sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Crítica – Calor Mortífero

 

Análise Crítica – Calor Mortífero

Review – Calor Mortífero
Nunca li os livros de Jo Nesbo, mas meu contato com adaptações de suas obras não foi dos melhores. Primeiro com o péssimo Boneco de Neve (2017) e agora com este fraco Calor Mortífero, produção da Prime Video que adapta o conto O Homem Ciumento de Nesbo.

Mistério requentado

A trama se passa na Grécia e acompanha o detetive particular Nick Bali (Joseph Gordon Levitt) contratado pela socialite Penelope (Shailene Woodley) para investigar a morte de seu cunhado Leo (Richard Madden). Leo teria morrido ao cair de um penhasco durante uma escalada livre (sem equipamentos), com a morte sendo considerada um acidente. Penelope, no entanto, desconfia de algo, já que o controle da empresa da família está em jogo, contrata o detetive. As principais suspeitas recaem sobre Elias (Richard Madden), irmão gêmeo de Leo e marido de Penelope, e Audrey (Claire Holman), a controladora mãe dos gêmeos.

O primeiro problema é a quantidade bem reduzida de suspeitos que dá a trama poucas possibilidades de jogar com nossas expectativas e construir bons despistes. É óbvio desde o início que Penelope sabe mais do que diz e que Elias tem envolvimento direto com a morte do irmão. Com poucos minutos de filme é possível prever as principais reviravoltas já que a narrativa segue todos os clichês de histórias com gêmeos incluindo a óbvia manobra de um gêmeo trocar de lugar com o outro.

Homens de areia

O fato de o mistério ser óbvio e a trama não possuir qualquer senso de urgência seria aliviado se ao menos tivéssemos personagens interessantes, o que não acontece. Embora interprete dois personagens, Madden não faz nada de diferente em nenhum deles (em termos de linguagem corporal, voz ou qualquer outro atributo) de modo a fazê-los indivíduos diferentes. O roteiro nos informa que eles tinham personalidades opostas (mais um clichê de tramas com gêmeos), mas o trabalho do ator, figurinos ou qualquer outro elemento visual faz pouco para estabelecer essas personalidades. Assim quando a reviravolta final vem, ela não tem impacto algum porque precisaríamos acreditar na capacidade mimética de um em emular o comportamento do outro ao ponto de nunca percebermos a troca até isso ser revelado.

A Penelope de Shailene Woodley carece de qualquer senso de ambiguidade ou dúvida quanto às suas motivações, sendo óbvio desde o início que ela está manipulando Nick. A personagem ainda é prejudicada por um plano meio que mirabolante demais que dependia de coisas que ela não tinha como controlar para dar certo, incluindo a ação extrema da sogra no final, já que se as coisas fossem diferentes Penelope certamente seria implicada no crime.

Nick é o típico detetive atormentado por erros do passado, o arquétipo básico do noir. Embora Levitt tente trazer o peso da culpa que paira constantemente sobre o personagem, o problema é que o material é raso demais para levar isso a qualquer direção minimamente interessante. O ator ainda é prejudicado pelas narrações do personagem que em boa parte dos casos apenas falam sobre o que está acontecendo em cena, soando redundantes. Não posso deixar de apontar como é curioso que as narrações de Nick comparem o personagem de Madden ao Ícaro na mitologia grega quando Madden já tinha interpretado outro sujeito objeto da mesma comparação com seu Ikaris em Eternos (2021).

Com uma trama arrastada, reviravoltas óbvias e personagens inanes Calor Mortífero é um noir entediante que falha em construir um mistério envolvente ou criar tensão.

 

Nota: 3/10


Trailer

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