quarta-feira, 10 de julho de 2024

Crítica – Como Vender a Lua

 

Análise Crítica – Como Vender a Lua

Review – Como Vender a Lua
É curioso como o cinema hollywoodiano sempre retorna ao pouso na Lua como signo da engenhosidade, excelência e superioridade dos Estados Unidos. Talvez por ser o evento histórico mais seguro (já que não envolve invadir ou bombardear outros países) para tentar reforçar no público a ideia de que esta é a maior nação do planeta. Este Como Vender a Lua mistura comédia romântica e drama histórico para fazer precisamente isso, embora nem sempre atinja suas ambições.

A trama se passa nos anos 60, sendo protagonizada por Kelly (Scarlett Johansson), uma profissional de marketing que é contratada pelo governo dos EUA para fazer a opinião pública ficar favorável à ideia de uma missão para a Lua. Chegando na base de lançamento na Flórida, as táticas de Kelly para melhorar a imagem do programa espacial enfrentam resistência do diretor da missão Cole (Channing Tatum) que não aprova os métodos escorregadios de Kelly. Claro que a partir dessa união entre opostos os dois irão se apaixonar.

Toda a trama romântica é uma típica história de personalidades opostas que começam às turras, mas aos poucos aprendem o suficiente um com o outro para se apaixonarem. É uma aplicação bem direta do tropos do “enemies to lovers” (de inimigos a amantes) que se desenvolve de maneira relativamente previsível. Poderia não funcionar por sua adesão excessiva aos formatos do gênero, mas encanta pelo carisma de suas duas estrelas, que funcionam bem juntos e dão algum realismo emocional a personagens que poderiam ser clichês entediantes. Johansson é encantadora como a publicitária com língua ouro que sempre sabe dizer a coisa certa para conseguir o que quer. Tatum faz o mesmo tipo chucro, mas de bom coração, que já demonstrou fazer bem em tantos outros filmes. Eles são auxiliados pelo texto espirituoso, que mantem o bom humor através de diálogos rápidos cheios de trocas de farpas sagazes entre o casal principal, remetendo a comédias românticas do período em que a narrativa se passa.

Se a faceta de comédia romântica funciona bem, o lado de filme histórico, porém, não tem a mesma sorte. A narrativa até toca no modo como a exploração espacial impactou a cultura da época e os debates a respeito da alocação de vultuosos recursos na empreitada, mas fica na superfície disso. Durante boa parte do tempo o filme foca num ufanismo propagandístico tão pouco sutil que soa cafona, como se a única coisa que a narrativa tivesse a dizer fosse reforçar a ideia dos Estados Unidos como a maior nação do mundo. Perto do final, porém, o texto consegue usar o passado para ponderar o presente através da noção de que o pouso na Lua poderia ter sido forjado. Essas ideias tentam resgatar a noção de um país em que fatos concretos importavam e que as pessoas não tentavam moldar a realidade para encaixar suas crenças. Nesse sentido o filme pondera sobre o dano que informações falsas podem causar a uma nação e como a verdade é sempre mais eficiente do que qualquer discurso baseado em mentiras. 

O desfecho impede que a narrativa se resuma a uma mera propaganda ufanista, embora o filme acabe se alongando mais do que o necessário para chegar nessas ideias. Mesmo sendo relativamente previsível, Como Vender a Lua funciona melhor como comédia romântica do que como drama histórico graças ao carisma do casal principal e dos diálogos bem humorados.

 

Nota: 6/10


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