A primeira grande revelação do filme acontece logo no início quando descobrimos que Mitch Lowe e Ted Farnsworth, as duas figuras que apareciam constantemente como criadores e gestores do serviço, não apenas não criaram o Moviepass como excluíram da empresa os criadores, os empreendedores negros Stacy Spike e Hamet Watt. A trama mostra como eles é que tinham a visão do negócio e um planejamento de longo prazo para crescer o serviço aos poucos e mantê-lo sustentável e funcional. O problema é que ambos tinham dificuldade de conseguir investimento, então um dos investidores que eles tinham sugere trazer esses dois homens brancos que sabiam movimentar o mercado para ajudar o negócio a crescer.
O problema é que Mitch e Ted não se mostram interessados em uma estratégia a longo prazo, baixando o preço do serviço para dez dólares sem nenhuma intenção de aumentar ou mudar a estrutura do serviço para que o negócio possa de fato dar lucro. Além disso, os dois removem Stacy e Hamet da empresa, tomando o controle do conselho e passando a ser gestores plenos embora não tivessem nenhuma noção da engenharia do negócio.
O documentário revela como Mitch e Ted, incluindo entrevistas com Mitch nas quais suas tentativas de defesa só reforçam as críticas que o filme faz, se deslumbraram com a indústria do entretenimento, torrando milhões em festas com celebridades que nada serviam para melhorar o negócio. Do mesmo modo, o filme mostra que a vida pregressa dos dois é basicamente de picaretas que abriam empresas, inflavam seus valores para entrar no mercado de ações e depois que lucravam com o aumento de valor das ações fechavam tudo e partiam para a próxima. São pessoas menos interessadas em fazer um negócio crescer e mais em criar uma impressão de sucesso para satisfazer a especulação financeira de investidores da bolsa de valores.
Nesse sentido, a oposição entre os estilos de Mitch e Ted com o de Stacy e Hamet revela algo que já tinha mencionado quando escrevi sobre a minissérie The Dropout: a ideia de que esse meio de startups e de capital de risco valoriza mais uma performance de empreendedorismo do que gestores técnicos que de fato sabem o que estão fazendo e entendem a tecnologia que constroem. Apesar de terem um plano e capacidade gerencial Stacy e Hamet tem dificuldade de captar investidores justamente por não corresponderem ao que o mercado espera de um empreendedor de startup (tanto em termos de conduta como o de tom de pele). Já Mitch e Ted fazem a exata performance que o mercado espera, falando termos do momento tipo “disruptivo” e platitudes vazias sobre gestão que não dão nenhuma especificidade a respeito de suas estratégias para o negócio, mais preocupados em dar uma impressão de sucesso para aumentar valor de ações do que em produzir um bom serviço.
O resultado de ter gestores performáticos ao invés de pessoas que de fato entendem do negócio é justamente a falência relâmpago da empresa menos de um ano depois de Mitch e Ted assumirem e colocarem um modelo de negócio claramente insustentável. Que Mitch tenha pulado fora da empresa quando viram a coisa naufragando e colocado outras pessoas à frente das operações do dia a dia só reforça o quanto eles são sanguessugas desprezíveis. Isso e também as múltiplas provas que eles criaram várias barreiras para que os clientes pagantes usassem o serviço de modo a tentar evitar grandes perdas de receita, uma ação ilegal que os colocou na mira de órgãos reguladores.
Mais do que apenas uma história sobre a falência de uma
empresa, Moviepass:A Última Sessão é
sobre racismo no meio empresarial e como essa cultura de empreendedorismo, a
despeito de seu discurso de inovação, valoriza mais as aparências e a
performance do que conhecimento de fato.
Nota: 6/10
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário