quarta-feira, 24 de julho de 2024

Crítica – Cobra Kai: Sexta Temporada Parte 1

 

Análise Crítica – Cobra Kai: Sexta Temporada Parte 1

Review – Cobra Kai: Sexta Temporada Parte 1
A quinta temporada de Cobra Kai já mostrava que a série estava perdendo seu fôlego e não tinha muito para onde ir. Essa primeira parte da sexta temporada Cobra Kai reforça isso, servindo de alívio que será a última da série. A impressão é que tudo deveria ter encerrado na temporada anterior, com a destruição do dojo Cobra Kai, a derrota final de Terry Silver (Thomas Ian Griffith) e a resolução da maior parte dos arcos de personagem. Tirando a fuga de Kreese (Martin Kove) da prisão e o torneio internacional não tinham muito mais pontas soltas que poderiam ser puxadas e esse sentimento é visível nesta primeira parte.

A narrativa segue do ponto onde o último ano terminou. Silver foi derrotado, não há mais inimigos para Daniel (Ralph Macchio) e Johnny (William Zabka) se preocuparem e agora eles podem focar em preparar seus alunos para o torneio internacional Seikai Taikai. As coisas se complicam quando a organização do torneio muda as regras e diz que cada dojo só pode levar seis competidores, cabendo a Johnny e Daniel encontrar uma maneira de selecionar seus alunos. Ao mesmo tempo, Kreese vai até o Japão, propondo que a sensei Kim (Alicia Hannah Kim) e seu dojo tomem o lugar da Cobra Kai de Silver no torneio já que lutaram por ele, iniciando um conflito final entre Kreese, Daniel e Johnny.

Como muitos dos conflitos e rivalidades já tinham sido resolvidos, a temporada precisa encontrar novos meios de criar drama entre os personagens e a maioria deles não funciona. A ideia de Daniel questionar quem era o senhor Miyagi poderia até ser interessante, mas ele encontrar uma caixa escondida de informações comprometedoras em uma casa que frequenta há mais de trinta anos é difícil de engolir. Só durante a série o dojo foi atacado e destruído pelo menos umas três vezes e em nenhum momento durante as arrumações ninguém encontrou o compartimento secreto? Difícil de acreditar. Mais que isso, Karate Kid II (1986) já tinha mostrado que Miyagi tinha um passado do qual não se orgulhava, então faria mais sentido trabalhar a partir daí do que inserir um conjunto de novas informações que nunca tinham sido mencionadas antes.

Parece mais que essas descobertas são colocadas mais para criar novas rusgas entre Daniel e Johnny quando ambos já estavam em paz um com o outro do que para acrescentar algo a Miyagi ou qualquer um dos demais. É interessante ver como Johnny amadureceu desde a primeira temporada e agora é capaz de engolir o próprio orgulho e reconhecer as falhas e como Daniel se abre a percepções de mundo menos maniqueístas, então é estranho ver novas disputas se agravarem quando ambos já viram o quanto podem aprender um com o outro. Ao menos essas novas tensões servem para cenas divertidas envolvendo Amanda (Courtney Henggeler) sendo a voz a razão entre eles.

A frustração de Demetri (Gianni DiCenzo) com Falcão (Jacob Bertrand) ter dúvidas se queria ir para a mesma faculdade que ele é compreensível considerando que são amigos de infância e que fizeram planos juntos a vida inteira, mas é justamente por isso que o conflito nunca se torna um grande drama, já que esses personagens são tão próximos.

Do mesmo modo, o fato de Miguel (Xolo Maridueña) não ter conseguido entrar na faculdade que desejava e ver no torneio uma chance de entrada na universidade é colocado para acirrar sua disputa com Robbie (Tanner Buchanan), que lida com as próprias inseguranças de sempre ter ficado em segundo. Isso ajuda a dar certa em incerteza em relação a qual dos dois ganhará a disputa como capitão da equipe, mas não tem a força de outros momentos climáticos da série por conta da evolução dos dois que agora se veem como irmãos. Ao menos a série é inteligente em não regredir o relacionamento dos dois só para ampliar o drama.

Apesar de Anthony (Griffin Santopietro) ter sempre ficado à margem dos conflitos, ele em pouco tempo se torna quase tão bom quanto os demais, algo que parece existir só para prolongar a rivalidade dele com Kenny (Dallas Dupree Young). É um conflito que nunca foi muito interessante e que não melhora ao ser expandido mais do que deveria, embora seja coerente que Kenny automaticamente desconfie de Anthony por conta da confusão com o laxante, já que ambos não resolveram completamente suas diferenças.

Talvez o único momento de drama com algum impacto seja o arco de Tory (Peyton List) com a mãe e como perdê-la abala a garota ao ponto de trazer à tona novamente antigas inseguranças. Peyton List torna visível a dor da garota quando ela chega para a disputa do posto de capitã com Sam (Mary Mouser), escondendo de todos o falecimento da mãe. É um momento intenso que é sabotado pelo modo como tudo termina. Sim, considerando o estado da garota é compreensível que ela entenda o cancelamento da luta como uma ofensa ou um reconhecimento da parte de Daniel de que ela nunca será boa como Sam e queira ir embora.

O que é estranho é que ninguém tente ir com ela ou tente encontrá-la depois para ver se ela está bem, considerando o quanto ela está abalada. É difícil crer que nem pessoas como Amanda, que sempre teve empatia por Tory, ou Robbie, que é o namorado dela, não tenham tentado sequer encontrá-la ou conversado com ela depois. As coisas parecem acontecer assim mais por uma necessidade de roteiro, para que tenhamos a surpresa dela aparecendo no time de Kreese no torneio, do que de um desenvolvimento consistente desses personagens. Tê-la no time de Kreese também dá alguma rivalidade real entre os competidores, já que o resto de seus lutadores são personagens que mal conhecemos e que, por isso, certamente não vão vencer no final. Claro, ainda há tempo para construir rivalidades com esses novos personagens, mas considerando os poucos episódios que restam, dificilmente chegarão à intensidade das disputas de temporadas anteriores, daí a necessidade de regredir a um drama anterior com Tory, para termos um conflito com força dramática real.

Assim, ainda que mostre o quando seus personagens se desenvolveram e reflita sobre o legado deles, a primeira parte da sexta temporada de Cobra Kai mostra a perda de fôlego da série ao falhar em desenvolver conflitos consistentes, muitas vezes fazendo alguns personagens regredirem só para render a trama.

 

Nota: 5/10


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