Neon Noir
A trama é protagonizada por Heraldo (Iago Xavier). Ele e o irmão trabalham para a chefe de uma facção local e são incumbidos de eliminar um rival dela. Um dia antes do assassinato, Heraldo se envolve com uma mulher que conheceu em um show e vai com ela para um motel, ele acorda no dia seguinte atrasado para o assassinato e quando chega no local combinado descobre que o irmão tentou o ataque sozinho e foi morto. Temendo a vingança da chefe e dos companheiros, Heraldo volta ao motel para se esconder e convence o casal de donos, Dayana (Nataly Rocha) e Elias (Fábio Assunção) a deixá-lo ficar lá em troca de emprego. Aos poucos, tanto Elias quanto Dayana demonstram interesse nele, com Heraldo eventualmente se envolvendo com Dayana.
O envolvimento entre os dois traz consigo um óbvio risco por conta da agressividade instável de Elias, um ex-policial do Rio que veio morar no interior do Ceará provavelmente também para se esconder de algo do seu passado. Assim, a trama vai construindo suas tensões em uma fervura lenta, com o laço sexual e afetivo de Dayana e Heraldo se fortalecendo na mesma medida que Elias passa a ter mais razões para desconfiar do novo funcionário. É um ritmo que evoca o noir tanto pelo fluxo deliberado da trama como pelas paisagens distorcidas pelo contraste entre luz e sombra, especialmente pelo uso iluminação neon em tons de vermelho intenso.
Esse uso da luz confere um caráter por vezes onírico e por vezes delirante às imagens, como se elas refletissem os sonhos, pesadelos e delírios febris daquelas pessoas. Refletem também o motel como esse espaço fora da realidade, um refúgio onde é possível se esconder do mundo exterior e no qual desejos e fantasias, mesmo que perigosas, podem se concretizar.
Desejo, violência e masculinidade
O desejo que une Heraldo e Dayana é construído aos poucos e conforme conhecemos esses personagens aprendemos sobre o senso de solidão, desamparo e frustração que eles compartilham. Isso é evidenciado na cena em que Heraldo confidencia a Dayana sobre sua relação com o irmão, revelando o quanto foi protegido por ele e deixando sair toda a raiva que sente de si mesmo por tê-lo deixado morrer. Impressiona como o ator Iago Xavier sai de uma rememoração tão triste para uma agressividade tão intensa que ele mal consegue falar direito e o fato de Dayana apenas fechar a porta do recinto e continuar a ouvi-lo mostra como ela, em alguma medida, entende esses sentimentos. Posteriormente aprendemos como ela própria está presa em uma relação tóxica com Elias, vendo Heraldo como um refúgio para seus problemas.
Nesse sentido, a dinâmica de tensão entre os dois e Elias, um homem que parece ser capaz de explodir em uma reação violenta a qualquer momento, tem também algo a comentar sobre padrões ou expectativas de masculinidade. A crítica à noção de padrões ou expectativas de uma masculinidade mais tradicional já esteve presente em outras obras do diretor Karim Ainouz, como Madame Satã (2002) ou Praia do Futuro (2014) e voltam a aparecer aqui, embora não seja desenvolvida com a mesma força que trabalhos anteriores do realizador.
Assim, Motel Destino é um eficiente drama sobre fuga e desejo, analisando
o que move seus personagens em seus impulsos embora alguns temas não tenham a
mesma consistência de trabalhos anteriores do diretor.
Nota: 7/10
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