A narrativa é focada em Edith Swan (Olivia Colman), uma carola solteirona que mora com os pais e é um dos primeiros alvos das cartas obscenas. Depois de receber algumas correspondências os pais de Edith, Edward (Timothy Spall) e Victoria (Gemma Jones), chamam a polícia. Edith acha que a responsável é sua vizinha, a irlandesa Rose (Jessie Buckley), uma viúva de vida livre e boca suja que chegou na cidade pouco tempo depois da guerra com a filha Nancy (Alisha Weir, de Abigail). Como Rose é a única mulher “sem decoro” da cidade ela é automaticamente tratada como culpada pela polícia local, sendo presa enquanto aguarda julgamento pelo crime. Enquanto isso, Gladys (Anjana Vassan), a única policial mulher da cidade, crê na inocência de Rose e tenta encontrar o real culpado.
Inicialmente a trama revela o machismo e hipocrisia da época, que exigia que as mulheres fossem quietas, submissas e comportadas enquanto os homens podiam falar e se comportassem como bem entendessem. Isso é evidenciado no momento em que Gladys vê dois outros policiais contando piadas cheias de palavrões um para o outro, mostrando como esse tipo de linguagem era aceito entre homens, mas imperdoável para mulheres. A narrativa também serve como um microcosmo das tensões entre Inglaterra e Irlanda, com os modos de Rose sendo vistos com condescendência pelos britânicos interioranos que consideram que sua conduta vem da origem irlandesa. São temas que a trama nunca chega a desenvolver, apenas apontando a presença desses elementos naquela sociedade.
Lá pela metade o filme nos revela a pessoa verdadeiramente responsável pelas cartas e o foco passa a ser mais a investigação de Gladys e seus esquemas para flagrar a culpada com a ajuda das excêntricas habitantes da vila. Na verdade é justamente esse conjunto de personagens excêntricos, da festeira Rose passando pela mal resolvida carola Edith, a esperta Gladys e outras moradoras, que nos mantem interessados. A comicidade vem muito do ultraje das pessoas com o linguajar das cartas e também das brigas causadas por elas, já que as correspondências não deixam de falar certas verdades sobre os habitantes da cidade que ninguém tem coragem de falar em alta. Uma dessas brigas, por exemplo, termina com Rose inadvertidamente atingida no rosto por uma pá.
Jessie Buckley e Anjana Vassan entregam performances divertidas, mas quem se destaca mesmo é Olivia Colman, principalmente depois da reviravolta que mostra quem é culpada pelas cartas. Uma carola retraída, oprimida pela educação rígida dos pais, é visível já no primeiro flashback de Edith com Rose que ela tem certa admiração ou inveja pelo modo como a irlandesa diz o que pensa. Quando Edith conta a Rose que chegou a ter um noivo, mas que ele a abandonou sem dar motivos, Rose solta várias ofensas ao antigo pretendente de Edith, que solta um contido sorriso pelo modo como Rose encara a situação. A cena já mostra como Edith tinha vontade de colocar para fora seus sentimentos da mesma forma explícita que Rose fazia, só não tinha coragem. Por isso é tão satisfatória a série de ofensas que Edith dispara contra seu opressivo na cena final, externando tudo que ela sempre sentiu, mas não queria falar.
Embora fique na superfície de
seus temas de machismo e hipocrisia, Pequenas
Cartas Obscenas diverte pelo seu conjunto de personagens insólitas, pela
curiosa história real que narra e pela performance da Olivia Colman.
Nota: 6/10
Trailer
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