A trama coloca Axel Foley (Eddie Murphy) mais uma vez tendo que sair de Detroit para as áreas de luxo de Los Angeles em Beverly Hills. Dessa vez ele vai ajudar a filha, Jane (Taylour Paige), com quem não fala há anos. Jane é advogada e topa em um caso de corrupção policial que põe sua vida em risco. Billy Rosewood (Judge Reinhold) desaparece depois de tentar ajudá-la, então cabe a Axel resolver o caso.
É visível que se trata de uma produção que quer apelar para a memória afetiva do espectador com a trilogia original, muitas vezes através de citações aos filmes anteriores, como no momento em que o detetive Abbott (Joseph Gordon-Levitt) cita os três casos anteriores de Axel na cidade e comenta que o de 94 não foi o melhor momento dele, fazendo piada com o péssimo terceiro filme. O filme também faz isso construindo cenas que evocam situações similares aos dos outros filmes, como Axel se infiltrando em um clube de luxo para confrontar o vilão ou criando uma grande cena para tentar aparecer e constranger algum suspeito. Tudo dá a impressão de que estamos consumindo uma janta velha requentada que só tem algum sabor pelo tempero que Eddie Murphy traz ao personagem graças à sua energia em cena.
Algumas tentativas de trazer de volta figuras de filmes anteriores soam forçadas, feitas de qualquer jeito num esforço de agradar fãs embora não façam sentido ou não acrescentem muito. O melhor exemplo disso é o reencontro com Serge (Bronson Pinchot), coadjuvante que teve uma participação pequena no primeiro filme e acabou voltando no terceiro em um papel expandido porque o público gostava dele. Aqui a entrada de Serge não faz muita diferença na trama e as piadas envolvendo seu sotaque e dificuldade de entender inglês não fazem sentido considerando que agora ele vive no país há mais de 30 anos e, ao menos, deveria ter acostumado sua escuta.
A cena é um exemplo também de que o filme está mais interessado em ficar lembrando quem esses personagens eram do que explorar quem eles são, com o conflito entre Axel e a filha ficando na superfície e se desenvolvendo de maneira bem previsível. Tirando a relação dele com a filha não há qualquer esforço de levar esse personagem em qualquer nova direção ou dar a ele mais camadas. Talvez seja por isso que me surpreendi com o esforço da trama em dar alguma motivação ao vilão vivido por Kevin Bacon que inicialmente era só um corrupto genérico. Saber que parte de sua escolha por se corromper vem do ressentimento dele de correr riscos protegendo uma população rica que nunca lhe deu o devido valor e da qual ele nunca teria a chance de pertencer contribui para que o vilão tenha alguma humanidade, embora o filme nunca explore de fato essas questões de classe (e eu não esperaria que explorasse).
A ação remete ao exagero e absurdo dos filmes de ação oitentistas. A perseguição inicial pelas ruas de Detroit na qual Axel dirige um limpa-neve provavelmente causa um prejuízo maior à cidade do que o valor do dinheiro roubado que ele recupera. Uma tentativa de fuga à bordo de um helicóptero voando baixo por Los Angeles serve tanto humor quanto tensão. Muito do motivo dessas perseguições funcionarem é porque o filme evita abusar da computação gráfica e tenta fazer o máximo possível com veículos reais. O tiroteio final também diverte pelo seu senso de exagero, em especial pela mira digna de stormtroopers dos capangas do vilão, que falham em acertar um mísero tiro nos heróis apesar deles correrem na linha fogo sem qualquer proteção. É o tipo de coisa que não funcionaria em uma produção com abordagem mais realista, mas que faz sentido dentro do clima de nostalgia oitentista que o filme estabelece para si, com lógica daquele período norteando as escolhas de encenação.
Um Tira da Pesada 4:
Axel Foley é acomodado em sua nostalgia, mas consegue divertir pelo carisma
de Eddie Murphy e ação caótica.
Nota: 6/10
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