segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Crítica – Guerra Sem Regras

 

Análise Crítica – Guerra Sem Regras

Review – Guerra Sem Regras
Quando foi anunciado, Guerra Sem Regras dava a impressão que seria a versão britânica de Bastardos Inglórios (2009) do Tarantino ao narrar a história de um grupo violento de soldados usando táticas de guerrilha para sabotar a ocupação nazista na Europa. O filme é isso, com o problema de que não faz nada além de tentar emular a produção de Quentin Tarantino sem que o diretor Guy Richie consiga criar um senso de identidade ou estilo próprio para a sua narrativa.

A narrativa é levemente baseada na história real da Operação Postmaster, uma missão clandestina das forças armadas britânica para sabotar a cadeia de suprimentos nazista que abastecia os barcos que patrulhavam o oceano Atlântico. O renegado Gus March-Philips (Henry Cavill) é incumbido de liderar uma missão clandestina a uma ilha na costa oeste da África que serve de base para a estrutura de suporte aos submersíveis alemães que patrulham o oceano. Com ele está um grupo de soldados desajustados como o sueco Anders Lassen (Alan Ritchson, de Reacher) ou o piromaníaco Freddy (Henry Golding).

Sua tentativa de evocar Tarantino já se percebe na cena de abertura quando um oficial nazista aborda o barco de Gus para inspecioná-lo, evocando o prólogo de Bastardos Inglórios Hans Landa em uma fazenda francesa. Tarantino conduzia a tensão daquela cena com precisão extrema, aos poucos desvelando as reais intenções dos envolvidos, construindo planos longos que dilatavam o senso de tempo e criavam a impressão de que tudo podia dar errado a qualquer momento até que toda a pressão subitamente explodia. Aqui, porém, não há nada perto desse esmero e tudo é bem óbvio, com a virada de jogo de Gus e seus aliados em cima dos nazistas não tendo o devido impacto porque nunca temos a impressão de que eles não estão no controle.

As aproximações com o filme de Tarantino também são sentidas na música, cujas composições de Christopher Benstead claramente evocam a paisagem musical tarantinesca criando melodias que soam tributárias a Ennio Morricone e ao clima de western spaghetti presente nos filmes de Quentin Tarantino. Eu cheguei a falar isso quando escrevi sobre outros filmes recentes de Guy Richie como O Pacto (2023) ou Esquema de Risco (2023), mas não deixa de ser curioso como um realizador que era famoso por um estilo tão peculiar agora entrega produções que poderiam ter sido dirigidas por qualquer peão de estúdio, longe da energia de suas primeiras produções.

O filme sofre também com uma inconsistência tonal. A trama envolvendo os espiões Marjorie (Eiza González) e Heron (Babs Olusanmokun) parece um filme completamente diferente em termos de clima e ritmo. Se Cavill e sua patota estão em Bastardos Inglórios, González e seus aliados parecem estar em algo mais próximo de Casablanca (1942). Como esses núcleos passam boa parte do filme separados sem que suas tramas se impactem (algo que só ocorre no terço final) isso só agrava o sentimento de discrepância entre eles.

Cavill claramente está se divertindo interpretando um cafajeste cleptomaníaco sanguinário, abraçando o exagero na composição do personagem que lhe dá um carisma malandro. Alan Ritchson faz o arquétipo do “gigante gentil” com seu Lassen, um guerreiro implacável cuja mira com o arco e flecha é digna do Legolas, mas que também tem uma inesperada doçura e leveza quando está fora de combate. Eiza González, por outro lado, fica presa a uma personagem que é basicamente uma imitação da Diane Kruger em Bastardos Inglórios, enquanto que o resto da tropa liderada por Cavill falha em ter qualquer traço marcante.

A ação é bem conduzida, com destaque para o resgate que acontece um pouco antes da metade, trazendo o senso de caos homicida que se espera de seus personagens, mas sofre com a ausência de brutalidade. Embora o filme ressalte o tempo todo o quanto seus personagens são sanguinários, a ação estranhamente carece de sangue, o que tira o impacto da construção desses indivíduos como renegados tão brutais que seriam mal vistos pelo resto das tropas britânicas. É muito estranho ver Cavill metralhar uma sala inteira de nazistas ou Ritchson matar a machadadas um corredor cheio de inimigos e o sangue mal escorrer.

Com uma condução sem personalidade, que parece se limitar a emular Tarantino, inconsistências tonais e uma ação que falha em dar a medida da brutalidade de seus personagens, Guerra Sem Regras falha em cumprir sua promessa de nos fazer sentir parte de uma guerrilha brutal e estilosa contra os nazistas.

 

Nota: 4/10


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