sexta-feira, 14 de junho de 2024

Crítica – Está Tudo Bem Comigo?

 

Análise Crítica – Está Tudo Bem Comigo?

Review – Está Tudo Bem Comigo?
Eu não tinha lá muitas expectativas para este Está Tudo Bem Comigo? Considerando que os últimos filmes que assisti protagonizados pela Dakota Johnson foram as bombas Persuasão (2022) e Madame Teia (2024). Esta comédia romântica dirigida pela comediante Tig Notaro e a esposa Stephanie Allyne, porém, me surpreendeu pela mistura agridoce com a qual desenvolve a jornada de autodescoberta e aceitação de sua protagonista.

Lucy (Dakota Johnson) e Jane (Sonoya Mizuno) são melhores amigas desde sempre. Quando Jane está prestes a casar e se mudar para a Inglaterra, Lucy começa a pensar no que vai fazer sem a melhor amiga e como, ao contrário de Jane, nunca teve sucesso em seus relacionamentos com homens. Aos poucos Lucy começa a se dar conta de que sempre sentiu atração por mulheres e que sente algo pela colega de trabalho Brittany (Kiersey Clemons), mas tem dificuldade de aceitar isso e embarcar nesses sentimentos, temendo ser tarde demais para dar uma guinada na vida ou ser julgada pelos outros por não saber o que quer.

O filme é tanto sobre a autodescoberta de Lucy quanto sobre a amizade entre ela e Jane, tratando da co-dependência da dupla. A trama acerta ao equilibrar drama e comédia, nos fazendo sentir o peso das incertezas e dúvidas de Lucy e como a partida iminente da amiga abala ainda mais seu universo interno já fragilizado pela realização acerca de sua sexualidade. Vemos o quando Lucy e Jane apoiam uma a outra, mas também percebemos como a longa convivência as deixou incomodadas com as manias de cada uma, um incômodo que é ampliado pela ansiedade da separação iminente.

Muito dessa dinâmica de afeto e de tensões funciona pela química que Johnson e Mizuno tem juntas, convencendo de que são pessoas que se conhecem há tanto tempo que sabem exatamente o que dizer para magoar a outra ou do que a amiga precisa em um momento de crise. Do mesmo modo, Johnson estabelece uma tensão sexual bem perceptível com a personagem de Kiersey Clemons, desenvolvendo uma dinâmica de afeto e desejo que nos deixa curiosos para os rumos que a relação entre as duas irá tomar.

O texto é maduro o bastante para não oferecer resoluções fáceis ou simplórias demais para a jornada de Lucy, evitando desfechos de contos de fadas ou que romantizem demais a situação, entendendo que essa aceitação é algo em fluxo, um processo contínuo que caminha aos poucos e que não existe uma receita certa para fazê-lo.

Essa maturidade no modo como aborda as relações dos personagens é vista também na cena em que Lucy sai do armário para o amigo Ben (Whitmer Thomas), que claramente está apaixonado por ela. No início há uma clara hesitação por parte de Lucy em fazer essa revelação e a cena traz consigo alguma tensão conforme tememos a reação dele, uma tensão que é diluída com comédia conforme Ben se sente aliviado por finalmente entender o motivo de Lucy tratá-lo como tratava e que, por fim, termina aproximando os dois de certa maneira, algo simbolizado pelo fato deles se despedirem com um abraço ao invés de um aperto de mão.

Em meio a esses momentos eficientes de drama, o filme encontra espaço para uma comédia mais escrachada. Isso acontece principalmente nas interações entre as protagonistas e os personagens coadjuvantes, como o chefe excêntrico de Lucy interpretado por Sean Hayes ou a colega de trabalho maluca vivida por Molly Gordon (de Acampamento de Teatro e O Urso), além de uma ponta divertida da própria Tig Notaro como uma guru aloprada de um retiro espiritual que envolve o uso de redes.

Claro, a eventual reconciliação da amizade entre Lucy e Jane é relativamente previsível, mas o caminho até lá é bem construído o suficiente para envolver por conta do afeto e da sensibilidade que envolve as personagens.

 

Nota: 7/10


Trailer

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