sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Crítica – Marvel vs Capcom Fighting Collection

 

Análise Crítica – Marvel vs Capcom Fighting Collection

Review – Marvel vs Capcom Fighting Collection
De uns anos para cá a Capcom parece interessada em resgatar a memória de seus clássicos games de luta. Primeiro lançaram a Capcom Fighting Collection trazendo games da década de 90 que a empresa nunca fez novas iterações como Darkstalkers ou Cyberbots. Este ano a empresa pegou todo mundo de surpresa com o anúncio desta Marvel vs Capcom Fighting Collection que compila os jogos de fliperama que a Capcom fez em parceria com a Marvel. Digo que pegou de surpresa porque desde o fracasso de Marvel vs Capcom Infinite a relação entre as duas empresas não parecia estar em um bom momento e mesmo campanhas de fãs para trazer de volta games como Marvel vs Capcom 2, como a liderada pelo youtuber Maximilian Dood, eram recebidas com frieza pela Capcom e com respostas de que era difícil algo assim acontecer.

Felizmente, porém, aconteceu e agora temos esta ótima compilação que traz sete jogos: X-Men: Children of the Atom, Marvel Super Heroes, X-Men vs Street Fighter, Marvel vs Street Fighter, Marvel vs Capcom, Marvel vs Capcom 2 e The Punisher, que não é um game de luta, mas um beat’em up, sendo o primeiro jogo de fliperama que a Capcom fez em sua parceria com a Marvel. Alguns desses jogos não tem lançamento oficial desde a era do Playstation 3, como os dois Marvel vs Capcom, enquanto outros ainda estavam presos no primeiro Playstation, a exemplo de X-Men vs Street Fighter.

A mim, meus X-Men!

O primeiro game é X-Men COTA, contando com dez personagens entre heróis e vilões o jogo estabelece as bases para os games de luta de super-heróis da Capcom com especiais bombásticos que preenchem toda a tela, super-saltos que permitem combos e bloqueios aéreos, ou dashes para se deslocar rapidamente pelo chão. É um jogo de cadência mais lenta que os que vem depois e jogando contra a CPU ele sofre de um problema comum da época em jogos luta. A IA não reage a suas ações, ela simplesmente lê seus inputs no controle instantaneamente e age no primeiro de qualquer ação que você faça, bloqueando ou contra-atacando quase que o tempo todo mesmo em dificuldades mais baixas. Ela também pode ignorar frames de recuperação depois de errar um golpe, tornando quase impossível punir a CPU em caso de erro em certas dificuldades e tornando tudo meio injusto já que o computador praticamente pode escolher ignorar as regras do jogo. Os chefões são tão apelões que mesmo em dificuldades mais baixas uma boa parte das minhas lutas contra Magneto eu venci por time out.

Marvel Super Heroes expande o escopo para todo o universo Marvel trazendo heróis e vilões conhecidos como Capitão América ou Hulk e outros menos populares como Shuma Gorath e Black Heart. Muito da jogabilidade de COTA se mantem, mas o game traz uma nova mecânica nas Joias do Infinito. Como a trama é baseada no arco dos quadrinhos de Thanos e da manopla do infinito, durante as lutas é possível coletar as diferentes joias e ativa-las para diferentes ganhos: algumas regeneram vida, outras preenchem a barra de especial, aumentam dano ou defesa. Alguns personagens tem habilidades específicas ativadas por certas joias, como Magneto que usa seu campo magnético ao ativar a joia do espaço ficando temporariamente invulnerável.

O crossover verdadeiramente começa com X-Men vs Street Fighter que inaugura a mecânica de duplas, com o jogador escolhendo dois personagens que podem ser trocados durante a partida. Os personagens de Street Fighter tem seus poderes turbinados para fazer jus às habilidades bombásticas dos X-Men com o Shinkuu Hadouken de Ryu, por exemplo, se tornando um poderoso feixe de energia. As lutas são bem mais velozes que os antecessores e a mecânica de duplas estimula a experimentação de combinações para criar combos devastadores. A versão que está nessa coletânea traz alguns ajustes de balanceamento que removem alguns combos infinitos fáceis de certos personagens.

Marvel vs Street Fighter é o menos interessante da coleção, já que apesar de expandir o crossover dos X-Men para todo o universo Marvel todos os cenários e personagens são reciclados de outros jogos. Os cenários são todos os mesmos de XvS e os personagens são sprites reaproveitados de games anteriores. A seleção de personagens incomoda pela falta de variedade, com o lado da Capcom trazendo cinco “shotos” (Ryu, Ken, Akuma, Dan e Sakura) que apesar do esforço de diferenciá-los ainda assim soam muito próximos e seria mais interessante ter lutadores mais diferenciados. O único personagem novo é exclusivo da versão japonesa, o estudante Norimaro, inspirado em um personagem cômico japonês (seria como se alguém colocasse o Mr. Bean para sair na mão com Ryu ou Wolverine). Em termos de mecânicas a única adição é a possibilidade de chamar sua dupla para um breve ataque de assistência. É uma mecânica que seria mais expandida em jogos posteriores e aqui tem usos bem limitados, apesar de sua introdução ser o trampolim para o resto. A única coisa realmente memorável no jogo é o narrador, especialmente a maneira como ele grita efusivamente o nome de cada supergolpe quando você derrota o oponente com algum desses especiais.

I wanna take you for a ride

E então chegamos ao ápice do crossover com o início dos games Marvel vs Capcom. O primeiro jogo tem menos personagens que os crossovers anteriores, mas tem uma seleção que surpreende pela escolha de lutadores, trazendo personagens pouco conhecidos da Capcom (ou que há anos não tinham seus próprios jogos) como o Jin de Cyberbots, Hiryu de Strider ou o Capitão Comando. O lado da Marvel tinha menos novidades, com o Máquina de Combate sendo basicamente uma skin do Homem de Ferro e o Venom sendo o único novo sprite entre os heróis e vilões da Marvel.

A mecânica de assistência se torna parte fundamental das lutas, sendo que aqui os golpes de assistência não vem de sua dupla, mas de um personagem aliado sorteado no início de cada luta. É um sistema que parece aleatório, mas que existem códigos para controlar quem vai ser seu aliado. Saber disso é importante porque as assistências são meio desbalanceadas. Algumas, como Colossus e Psylocke, são super úteis enquanto outras, como Devillote ou Pure & Fur, são bem situacionais. Os aliados também trazem várias referências a personagens da Capcom e da Marvel, trazendo figuras como o Arthur de Ghosts ‘n Goblins ou a Jubileu dos X-Men. Outra nova mecânica são os Duo Team Attacks que trazem os dois lutadores ao mesmo tempo para a arena, permitindo usar os dois personagens por um tempo limitado para causar alto dano no inimigo.

Marvel vs Capcom 2 é a joia da coroa da coleção, um game celebrado como um dos melhores jogos de luta de todos os tempos por sua ampla gama de personagens e possibilidades de criatividade do jogador. No entanto, MvC 2 nem sempre foi tão amado pelos jogadores. Na época de seu lançamento muitos elementos desagradaram. Muitos não gostaram da alteração de lutas em duplas para trios. A mudança de um layout de seis botões de ataque para quatro (com os outros dois dedicados a chamar assistências) foi vista como uma simplificação do sistema de combate. A trilha musical de jazz vibrante, como o icônico tema da tela de seleção de personagem, foi vista como distoante do clima da franquia.

O tempo, no entanto, fez justiça ao game. Com 56 personagens, um tamanho absurdo para época, há muita variedade a ser encontrada entre os lutadores que retornam e as caras novas, como Cable e Medula (líder dos Morlocks) do lado da Marvel ou Hayato (de Star Gladiator) e Jill Valentine (de Resident Evil) do lado da Capcom. O jogo traz até lutadores originais como a pirata espacial Ruby Heart, que serve de fio condutor para a história, embora lamentavelmente não tenhamos aqui finais individuais para cada lutador como todos os outros games.

É um jogo tão vasto que até hoje as pessoas estão descobrindo novas combinações de times e assistências já que cada um dos lutadores tem três tipos de ataque de assistência e isso abre um conjunto imenso de possiblidades. Claro, não é o mais balanceado dos games de luta, com alguns lutadores sendo claramente melhores, algo visível em competições em que personagens como Magneto, Sentinela, Tempestade ou Dr. Destino estão constantemente presentes nas equipes dos jogadores. Isso, porém, não muda fato de que é divertidíssimo encontrar novas possibilidades de combos apelões e criar um time em que tocar no adversário implica em um combo que irá tirar toda a vida de um dos lutadores inimigos. A versão dessa coleção até faz alguns ajustes removendo certos bugs que eram explorados por jogadores, como o glitch que fazia o Fanático manter a ativação de sua habilidade que aumentava seu ataque pela luta inteira, tornando o personagem muito apelão.

Completando a coleção está The Punisher um beat’em up que coloca os jogadores para controlarem o Justiceiro e/ou Nick Fury em uma cruzada contra o Rei do Crime. É um game relativamente curto para os padrões do gênero, mas isso acaba sendo bom para evitar o senso de repetição que era comum em jogos desse tipo ali por volta dos anos 90. O jogo tem certa variedade nas múltiplas armas que é possível empunhar e nos segmentos de tiro, já que Frank Castle não tem nenhum problema em matar seus adversários e saca sua pistola sempre que inimigos com armas de fogo aparecem. O game também chama a atenção pela violência gráfica, incomum para os games da Marvel da época, com sangue jorrando dos inimigos e cadáveres chamuscados aparecendo dentro de um carro explodido.

Funcionalidades

Todos os jogos da coletânea podem ser jogados online, mesmo The Punisher pode ser jogador cooperativamente, tendo rollback netcode para garantir lutas fluidas e quase sem engasgos. As partidas que joguei fluíram sem problemas, embora em alguns games eu demorei um pouco para encontrar oponentes. Há também a possibilidade de salvar os jogos em qualquer ponto em que esteja para voltar a eles depois, mas a estrutura de save states infelizmente oferece um único espaço de salvamento para toda a coleção ao invés de um por jogo, o que é uma pena, já que obriga o jogador a ir até o fim em qualquer save antes de salvar qualquer coisa de outro jogo sob o risco de perder progresso.

Os games de luta contam todos com modos de treino que trazem dados de frames de cada movimento e visualizar as hitboxes e hurtboxes dos lutadores, sendo uma excelente ferramenta para refinar suas habilidades. Como em outras coletâneas também temos acesso a uma galeria com várias artes conceituas e as músicas dos vários games. Cada jogo também traz consigo várias opções de filtros que simulam o visual de monitores CRT ou que suavizam os pixels. Todos os jogos estão disponíveis em suas versões estadunidenses e japonesas, havendo algumas diferenças bem pequenas entre elas. A mais notável é em Marvel vs Street Fighter, na qual o Norimaro só está presente na versão japonesa.

Marvel vs Capcom Fighting Collection é uma ótima coleção que resgata a memória de uma era de ouro dos jogos de luta e traz várias funcionalidades que os tornam relevantes no cenário competitivo atual. Independente de você ser alguém que cresceu com esses jogos (como eu) ou alguém que está tendo seu primeiro contato com eles, a coleção é a melhor maneira de acessar esses games.

 

Nota: 9/10


Trailer

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