quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Crítica – A Primeira Profecia

 

Análise Crítica – A Primeira Profecia

Funcionando como prelúdio para A Profecia (1976) este A Primeira Profecia conta as origens da seita sinistra que tenta trazer o anticristo para o mundo e mergulhá-lo em trevas. Considerando que nenhuma tentativa de continuar A Profecia foi lá grande coisa eu não tinha muitas expectativas em relação a esse prelúdio, mas, felizmente, o resultado é um terror bem executado.

A trama se passa no final da década de 60 e gira em torno de Margaret (Nell Tiger Free), freira que é enviada para trabalhar em um orfanato em Roma. Chegando lá ela conhece a jovem Carlita (Nicole Sorace), que exibe um comportamento instável e esquisito. Com o tempo Margaret experimenta visões e outras ocorrências estranhas e começa a desconfiar que a responsável pelo local, a Irmã Silva (Sônia Braga) guarda algum segredo sombrio.

Fé e poder

A ideia de uma seita que engravida uma mulher contra a sua vontade de modo a consolidar seu poder remete ao recente Imaculada, com a diferença que A Primeira Profecia mantem seu foco nesses temas de religiosidade, poder, controle e subjugação feminina ao invés de descambar para o puro slasher como fez o terror protagonizado por Sydney Sweeney. Aqui o contexto de efervescência cultural pós maio de 68 na França é usado tanto para comentar a reação de forças conservadoras da época como também para falar do presente em que vemos a ascensão de uma retórica reacionária que se sente ameaçada pelo progresso e inclusão das últimas décadas.

Nesse sentido, a noção de uma seita que deseja trazer o anticristo para mergulhar o mundo em trevas e assim aproximar novamente as pessoas da igreja e do divino reflete esse conservadorismo que teme perder a influencia e poder que exerce sobre o mundo por conta da mudança dos paradigmas sociais. Um poder construído em cima da manutenção do status quo que inclui o controle sobre os corpos femininos e a subjugação da autonomia da mulher ao que se exige dela.

O controle dos corpos femininos

Ser forçada a engravidar e ter um filho contra a vontade é um terror bem presente na jornada de Margaret, com o filme nos trazendo várias imagens perturbadoras de mulheres amarradas em macas tendo seus corpos violados por membros da seita. O filme apresenta duas cenas de parto impactantes que transmitem essa sensação de pavor em ter o próprio corpo subjugado ao controle de outros.

Para além desses momentos de imagens graficamente grotescas, como uma mão sombria saindo do meio das pernas de alguém, a produção é eficiente em construir um senso crescente de tensão conforme Margaret começa a vivenciar coisas inexplicáveis e sentimos que há um mal à espreita que pode estar em busca dela ou de pessoas próximas. Sim, a reviravolta envolvendo o passado da protagonista é relativamente previsível, embora isso não chegue a prejudicar o clima sinistro que o filme desenvolve.

A Primeira Profecia pode não oferecer nenhuma grande reinterpretação nem nos faz olhar de modo diferente para o clássico de 1976, mas não deixa de ser um terror eficiente que reflete sobre conservadorismo, estruturas de poder e subjugação feminina.

 

Nota: 7/10


Trailer

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