Na trama, JJ (Dave Bautista) percebe que Sophie (Chloe Coleman) está se distanciando dele e não tem mais o mesmo interesse de antes em treinar para se tornar espiã. Quando o coral do qual ela participa na escola se classifica para uma competição na Itália JJ se voluntaria para ser um dos acompanhantes da turma num esforço para se aproximar novamente de Sophie. As coisas se complicam quando o filho do chefe da CIA é sequestrado e os criminosos exigem que informações sigilosas sejam dadas a eles em troca do refém, cabendo a JJ resolver o caso.
Assim como no primeiro, o conflito entre JJ e Sophie é extremamente previsível, se baseando no guardião que vê a cria adolescente querendo ser mais independente e tendo dificuldade em desapegar. Ele vai sempre pelos caminhos mais esquemáticos e nunca oferece nada de muito interessante em cima dessas ideias. Também como no filme anterior é uma produção perdida no que quer ser e para qual público quer falar. É cheio de palavrões e violência para ser visto por crianças, é cartunesco e simplório demais para ser visto por jovens e adultos.
É uma confusão tonal ainda mais severa que o primeiro filme, tentando ser simultaneamente um filme de espionagem e intriga mais ou menos calcado na realidade ao mesmo tempo em que insere momentos que parecem saídos de um desenho animado, como a cena em que JJ e David (Ken Jeong) são atacados por passarinhos de uma computação gráfica pouco convincente ou toda a sequência inicial em que JJ protege um ídolo pop.
Em geral eu não gosto de falar sobre computação gráfica ruim porque penso que se um filme consegue envolver o espectador na trama ou nos personagens essas coisas acabam sendo um problema pouco importante. Aqui não é apenas um caso de que acabamos notando os efeitos visuais porque não há o suficiente para nos manter imersos na história, mas de efeitos tecnicamente ruins ou pouco adequados ao regime visual que o filme estabelece para si. Os passarinhos que atacam JJ, por exemplo, não parecem pertencer à mesma realidade que todo o resto do filme, soando como algo de um desenho animado e contrastando com o regime mais realista do resto da produção. Há uma cena em que os personagens de Ken Jeong e Craig Robinson conversam dentro de um marco arquitetônico da Itália e tem um dos piores chroma-key que vi em muito tempo, sequer conseguindo oferecer alguma noção de tridimensionalidade do espaço ao fundo dos atores, dando a impressão que alguém simplesmente pendurou uma fotografia do local atrás deles e filmou a cena.
Mesmo ignorando a computação gráfica ruim, o filme sobre com cenas de ação excessivamente picotadas, que falham em criar qualquer senso de coesão. Na cena inicial em que JJ luta contra uma assassina em um avião, ele desvia de uma faca arremessada em sua direção e no corte seguinte já está com uma bandeja em mãos para se proteger dos outros arremessos, como se o objeto simplesmente tivesse aparecido nas mãos do personagem. Não há um senso de temporalidade ou espacialidade que junte todos esses fragmentos.
O único destaque positivo acaba sendo a presença de Anna Faris como Nancy, a rígida diretora da escola de Sophie que posteriormente revela ter um papel mais importante na trama. Faris se sai bem tanto nos momentos que lhe pedem timing cômico como nas cenas em que ela precisa ser uma antagonista mais ameaçadora, apesar do plano e motivações genéricas da vilã. Por outro lado, o comediante alemão Flula Borg falha em trazer qualquer senso de ameaça ao assassino que interpreta, ficando preso em um papel que não aproveita seu estilo bizarro de humor.
Bagunçado, previsível, sem graça,
sem empolgação e sem sequer a clareza de quem quer atingir como público, Aprendiz de Espiã: Na Cidade Eterna
consegue ser pior que o primeiro filme.
Nota: 3/10
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário