A narrativa segue os escaladores Angela Nikolau e Ivan Beerkus, contando a história de como começaram a fazer esse tipo de atividade e acompanhando seu maior empreendimento até então: serem os primeiros a escalar um arranha-céu em Kuala Lumpur, Malásia, que seria o maior da região. O início foca principalmente em Angela e como ter crescido no circo com pais acrobatas a ensinou desde cedo a lidar com grandes alturas e como ela se sente confortável nesses espaços, vendo-os como um lugar de performance e não apenas como façanhas a serem alcançadas.
A trama faz um bom trabalho em tentar entender o que move Angela e Ivan, bem como o que fez os dois desenvolverem uma cumplicidade tão grande que evoluiu para um relacionamento afetivo, evitando reduzir esses personagens a meramente pessoas aberrantes querendo chamar atenção. As belas imagens captadas pelos dois protagonistas em suas escaladas ou por drones que os acompanham ajudam a transmitir o senso de beleza e perigo de estar no topo dessas construções altíssimas contribuindo para que entendamos o fascínio de estar em um lugar que permite enxergar o mundo e as paisagens urbanas de uma perspectiva que quase ninguém vê.
Por outro lado, uma vez que o filme passa a focar no planejamento da ação na Malásia tudo ganha uma estrutura bem convencional de “filme de assalto” (pensem em coisas tipo Onze Homens e Um Segredo), com o planejamento e treinamento da ação, os reveses, a execução do plano, a necessidade de improvisar e o eventual triunfo. Claro, é inegável a força da beleza plástica das imagens do desfecho, mas, ao mesmo tempo, é uma maneira muito segura e muito quadrada de contar a história de pessoas cujas vidas são qualquer coisa menos quadrada ou segura.
Fico me perguntando como seria se tivéssemos alguém como Werner Herzog, acostumado a contar histórias de pessoas às margens da sociedade e em situações limite (vide filmes como O Homem Urso ou Encontros no Fim do Mundo), no comando da narrativa para trazer olhares mais peculiares sobre esses personagens. Digo isso porque o filme passa muito rápido por muitas questões que mereciam mais reflexão, como o fato de que apesar de toda a paixão dos protagonistas eles ainda estão inseridos em uma economia de redes sociais que requer façanhas constantes e cada vez maiores para continuar atraindo público e patrocinadores ou o modo como eles são impactados pela guerra na Ucrânia. São noções que o filme apresenta, mas não desenvolve a contento.
Isso sem mencionar que é estranho que uma produção em pleno 2024 apresente NFTs como uma tábua de salvação de criadores de conteúdo quando a bolha em torno disso já estourou e ninguém mais se importa com esse tipo de produto. Sim, as imagens foram captadas em 2022, o contexto era um pouco diferente, mas o filme está sendo lançado hoje e a realidade mudou de lá para cá. Do jeito que está toda a questão faz o filme soar imediatamente datado.
Apesar de contar sua história em
uma estrutura demasiadamente convencional que não condiz com seus personagens, Skywalkers: Uma História de Amor envolve
pela intensidade vertiginosa de suas imagens de escalada e pela sua
investigação do que move esses sujeitos.
Nota: 6/10
Trailer
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