quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Crítica – O Cara da Piscina

 

Análise Crítica – O Cara da Piscina

Review – O Cara da Piscina
Se não me engano foi o crítico Roger Ebert que disse que um filme bom nunca é longo o bastante e um filme ruim nunca é curto o bastante. Isso se aplica perfeitamente a este O Cara da Piscina, cujos meros cem minutos de duração se transformam em algo tão dolorosamente excruciante que o filme parece ter mais de quatro horas de duração.

A trama é centrada em Darren (Chris Pine), um tratador de piscinas hiponga, conspiracionista, metido a filósofo e ativista político, sempre cobrando mudanças nas linhas de ônibus na câmara de vereadores. Quando ele esbarra em um escândalo envolvendo o presidente da câmara, Stephen Toronkowski (Stephen Tobolowski), que pode estar recebendo propina do magnata imobiliário Theodore Hollandaise (Clancy Brown) para aprovar um grande empreendimento, Darren decide investigar a questão. No meio do caminho encontra a femme fatale June (DeWanda Wise) e mais uma série de personagens pitorescos.

Lombra errada

A impressão é que Pine, que além de protagonizar escreveu e dirigiu o filme, tentou fazer um noir pós-moderno ao estilo de Vício Inerente (2014), dirigido por Paul Thomas Anderson e adaptado do romance de mesmo nome de Thomas Pynchon. A diferença é que Anderson e Pynchon usavam sua trama que brincava com os clichês do noir e seu protagonista hippie e confuso para comentar sobre o clima político e social da década de 70, observando com melancolia o fim de uma “era de ouro” dos EUA conforme uma série de projetos políticos se dissolvia, fracassava ou se fragmentava. Anderson construiu seu filme como um “noir para maconheiros” que pensava as transformações no país como uma bad trip ou um delírio febril.

O filme de Pine, por outro lado, falha em tecer qualquer tipo de comentário mordaz sobre os Estados Unidos de hoje para além de observações rasteiras sobre corrupção e um olhar romantizado e ingênuo a respeito de ativismo político. Aqui e ali ele tenta comentar sobre Los Angeles como uma cidade que instiga sonhos de fama na indústria do cinema apenas para mastigar esses sonhadores e cuspir fora ou sobre questões ambientais relativas ao desenvolvimento da cidade, mas nunca tem nada consistente a dizer.

Que a questão da água em Los Angeles e da corrupção na cidade já tenham sido exploradas muito bem em filmes como Chinatown (1974) não ajuda a produção. Sim, o filme menciona a produção estrelada por Jack Nicholson e reconhece certas similaridades, mas é o tipo de referencialidade inane que não diz nada sobre os produtos culturais que comenta. Em vários momentos a produção cita filmes e estrelas da Hollywood de outrora e todas essas citações soam como se Pine estivesse apenas exibindo sua cinefilia ao espectador para soar inteligente, sem um projeto artístico ou uma intenção de comunicar o que quer que seja ao costurar essas referências.

Picardias inanes

Além de um noir, o filme também tenta ser um estudo de personagem, tratando Darren como uma espécie de herói picaresco buscando seu lugar no mundo. O problema é que Darren não é nada mais que um conjunto de cacoetes e peculiaridades ao invés de uma personalidade plenamente construída. Ele se limita a reproduzir platitudes e palavras de ordem vazias. É um personagem que remete ao The Dude de O Grande Lebowski (1998), mas sem a ingenuidade simplória do protagonista vivido por Jeff Bridges, que se envolvia em uma longa conspiração simplesmente para recuperar o tapete de sua sala.

Assim, Darren é só um sujeito medíocre que se acha muito mais esperto do que realmente é, cujas boas intenções são ofuscadas justamente por esse senso equivocado que ele tem de si mesmo e que a trama trata como virtude, sendo que no mundo real esse tipo de pseudofilósofo conspiracionista é o tipo de figura que inevitavelmente tem descambado para ataques à democracia. Se a história de Darren acabasse com ele de alguma maneira percebendo boa parte de seus equívocos, ao menos ele teria passado por alguma transformação, mas o desfecho que o filme dá a ele, com tudo justificando sua conduta e seu modo de agir e enquadrando isso como algo positivo soa bastante equivocado. Sim, esse desfecho é coerente com o modelo de herói picaresco, mudando os outros e não a si mesmo, o problema é que insiste que as limitações ou falhas do personagem sejam virtudes. 

Ao lado de Pine está um elenco repleto de nomes competentes como Danny DeVito, Anette Benning, Jennifer Jason Leigh e tantos outros interpretando um amplo plantel de sujeitos exóticos. O problema é que, como Darren, todos eles são uma mera junção de cacoetes cuja conduta é motivada mais por necessidades da trama do que qualquer motivação consistente desses indivíduos. DeWanda Wise é ótima em construir a ambiguidade de sua mulher fatal, equilibrando sedução e dissimulação, sendo completamente desperdiçada em um material que não aproveita muito a qualidade de sua composição e o mesmo se aplica ao resto do elenco.

O Cara da Piscina é um filme que se comporta como se estivesse nos entregando uma piscina em perfeitas condições de banho, mas na verdade nos deixa com água suja e um ph desequilibrado, resultando em uma experiência completamente desagradável.

 

Nota: 1/10


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