A narrativa começa com Pierre (Vincent Macaigne) conhecendo Marthe (Cécile de France) durante uma sessão de pintura. A partir daí o casal desenvolve uma paixão arrebatadora e não consegue mais ficar separado. Acompanhamos então a trajetória dos dois até o fim de suas vidas e as eventuais turbulências no relacionamento.
Como acontece em muitas biografias que abrangem um longo período de tempo, o filme sofre com uma natureza episódica, saltando rapidamente de um ponto do tempo a outro em poucas cenas. Essa velocidade com a qual a narrativa passa pela trajetória dos biografados não permite que situações ou conflitos tenham tempo suficiente para se desenvolverem ou terem seus impactos plenamente sentidos. Mal uma situação se desenvolve e ela já está resolvida e o filme já parte para outra questão. Com isso, a trama progride sem um senso de drama ou de algo que consiga realmente nos conectar com esses personagens ou sentir o impacto dos reveses de suas vidas.
É um filme que mostra os fatos marcantes da vida de seus personagens, mas nunca faz o esforço de tentar nos mostrar suas vidas internas, o que os impele, o motivo deles agirem como agem, de onde vem a devoção tão forte que Pierre e Marthe sentem um pelo outro. Como o filme fica na superfície, a impressão é que estamos vendo um verbete de wikipedia sendo encenado.
Um exemplo é o segmento em que Pierre deixa Marthe para ir viver com a amante, Renée (Stacy Martin), prometendo casar com a garota. Um dia antes do casamento com Renée, porém, Pierre decide deixá-la para voltar à France e casar com Marthe. A montagem então constrói a oposição entre a felicidade da cerimônia entre Pierre e Marthe com a atmosfera soturna do sofrimento e eventual suicídio de Renée. Imaginamos que um evento tão trágico irá impactar a dupla de protagonistas, mas a trama pouco menciona isso. Só perto do fim, quando Marthe sofre com demência e brevemente delira com o fantasma de Renée vestida de noiva a assombrando é que temos um breve vislumbre do impacto disso nela e em Pierre, que admite se sentir culpado pelo que aconteceu com a garota. A culpa do pintor, no entanto, nunca é sentida ou demonstrada para além deste breve diálogo expositivo.
Se a trama não parece se esforçar para ir muito além da superfície dos personagens, a fotografia se esmera em evocar o estilo de Bonnard. Tal como suas pinturas o filme recorre a cores claras e ampla luminosidade. As cenas do cotidiano dos dois em sua casa de campo são investidas de um forte sentimento bucólico que nos ajuda a entender o que atraiu o pintor para aquele local. Do mesmo modo, cenas cotidianas que serviram de inspiração para as pinturas de Bonnard, como a imagem de Marthe na banheira, são mostradas sob uma atmosfera etérea, como momentos sublimes que despertaram o encantamento do pintor e o impeliram a registrar a imagem numa tela.
É uma pena, porém, que esse esmero visual não afaste a
sensação de que A Musa de Bonnard é
uma biografia rasa, que não consegue transmitir a intensidade da relação dos
seus dois biografados e o que os movia.
Nota: 5/10
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