Lucy (Dakota Johnson) e Jane (Sonoya Mizuno) são melhores amigas desde sempre. Quando Jane está prestes a casar e se mudar para a Inglaterra, Lucy começa a pensar no que vai fazer sem a melhor amiga e como, ao contrário de Jane, nunca teve sucesso em seus relacionamentos com homens. Aos poucos Lucy começa a se dar conta de que sempre sentiu atração por mulheres e que sente algo pela colega de trabalho Brittany (Kiersey Clemons), mas tem dificuldade de aceitar isso e embarcar nesses sentimentos, temendo ser tarde demais para dar uma guinada na vida ou ser julgada pelos outros por não saber o que quer.
O filme é tanto sobre a autodescoberta de Lucy quanto sobre a amizade entre ela e Jane, tratando da co-dependência da dupla. A trama acerta ao equilibrar drama e comédia, nos fazendo sentir o peso das incertezas e dúvidas de Lucy e como a partida iminente da amiga abala ainda mais seu universo interno já fragilizado pela realização acerca de sua sexualidade. Vemos o quando Lucy e Jane apoiam uma a outra, mas também percebemos como a longa convivência as deixou incomodadas com as manias de cada uma, um incômodo que é ampliado pela ansiedade da separação iminente.
Muito dessa dinâmica de afeto e de tensões funciona pela química que Johnson e Mizuno tem juntas, convencendo de que são pessoas que se conhecem há tanto tempo que sabem exatamente o que dizer para magoar a outra ou do que a amiga precisa em um momento de crise. Do mesmo modo, Johnson estabelece uma tensão sexual bem perceptível com a personagem de Kiersey Clemons, desenvolvendo uma dinâmica de afeto e desejo que nos deixa curiosos para os rumos que a relação entre as duas irá tomar.
O texto é maduro o bastante para não oferecer resoluções fáceis ou simplórias demais para a jornada de Lucy, evitando desfechos de contos de fadas ou que romantizem demais a situação, entendendo que essa aceitação é algo em fluxo, um processo contínuo que caminha aos poucos e que não existe uma receita certa para fazê-lo.
Essa maturidade no modo como aborda as relações dos personagens é vista também na cena em que Lucy sai do armário para o amigo Ben (Whitmer Thomas), que claramente está apaixonado por ela. No início há uma clara hesitação por parte de Lucy em fazer essa revelação e a cena traz consigo alguma tensão conforme tememos a reação dele, uma tensão que é diluída com comédia conforme Ben se sente aliviado por finalmente entender o motivo de Lucy tratá-lo como tratava e que, por fim, termina aproximando os dois de certa maneira, algo simbolizado pelo fato deles se despedirem com um abraço ao invés de um aperto de mão.
Em meio a esses momentos eficientes de drama, o filme encontra espaço para uma comédia mais escrachada. Isso acontece principalmente nas interações entre as protagonistas e os personagens coadjuvantes, como o chefe excêntrico de Lucy interpretado por Sean Hayes ou a colega de trabalho maluca vivida por Molly Gordon (de Acampamento de Teatro e O Urso), além de uma ponta divertida da própria Tig Notaro como uma guru aloprada de um retiro espiritual que envolve o uso de redes.
Claro, a eventual reconciliação da amizade entre Lucy e Jane
é relativamente previsível, mas o caminho até lá é bem construído o suficiente
para envolver por conta do afeto e da sensibilidade que envolve as personagens.
Nota: 7/10
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