segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Crítica – O Dia Que Te Conheci

 

Análise Crítica – O Dia Que Te Conheci

Review – O Dia Que Te Conheci
O cinema de André Novais e dos outros diretores da Filmes de Plástico é muito calcado na construção de um senso de cotidianidade. Se o drama normalmente tenta se concentrar nos grandes momentos de triunfo ou tragédia da vida comum, André e seus colegas entendem que a vida se constrói principalmente nos interlúdios entre essas duas coisas, que o grosso de nosso tempo se concentra nesse “eterno quase” de conseguirmos ou não aquilo que desejamos e neste "eterno quase" em que residem muitos de nossos momentos especiais. O Dia Que Te Conheci é um romance que se desenvolve justamente nesses momentos.

Um dia na vida

A trama é centrada em Zeca (Renato Novaes), que precisa acordar muito cedo todo dia para ir trabalhar como bibliotecário na escola de uma cidade vizinha. Zeca tem cada vez mais dificuldade de chegar a tempo no trabalho e acaba sendo demitido. Para voltar para casa, resolve aceitar carona da colega (ou melhor, ex colega de trabalho agora) Luisa (Grace Passô). No trajeto os dois começam a conversar e a se conhecerem melhor, descobrindo o quanto tem de afinidade.

A narrativa acompanha os personagens ao longo de um dia e opta por planos longos e pouquíssimos cortes a cada cena. A impressão é que acompanhamos o dia de Zeca quase que em tempo real (já que a trama tem elipses temporais), que vemos a vida no instante em que ela é vivida e como o afeto floresce entre esses dois personagens a partir de conversas e gestos que soam aparentemente banais, mas cuja somatória culmina em uma conexão intensa entre eles.

Afeto e naturalismo 

De certa forma a estrutura lembra filmes como Antes do Amanhecer (1995), que também acompanha um casal se conhecendo e criando uma conexão intensa ao longo de um dia vagando juntos. Nesse sentido o trabalho dos dois atores é tão importante quanto a direção para criar o senso de naturalismo que o filme quer transmitir. Tanto Renato Novaes quanto Grace Passô transmitem uma naturalidade enorme no modo como navegam pelas situações que são colocadas a seus personagens, com diálogos que soam como conversas casuais e que dão a impressão de que André Novais simplesmente ligou a câmera e saiu filmando os dois enquanto improvisavam suas falas. 

Esse senso de naturalidade nos faz perceber como diálogos nos quais eles falam sobre quais medicações usam ou como se sentem em relação ao trabalho na escola aos poucos os fazem perceber o quanto tem em comum e como esse interesse vai surgindo aos poucos. Quando os dois chegam a um bar para esperar uma amiga de Luisa é evidente que já há ali uma conexão. Mesmo quando ela recusa o primeiro convite de Zeca para ir à casa dele quando ela percebe que a amiga não virá ainda assim a composição de Grace Passô (que já trabalhou com o diretor André Novais em Temporada) da indícios sutis do interesse de Luisa, fazendo a recusa soar mais como uma hesitação do que como uma negativa.

São esses momentos de pequenas expressões, pequenas inflexões de voz que aos poucos vão crescendo no desejo que culmina no desfecho do filme que tornam O Dia Que Te Conheci um exame tão singelo do que faz duas pessoas se apaixonarem. Como um dia banal, que aparentemente não teria nada de diferente dos outros, se torna marcante justamente pelo acúmulo desses pequenos momentos que levam a um afeto que transforma seus personagens.

 

Nota: 8/10


Trailer

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