sexta-feira, 12 de julho de 2024

Crítica – Go! Go! Loser Ranger!

Análise Crítica – Go! Go! Loser Ranger!
 

Review – Go! Go! Loser Ranger!
O anime Go! Go! Loser Ranger! funciona como um The Boys para o universo dos Super Sentai/Power Rangers na medida em que satiriza esse tipo de história e pensa como, num olhar mais realista ou mais cínico esses personagens se tornariam celebridades inebriadas pela própria fama e poder, além de uma força fascistoide de controle social. Com doze episódios primeira temporada tenta nos introduzir esse universo e os problemas dele, embora sofra com alguns problemas de ritmo.

A trama se passa em um mundo no qual uma nave de invasores alienígenas paira sobre o nosso planeta. Semana após semana os invasores enviam monstros para a nossa superfície e cabe aos Guardiões do Dragão da Tropa Ranger deter esses monstros. Munidos de equipamentos poderosos chamados de Artefatos Divinos, os Rangers detêm um poder enorme e se tornaram celebridades. Estádios foram construídos no local de pouso mais comum dos monstros e a guerra que se estende há treze anos é agora um espetáculo para as massas, com as lutas sendo televisionadas para o mundo inteiro. Só há um problema: os Rangers derrotaram os invasores no primeiro ano do ataque e tudo que veio depois é uma encenação.

Na nave-mãe que ainda paira sobre a Terra abriga apenas os Lutadores, capangas dos monstros que nos invadiram. Eles são capazes de se regenerar e mudar de forma, mas não são páreo para os Guardiões do Dragão. Com os líderes exterminados, os heróis propuseram uma trégua aos lutadores. Eles não seriam destruídos, mas manteriam a farsa de ataques constantes, se transformando em monstros diferentes a cada semana. O Lutador D é um desses capangas sobreviventes e ele está farto de apanhar dos Guardiões há mais de uma década e decide vir para Terra encontrar um meio de derrotá-los.

Os primeiros episódios mostram o poder implacável dos Rangers, construindo o senso de uma batalha desigual conforme D mal consegue sobreviver os embates em que se envolve. Além de poderosos, a narrativa estabelece como muitos deles são cruéis, eliminando sem dó tanto inimigos quanto qualquer um que os incomode. Isso fica evidente na cena do almoço entre os Rangers, no qual um deles mata de maneira sangrenta um de seus recrutas por conta de algum inconveniente.

A ação, por sinal, é bastante sangrenta, mostrando as consequências brutais de como seria se uma tropa de fantasiados saísse por aí usando tecnologia cósmica e poderes divinos como se isso não fosse nada, causando enorme destruição e despedaçando inimigos como se eles não fossem nada. Essa crueldade dos Guardiões ajuda a nos conectarmos com D, já que apesar de ser um alienígena querendo matar os heróis por motivos egoístas, a crueldade e descaso dos Rangers também nos dá o senso de que eles são uma ameaça para o mundo.

A série perde um pouco do ritmo a partir do momento em que D se infiltra na Tropa Ranger tomando o lugar de um recruta e passa a viver o cotidiano da tropa enquanto tenta subir em suas fileiras para se aproximar de seus alvos. Esses episódios acabam focando demais nas provas e disputas internas da tropa, sem avançar muito o desenvolvimento de personagens ou temas principais. Sim, vemos como a tropa fomenta uma competitividade tóxica entre seus recrutas, mas isso só reforça o sadismo dos Guardiões e muitos desses episódios andam em círculos apenas repetindo as mesmas ideias.

As coisas melhoram nos episódios finais quando temos a revelação de que um dos líderes dos monstros sobreviveu e começa a matar os recrutas. Esse final da temporada não apenas acelera a trama em termos de ação ao criar embates brutais entre o monstro poderoso e os recrutas, mostrando a ameaça temível que os invasores posam e como um humano comum não é nada para eles, mas também oferece mais nuance aos personagens conforme testa suas convicções.

Afinal, descobrir que um de seus “mestres” ainda está vivo tem potencial para mudar os planos de D. Ele volta a ser só um capanga que obedece as ordens de seus superiores ou ele rejeita qualquer controle e tenta trilhar seu próprio caminho? Colocar D no meio de uma batalha contra dois inimigos (monstros e Rangers) ajuda a dar alguma complexidade moral ao personagem. Ele não é um mero capanga, resistindo à escravização de seu líder (ao contrário da Lutadora XX), mas ele também está preso ao seu rancor aos Rangers e seu desejo de cumprir seu propósito de dominação, ainda que à sua maneira.

Alguns Guardiões também recebem mais desenvolvimento, nos fazendo ver seu passado e entender suas motivações, principalmente a Rosa e o Azul. Esses flashbacks nos fazem compreender como ambos se tornaram Rangers por razões justificáveis, movidos por um senso de impotência diante da invasão ou desejo de proteger pessoas próximas. Isso evita que eles sejam antagonistas caricatos ou unidimensionais, mostrando que mesmo alguém cruel pode ter começado bem intencionado.

O desfecho impactante com uma batalha entre D e Azul reforça o abismo de poder que há entre eles apesar de todo o crescimento de D ao longo da temporada. O modo inesperado com o qual D sobrevive à luta abre possibilidades interessantes para a próxima temporada e como os Guardiões podem se tornar ainda mais implacáveis depois da derrota sofrida aqui.

Ainda que perca um pouco do fôlego no meio da temporada, Go! Go! Loser Ranger! é uma interessante subversão dos clichês de Super Sentai, conforme examina como um intenso conflito entre monstros e heróis fantasiados impactaria o mundo.

 

Nota: 7/10


Trailer

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