quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Crítica – Os Fantasmas Ainda Se Divertem

 

Análise Crítica – Os Fantasmas Ainda Se Divertem

Review – Os Fantasmas Ainda Se Divertem
Com a mania de Hollywood em continuações tardias que apelam para a nostalgia do espectador é a vez de Tim Burton se juntar à onda com este Os Fantasmas Ainda Se Divertem, continuação de Os Fantasmas Se Divertem (1988). Não esperava muita coisa e o resultado final é meio bagunçado por subtramas que não vão a lugar nenhum, mas ao menos é divertido por mais que seja mais estilo do que substância.

Bagunça sobrenatural

Mais de trinta anos depois do original, Lydia Deetz (Winona Ryder) tem um programa de investigação sobrenatural, explorando sua mediunidade para ganhar dinheiro com a ajuda do noivo Rory (Justin Theroux). Quando o pai dela morre (porque é claro que eles não trariam de volta o Jeffrey Jones depois que ele foi preso por conta de vários crimes sexuais incluindo pedofilia) Lydia precisa voltar a sua cidade natal, se reconectando com a filha, Astrid (Jenna Ortega), e com a madrasta Delia (Catherine O’Hara). O retorno de Lydia também chama atenção do espectro Beetlejuice (Michael Keaton), que segue obcecado em casar com Lydia. O fantasma lida com seus próprios problemas, já que sua antiga noiva Delores (Monica Belucci) se libertou de sua prisão sobrenatural e agora busca vingança.

São muitas narrativas e núcleos de personagem e nem todos são interessantes. Eu entendo que no papel Rory deveria ser um sujeito tosco e canastrão, mas a atuação de Justin Theroux é tão excessiva que em momento algum duvidamos que ele é um picareta manipulador se aproveitando de Lydia para seu ganho pessoal. Quando ele finalmente revela isso no clímax é tão óbvio que não tem qualquer impacto. Para o personagem funcionar deveria haver nele alguma ambiguidade, ele precisaria nos deixar incertos se Rory era só um bundão patético ou se há malícia em suas ações, mas Theroux não traz essa dúvida.

O arco envolvendo Delores e Beetlejuice vai do nada a lugar algum, com os dois só se encontrando no final e fazendo pouca diferença no grande esquema da narrativa. Monica Belucci ganha o cachê mais fácil da carreira dela ao apenas fazer cara de mulher fatal durante todo o filme. A única coisa positiva desse arco é o policial zumbi interpretado por Willem Dafoe.

Do mesmo modo, a revelação envolvendo Jeremy (Arthur Conti), o garoto local por quem Astrid se apaixona, é telegrafada com tanta antecedência que não causa qualquer surpresa. Sempre que Astrid interage com ele os dois estão sozinhos e quando eles entram na casa o filme propositalmente oculta o rosto dos pais do garoto.

Trevas e cores

O que faz o filme funcionar em termos de personagens é a relação entre Lydia, Astrid e Delia, que convence da dinâmica problemática de uma família formada por pessoas excêntricas cheias de traumas entre si. A essa altura já é evidente que Ortega pode interpretar uma adolescente trevosa com as mãos amarradas nas costas (vide Wandinha, por exemplo), mas por mais que seja uma decisão óbvia de casting a personagem funciona ao lado de uma Lydia mais calejada pelos traumas do passado e que também já encontrou alguma medida de paz na relação com a madrasta, agora vendo a filha passar pela mesma rebeldia juvenil que ela passou outrora.

Funciona também pela energia caótica que Keaton continua a trazer como Beetlejuice, acertando na conduta oportunista, no humor crasso e no charme cafajeste do fantasma. Keaton faz funcionar qualquer piada e situação que o texto dá para ele mesmo quando são gags previsíveis.

Além desse quarteto de personagens a direção de arte é outro elemento no qual o filme se destaca. Como é comum na obra de Burton, o mundo dos mortos é mais colorido e vibrante que o mundo dos vivos, com uma arquitetura torta e cheia de contrastes que soa claramente inspirada pelo cinema expressionista alemão dos anos de 1920. O filme cria uma série de criaturas e lugares bizarros, cuja predileção por efeitos práticos, como o uso de stop motion nos vermes de areia, confere tudo isso de uma materialidade que ajuda a torná-los mais críveis.

Por mais que o arco de Delores acabe pouco aproveitado, com a bruxa raramente soando como uma ameaça urgente e sendo facilmente vencida no final, ao menos a trama permite a Burton brincar com referências ao cinema italiano, em especial o horror (como no flashback de Beetlejuice) e o giallo (em boa parte das cenas com o Willem Dafoe) produzindo muitos momentos divertidos.

Assim, mesmo por vezes se perdendo em muitas tramas que não acrescentem muito, Os Fantasmas Ainda Se Divertem vale pelo carisma do elenco e pela visualidade marcante de Tim Burton.

 

Nota: 6/10


Trailer


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