. Filmes como o brasileiro As Boas Maneiras (2017) também já trabalharam a experiência de estar grávida como um horror corporal digno de David Cronenberg. Nesse sentido Imaculada não faz nada que já não tenha sido bem executado antes e não tem muitas questões novas a explorar no modo como pensa o comportamento da sociedade diante do corpo feminino.
Sim, é bem filmado, com algumas imagens marcantes, a exemplo do momento em que Cecilia vai a uma missa com uma coroa dourada e um manto azulado emulando a imagem de Maria, porém esse cuidado com enquadramento, luz ou uso de cor faz pouco para nos falar algo de novo ou interessante sobre os temais centrais. Sydney Sweeney traz com habilidade o desespero e o desemparo de alguém que é duplamente refém, tanto dos membros da igreja quanto da gravidez que lhe foi forçada. Toda essa dor, frustração e raiva é colocada para fora na cena final do parto. Com a câmera em um superclose de seu rosto e sem cortes, Sweeney nos traz a dor (física e psicológica) daquele momento e do seu desejo de finalmente ser ver livre de tudo aquilo, culminando em uma violenta catarse.
O principal problema, no entanto, é que o filme não parece
se decidir entre ser um terror mais atmosférico, investindo num clima constante
de apreensão, e um terror B com mortes, sangue e violência a rodo. Entre uma
coisa e outra acaba recorrendo muito a jumpscares
previsíveis que não assustam o que deveriam e só se sai melhor quando
abraça mais sua faceta de filme B durante o clímax. Uma pena que até então
temos que acompanhar uma produção incerta do que deseja ser, fazendo as
ponderações sobre autonomia corporal feminina nunca terem a contundência
desejada.
Nota: 5/10
Trailer
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