terça-feira, 13 de agosto de 2024

Crítica – Batman: Cruzado Encapuzado

 

Análise Crítica – Batman: Cruzado Encapuzado

Review – Batman: Cruzado Encapuzado
Lançada em 1992 Batman: A Série Animada, produzida por Bruce Timm, redefiniu as histórias do Batman ao inserir novos personagens, como a Arlequina, e repensar a mitologia de vários de seus vilões, como o Sr. Frio, lhes dando mais complexidade. A série também é importante por ter originado todo um universo animado, sendo seguida por Superman: A Série Animada, Liga da Justiça e Liga da Justiça Sem Limites. Todo esse conjunto é, talvez, uma das melhores adaptações do universo DC para o audiovisual, então recebi com empolgação a notícia que Timm voltaria a produzir uma série animada do Batman neste Batman: Cruzado Encapuzado, que ainda conta com o veterano dos quadrinhos Ed Brubaker como roteirista.

O maior detetive do mundo

A trama foca nos primeiros anos de Bruce Wayne como Batman, em uma Gotham ainda dominada pelo crime organizado e os primeiros vilões excêntricos que começam a surgir. As histórias são mais focadas no lado investigativo do homem-morcego, remetendo ao recente Batman (2022) dirigido por Matt Reeves (que também é um dos produtores da série). Seus dez episódios são bem ao estilo “vilão da semana” com cada um focado em um inimigo diferente, embora também vejamos alguns arcos que persistem ao longo da temporada, como a campanha de Harvey Dent para prefeito.

Ainda que ocasionalmente traga um pouco do lado sobrenatural em algumas histórias, como o episódio focado na Natalia Knight e outro em ele que pede ajuda ao Papa Midnite para enfrentar um fantasma, as histórias tendem a ser investigações criminais como menos elementos fantasiosos. Mesmo personagens com habilidades meta-humanas tem o escopo de suas habilidades reduzidas. Basil Karlo/Cara de Barro consegue moldar o rosto para assumir a aparência de qualquer pessoa, mas não tem aqui a capacidade de aumentar de tamanho, transformar seus membros em armas. Esse tipo de mudança provavelmente acontece para permitir que as histórias foquem mais no aspecto de detetive do Batman e menos na ação, fornecendo mistérios para resolver ao invés de inimigos poderosos que testem as suas habilidades marciais.

Galeria de vilões

Falando em mudanças, a animação faz alterações em muitos membros das galerias de vilões e aliados do herói, conseguindo manter a essência desses personagens enquanto lhes dá algum senso de frescor. A Pinguim/Oswalda Cobblepot tem obviamente seu gênero trocado e sua boate funciona como uma casa shows em que ela performa toda noite, funcionando como uma figura estilo a cantora Mama Cass. A boate é também uma fachada para suas atividades criminosas e, como outras encarnações do vilão, a Pinguim é uma sociopata irascível e implacável que também carrega sua predileção para exagero dramático.

Barbara Gordon agora é uma advogada da defensoria pública cujo trabalho muitas vezes a coloca em oposição a Harvey Dent. Ela mantem o mesmo senso de justiça da personagem e a nova profissão permite que ela esteja mais próxima de vários elementos da trama principal, com a série já desenhando seu contato com o Batman e seu aprendizado das falhas da justiça.

Basil Karlo ganha aqui uma história trágica de um ator talentoso preso ao papel de vilão em filmes B por conta da aparência esquisita (pensem em figuras como Boris Karloff ou Peter Lorre) e que se submete a um procedimento estético que obviamente dá muito errado. Claro, ele se torna um psicopata violento e vingativo, mas a narrativa nos faz entender o que o levou ao limite de uma maneira plausível. Do mesmo modo o ataque que desfigura Harvey Dent mexe tanto com seu ego e vaidade que fratura sua psique e o faz ceder aos seus piores impulsos, como se a nova face trouxesse à tona tudo que Harvey odeia ou suprime em si mesmo e resolve colocar para fora, mantendo a jornada trágica do personagem.

Por outro lado, há uma mudança que não funciona em Harleen Quinzel/Arlequina. Ela aqui é uma terapeuta dos ricos e poderosos de Gotham que se frustra por eles continuarem mesquinhos, ególatras e imaturos a despeito de seus esforços como terapeuta e resolve puni-los usando seus vícios e perversões contra eles. O problema nem é que a Arlequina vire uma espécie de Jigsaw da franquia Jogos Mortais, mas que sua caracterização seja tão rígida e sisuda. Ela está tão distante do sadismo caótico e humor sombrio que a personagem é conhecida que soa como alguém completamente diferente. Sem seu senso de humor violento, não resta muito de Arlequina na versão da série.

Eu sou a noite

A série mantem muito do estilo visual da série de 92, com traços angulosos e um desenho de produção que mistura arquitetura gótica com art déco que evoca uma versão sombria dos Estados Unidos dos anos 20 e 30, mas lhe confere alguns toques de modernidade em meio a sua atmosfera soturna. Essa evocação ao passado se faz presente também no visual do Batman, que remete a suas primeiras aparições nos quadrinhos, dialogando com a ideia de que este é um Batman que está no início de suas atividades.

Apesar de algumas escolhas que não funcionam tão bem, Batman: Cruzado Encapuzado mostra como Bruce Timm permanece como uma das melhores vozes para contar histórias do homem morcego, compreendendo o que está na essência desses personagens ao mesmo tempo em que adiciona novas interpretações de suas mitologias.

 

Nota: 8/10


Trailer

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