quarta-feira, 26 de junho de 2024

Rapsódias Revisitadas – Velocidade Máxima

 

Crítica – Velocidade Máxima


Review – Velocidade Máxima
Eu perdi a conta de quantas vezes assisti Velocidade Máxima na Sessão da Tarde. Lançado em 1994, o filme foi responsável por sedimentar o status de estrela de ação de Keanu Reeves (que vinha do sucesso de Caçadores de Emoção e de uma performance criticada em Drácula de Bram Stoker) e também de Sandra Bullock, que tinha ganhado evidência no ano anterior ao estrelar O Demolidor ao lado de Sylvester Stallone e Wesley Snipes. É um filme marcado pelo tipo de cinema de ação feito na década de 90 com tudo de positivo e negativo que isso carrega. 

Na trama, o policial Jack Traven (Keanu Reeves) impede que um criminoso exploda bombas em um arranha-céu, com o suspeito aparentemente morrendo ao tentar fugir. Tempos depois ele e o parceiro, Harry (Jeff Daniels), recebem uma medalha pela ação. O problema é que o criminoso Howard (Dennis Hopper) não morreu e quer se vingar de Jack. Ele coloca uma bomba em um ônibus que irá se armar assim que o veículo chegar a 80 quilômetros por hora e irá explodir se o veículo ficar abaixo dessa velocidade. Jack localiza o ônibus e precisa mantê-lo em movimento até encontrar um meio de desarmar a bomba ou localizar o criminoso, contando com a ajuda da passageira Annie (Sandra Bullock) para guiar o ônibus depois que o motorista se fere.

Dirigido por Jan De Bont, que posteriormente dirigiria Twister (1996), o filme é focado na adrenalina de manter o ônibus em movimento pelas congestionadas ruas de Los Angeles. O texto é eficiente nessas situações de tensão, sempre ampliando os problemas que Jack e Annie encontram, desde tentar contornar um engarrafamento, manobrar em uma curva fechada sem capotar o ônibus ou saltar sobre um viaduto não terminado. Claro, algumas situações, como um ônibus saltar dezenas de metros no ar, são inverossímeis, mas faz parte do charme exagerado do cinema de ação dos anos 90. Não me lembrava, mas a música é também uma parte responsável pela tensão que o filme evoca, com faixas pulsantes, cheias de percussão e instrumentos metálicos que ajudam a dar a sensação de perigo iminente em meio ao caos urbano de veículos em alta velocidade.

A ação se beneficia de boa parte se filmado em locação nas ruas e vias expressas de Los Angeles e realizadas de maneira prática, com veículos reais, dublês e o ocasional uso de maquetes. Tudo isso ajuda a dar um senso de materialidade, de que estamos vendo pessoas de verdade em espaços de verdade fazendo aquelas proezas arriscadas e não pessoas diante de um fundo verde, seguras de qualquer sensação de risco. É o tipo de filme de ação que Hollywood parece ter desaprendido a fazer salvo algumas exceções como Missão Impossível ou John Wick, no qual a graça da ação está nesse senso de espetáculo das proezas físicas realizadas por atores e dublês.

O fiapo de trama se beneficia da química entre Reeves e Bullock, além da intensidade que o falecido Dennis Hopper traz ao seu vilão. Howard poderia ser um terrorista genérico, mas Hopper instila nele uma confiança ameaçadora que nos faz vê-lo como um sujeito astuto, sempre um passo a frente dos heróis, inteligente e implacável o bastante para, talvez sair vitorioso da situação. A intensidade e a raiva que Hopper traz ao personagem dá tanta credibilidade aos seus planos audazes que podemos passar batido ao fato de que muitos elementos estão fora de seu controle e dependeriam de algumas conveniências para funcionar, fazendo tudo ser mirabolante demais.

Falando nisso, o roteiro tem sua parcela de falhas e momentos que não fazem sentido. Talvez o problema mais notável e que prejudicou a minha imersão é o fato de que a polícia parece não ter o menor interesse em descobrir a identidade de Howard antes dele reaparecer ameaçando Jack. Sim, eles pensavam que o terrorista tinha morrido e estamos falando de um período pré 11 de setembro no qual os EUA ainda não tem a paranoia com terrorismo que tem hoje. Ainda assim é estranho que não tenha ninguém ativamente tentando descobrir a identidade dele para se certificar que não há outros como ele ou entender como ele aprendeu a fazer explosivos tão sofisticados.

Na verdade é até estranho que tenham demorado para encontrá-lo considerando que ele tem características muito marcantes, como não ter o polegar esquerdo ou exibir um conhecimento extensivo de explosivos. É de se imaginar que buscar indivíduos com essas características não daria num número muito amplo de suspeitos ou que isso não tivesse sido noticiado na mídia nacional e tivesse chamado atenção de pessoas no estado natal de Howard. Mesmo quando a narrativa deixa a desejar, a ação e construção do suspense nos mantem investidos até o fim, um testamento de como essas sequências são bem executadas.


Trailer

Nenhum comentário: