segunda-feira, 22 de julho de 2024

Crítica – A Garota de Miller

 

Análise Crítica – A Garota de Miller

Review – A Garota de Miller
Primeiro longa metragem da diretora Jade Halley Bartlett, A Garota de Miller investiga o limite que separa desejo e desespero. A narrativa tenta dar conta das complexidades disso, mas fica na superfície de suas várias ideias apesar do esforço de seu elenco. A trama é centrada na estudante Cairo Sweet (Jenna Ortega), uma garota precoce e com talento para ser escritora que anseia por uma conexão real, mas não encontra ninguém que considere estar a sua altura na pequena cidade em que mora. As coisas mudam quando conhece o professor Jonathan Miller (Martin Freeman), um escritor frustrado que se resignou a ser professor de colegial.

Ter alguém que a compreende desperta o interesse de Cairo, do mesmo modo que Miller se atrai pela possibilidade de ser o mentor de alguém com talento real para ter sucesso no universo literário. São personagens movidos por suas carências. Cairo é uma garota rica cujos pais ausentes tentam compensar a distância afetiva (e física) dando tudo que ela quer, criando alguém que deseja ser próxima de alguém ao mesmo tempo em que não é alguém acostumada a ouvir um não. Jonathan é um escritor medíocre que nunca conseguiu o sucesso que almejava e sente que o mundo foi injusto consigo. Ele também ressente o sucesso da esposa, Beatrice (Dagmara Dominczyk de Succession), que o faz sentir diminuído e emasculado, enquanto que Beatrice parece ressentir a mediocridade do marido, constantemente soltando farpas passivo-agressivas lembrando-o de sua inferioridade.

Tanto para Cairo quanto para Jonathan há um senso desesperado de que aquela conexão entre eles pode ser o que dê (ou devolva) algum significado a suas vidas. Para Cairo há uma dimensão de desafio, conforme ela comenta com a amiga Winnie (Gideon Adlon), ambas tentando seduzir professores. Para Jonathan, a validação do próprio ego através de Cairo é tão importante ao ponto em que ele abandona qualquer senso de protocolo ou ética profissional no trato com uma aluna menor de idade.

A intenção pareceria ser tencionar como esses personagens são tão desesperados por reconhecimento e conexão que confundem uma relação problemática e uma dinâmica pouco saudável por desejo genuíno. O texto também tenta tencionar a noção de vítima ou algoz, afinal de um lado Cairo claramente tem a intenção de tentar seduzir o professor, de outro Miller é o adulto no recinto, que como professor detém poder sobre ela e deveria ter maturidade o suficiente para entender o quão errado é tudo aquilo e não ceder aos próprios impulsos.

O problema é que o filme nunca leva essas ideias para além da superfície, com toda a discussão nunca atingindo a nuance ou complexidade que a trama pensa ter. Uma cena entre Miller e a esposa deixa claro as violações cometidas pelo professor, evitando romantizar a situação ou reduzi-lo meramente à vítima de uma ninfeta sedutora, mas ainda assim falta complexidade para que as tensões se desenvolvam a contento.

Quem evita que tudo descambe para o tédio é Jenna Ortega, que domina cada cena em que está. Sua Cairo é alguém que faz questão de mostrar que a pessoa mais inteligente do recinto, mas seu ego frágil a faz rechaçar com virulência qualquer um que negue aquilo que ela deseja. Vemos isso no modo como ela ataca Winnie perto do final e também como ela destila ofensas venenosas à Miller, escolhendo com precisão as palavras que sabe que irão ferir o ego do professor, no momento em que ele tenta se afastar dela.

Mesmo com a dedicação de Jenna Ortega, A Garota de Miller se mostra um thriller erótico simplório que nunca traz a complexidade que almeja para suas ideias centrais.

 

Nota: 4/10


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