Apesar de ter adorado a vilã
afrontosa vivida por Kathryn Hahn em Wandavision,
confesso que não estava muito empolgado para a minissérie Agatha Desde Sempre. Primeiro porque não sabia se a personagem
tinha estofo suficiente para sustentar uma série sozinha. Segundo porque a produção
teve tantas atribulações, sendo reescrita, adiada e sofrendo alterações de
título tantas vezes que temi que o resultado fosse uma bagunça incoerente. Felizmente
a série é melhor do que eu esperava.
Algo oculto e impuro
A trama reencontra Agatha (Kathryn
Hahn) ainda presa na vida ilusória que Wanda (Elizabeth Olsen) criou para ela
no final de Wandavision. Ela é
libertada graças à intervenção de um misterioso jovem (Joe Locke) que deseja a
ajuda de Agatha para adentrar o mítico Caminho das Bruxas e alcançar o poder
dado a quem supera seus desafios. Agatha vê no garoto uma oportunidade de
recuperar seu poder, montando um novo coven de bruxas de quem poderá extrair
poder.
Depois de reunir Matt Damon e
Casey Affleck com o fraco Os Provocadores, a AppleTV volta a promover mais uma mini reunião de Onze Homens e um Segredo (2001) ao
juntar novamente Brad Pitt e George Clooney neste Lobos. Infelizmente assim como Os
Provocadores o resultado aqui é um thriller
morno
Operativos discretos
Na trama, Clooney é um mercenário
especialista em fazer desaparecer as indiscrições dos poderosos. Ele é
contratado pela promotora Margaret (Amy Ryan) depois que um jovem com quem ela
está tendo um caso aparentemente morre em seu quarto de hotel. O problema é que
os donos do hotel também contrataram seu próprio mercenário no operativo vivido
por Brad Pitt. Como os dois clientes têm seus próprios interesses a proteger,
os mercenários são obrigados a trabalharem juntos. As coisas se complicam
quando os dois encontram uma quantidade enorme de drogas na mochila do garoto
morto e precisam descobrir a quem as drogas pertencem para que os donos não
mirem em seus clientes.
Chegando a sua terceira
temporada, O Poder e a Lei funciona
como uma espécie de série conforto para mim. Não tem nada de novo em termos de
drama de tribunal, mas executa esses elementos com competência e carisma para
me manter interessado mesmo que eu perceba todos os lugares comuns em cena.
Lei para quem precisa
A trama segue onde o segundo ano parou, com Mickey (Manuel Garcia-Rulfo) tentando descobrir quem matou sua
antiga cliente, Gloria (Fiona Rene), ao mesmo tempo em que defende o homem
acusado de matá-la, Julian (Devon Graye), a quem Mickey considera inocente.
Para o advogado inocentar Julian o levará diretamente ao culpado pela morte de
Gloria, mas isso o coloca em meio a uma perigosa teia de crimes.
Uma mulher enlutada pela morte do
filho vai até o parque florestal em que ele morreu com o intento de se matar.
Lá ela conhece um estranho que a convence a desistir do suicídio, mas logo a
derruba com uma arma de choque e a leva cativa. Ela tenta se libertar, mas
descobre que foi drogada com um paralisante potente que em questão de minutos
irá travar seus músculos, então ela precisa correr contra o tempo.
O que me chamou atenção neste Bloomtown: A Different Story foi a sua
mistura de RPG e simulação social que evocava a franquia Persona e em sua ambientação em uma pequena cidade interiorana na
década de 60, evocando aventuras juvenis como Stranger Things. Embora use essas referências com competência, o
jogo produzido pela desenvolvedora lituana Lazy Bear Games nunca consegue ser
mais do que uma derivação de elementos conhecidos.
Estrelado por Peter Dinklage e
Josh Brolin, Irmãos conta a história
de dois irmãos gêmeos não idênticos e criminosos que se reencontram depois anos
afastados para um último golpe. Jady (Peter Dinklage) sai da cadeia
antecipadamente ao prometer a um guarda corrupto, Farful (Brendan Fraser), dar
a ele esmeraldas que foram roubadas décadas atrás. Para recuperar as joias Jady
busca o irmão, Moke (Josh Brolin), para ajudá-lo no esquema, já que foi a mãe deles
quem roubou as esmeraldas. A questão é que Moke já abandonou a vida de crimes,
tem um emprego formal e está com a esposa, Abby (Taylour Paige, de Um Tira da Pesada 4), grávida, com o
retorno de Jady abrindo antigas feridas entre os dois.
Estreia da atriz Anna Kendrick
como diretora, A Garota da Vez parte
de uma história real para analisar as tensões de navegar no mundo sendo mulher
sob o constante temor de que os homens ao seu redor se revelem abusivos ou
violentos. A trama acompanha Sheryl (Anna Kendrick), uma aspirante a atriz cuja
carreira não consegue decolar. A agente de Sheryl consegue para ela uma
participação em um game show ao
estilo Namoro na TV, no qual ela deve ser uma garota interessada em conseguir
um namorado e precisa escolher entre três solteiros que ela não vê e vai
conhecer apenas através de perguntas. O problema é que um desses solteiros,
Rodney (Daniel Zovatto), é um serial
killer.
Mulheres objeto
Já na primeira cena com Sheryl em
um teste de elenco o filme ilustra como Hollywood é um espaço que objetifica
mulheres ao mostrar os dois produtores de elenco cochichando sobre a aparência
da personagem enquanto a câmera abre o plano para mostrar que Sheryl está em pé
bem diante deles. O final da cena, em que eles mudam de atitude no instante em
que ela diz não se interessar por fazer cenas com nudez reforça a ideia de que
ela está ali para servir ao olhar masculino.
Ao longo de todo o arco de Sheryl
isso é constantemente reforçado pelas interações entre ela e outros homens e
pelo modo como Kendrick filma essas situações. Seja em closes ou em planos mais
abertos, os homens estão sempre entrando em quadro para encostar na personagem
ou tocar seu rosto, como se invadissem seu espaço pessoal. Essas interações são
sempre marcadas com um senso de desconforto, como na conversa que ela tem em um
bar com o vizinho Terry (Pete Holmes), na qual ela acaba cedendo aos seus
avanços apesar de inicialmente rejeitá-lo. Como na cena com os produtores de
elenco, é visível como Terry muda de atitude no momento em que percebe que não
irá conseguir o que quer dela e Sheryl decide ceder talvez por medo de sua
reação ou por receio de alienar o único amigo que tem na cidade.
O senso de objetificação se
reforça quando ela chega no set do programa no qual o apresentador vivido por
Tony Hale constantemente comenta sobre a aparência de Sheryl, toca em seu corpo
e diz que ela está ali apenas para ser bonita. Não à toa que o pequeno gesto de
resistência da atriz de sair do roteiro e fazer perguntas jocosas aos
candidatos que expõem o seu machismo é recebida com fúria pelo apresentador.
Nesse sentido, o fato de Rodney dar todas as “respostas certas” soando como um
cara legal mostra que não há padrão para homens abusivos e mesmo alguém que soa
bacana ou inofensivo pode ser um potencial agressor, criando um senso de tensão
crescente conforme Sheryl se aproxima de Rodney e demora a perceber sua real
natureza.
Muitas vítimas, pouco tempo
A questão é a despeito de ideias
interessantes e composições de planos cuidadosas, o filme derrapa em um
material que tenta abrir várias frentes narrativas simultâneas, mas não
desenvolve quase nenhuma a contento. A espectadora do programa que reconhece
Rodney como o estuprador de sua amiga está ali só para mostrar como mulheres
são ignoradas ou silenciadas em suas denúncias, seja por quem detêm poder, como
os funcionários do estúdio que a ignoram, ou de quem está próxima dela, como o
namorado, que a trata como doida ao invés de acreditar no que ela diz. A
personagem existe mais como uma engrenagem em um mecanismo e menos como uma
pessoa autônoma dotada de suas próprias motivações.
Os segmentos que mostram o
passado de Rodney e como ele constantemente matava com impunidade ou evadia
autoridades enquanto mantinha emprego em grandes jornais e instituições
similares tenta reforçar a existência de estruturas de poder que protegem
homens abusivos e entender como esse predador age, mas fica na superfície
dessas ideias. Ocasionalmente o filme aponta para questões subjacentes da
personalidade de Rodney, como as várias sugestões de que ele se interessa por
homens, mas não faz nada com esse dado.
A narrativa também passa algum
tempo com as vítimas do assassino, revelando como ele é um predador astuto,
sempre se aproximando de mulheres sozinhas ou em situação de vulnerabilidade. O
desfecho, que nos faz acompanhar uma sobrevivente de seus ataques, analisa como
a sobrevivência dela se relaciona em tentar manter um senso de normalidade com
seu abusador, agindo como se nada demais tivesse acontecido para ganhar tempo
para escapar. O problema é que passamos muito pouco tempo com essa personagem
para que seu arco tenha o impacto devido e, considerando que é ela a
responsável pela captura do assassino me pergunto por que não seria sua
história a central para a trama ao invés da trama de Sheryl, que não seria muito
mais que uma nota de rodapé na trajetória do assassino.
Do jeito que está, A Garota da Vez fica na superfície de
seus temas principais, apontando os abusos e os mecanismos que facilitam sua
perpetuação, mas fazendo pouco para analisar seu funcionamento, se dividindo em
múltiplas tramas que não saem da superfície. É competente na construção do
senso de desconforto experimentado por Sheryl no seu cotidiano e Anna Kendrick
se mostra muito consciente das escolhas que faz como diretora, uma pena o texto
não estar à altura disso.
Não esperava nada da animação Robô Selvagem e me surpreendi com sua
narrativa singela e emocionante sobre cuidado, cooperação e maternidade. A
trama é focada na robô Roz (voz de Lupita Nyong’o), que depois de uma
tempestade vai parar em uma ilha habitada apenas por animais. Lá ela acaba
acolhendo um bebê ganso órfão, a quem chama de Bico-Bonito, e toma para si a
tarefa de criá-lo e prepará-lo para voar até o momento da migração de inverno,
contando com a ajuda da raposa Escobar (voz de Pedro Pascal) para educar a
pequena ave.
De certa forma, Hala é uma história de amadurecimento
bem típica, acompanhando uma adolescente conforme ela lida com descobertas
afetivas, o peso de certos erros e o complicado divórcio de seus pais. O que
diferencia a produção de outras histórias é que isso é contado a partir do
ponto de vista de uma adolescente muçulmana filha de imigrantes paquistaneses
nos Estados Unidos.
Estreia da atriz Zoe Kravitz como
diretora, Pisque Duas Vezes é um
suspense sobre manipulação e abuso que não se esquiva de lidar com os aspectos
mais sombrios desse tipo de violência. Em alguns momentos não é um filme fácil
de assistir, mas não deixa de funcionar como uma impactante reflexão de como
esse tipo de violência funciona.
Ilha do esquecimento
A trama é centrada na garçonete
Frida (Naomi Ackie). Um dia ela vai com a amiga Jess (Alia Shawkat) a uma festa
e conhece o bilionário da tecnologia Slater (Channing Tatum). Ele as convida
para passar uns dias em sua ilha particular e a dupla aceita. Chegando lá
conhecem outros amigos e amigas do bilionário e passam seus dias na piscina,
tomando drinks, comendo comida refinada e em festas que nunca terminam. Com o
tempo, porém, Frida começa a se sentir esquisita, já que a proibição de
celulares ou relógios a faz perder noção de há quanto tempo está ali e
ocorrências estranhas, como outros convidados sumindo e ninguém lembrando
deles, a fazem suspeitar de que há algo muito estranho ocorrendo ali.
Tramas sobre trocas de corpos são
propícias para suspense. O fato de não sabermos quem está no corpo de quem é um
mecanismo de constante tensão e que pode ser usado para gerar reviravoltas. Identidades em Jogo tenta se construir
em cima dessa ideia, mas uma demora em engrenar e um olhar raso para seus
personagens deixa a produção aquém de seu potencial.
Donald Trump já ocupava os
holofotes décadas antes de sua entrada na política. O Aprendiz, ao contrário do que o título sugere, não foca no reality show que ele apresentou no
início dos anos 2000, mas na relação entre Trump e Roy Cohn, advogado
constantemente associado a figuras da máfia e que foi parte fundamental do
sucesso inicial de Trump.
Advogado do diabo
A narrativa começa no final dos
anos 70 quando um jovem Donald Trump (Sebastian Stan) está assumindo o negócio
imobiliário do pai, Fred (Martin Donovan) e enfrenta um processo na justiça
federal que o acusa de discriminar inquilinos negros. O processo põe em pausa
os planos de Trump de sair do ramo de habitações populares e começar a investir
em hotéis de luxo, então ele procura a ajuda do advogado Roy Cohn (Jeremy
Strong, de Succession), para ajudá-lo. A trama então segue o desenvolvimento da relação entre
Trump e Cohn, mostrando a influência do advogado no empresário.
Como em muitos outros filmes dos
irmãos Coen Garotas em Fuga apresenta
uma trama sobre pessoas comuns acidentalmente envolvidas em uma trama criminal.
Despreparadas para lidar com os eventos ao seu redor, as personagens agem de
maneira sem noção e provocam reações desproporcionais em seus perseguidores,
criando uma espécie de bola de neve crescente de burrice e caos. Dirigida por
Ethan Coen, a produção não tem nada que ele já não tenha feito antes, mas ao
menos envolve com suas personagens pitorescas.
Comédia de erros
A trama é centrada em Jamie
(Margaret Qualley), que busca um recomeço depois de terminar com a namorada,
Sukie (Beanie Feldstein), embarca em uma viagem para a Flórida ao lado de sua
amiga Marian (Geraldine Viswanathan). O problema é que o carro que elas
alugaram deveria ser entregue a um grupo de criminosos que iria transportar a
carga escondida nele até a Flórida e agora os criminosos estão no encalço das
duas.
Muito do humor vem das
personalidades opostas da dupla principal, com Jamie sendo aventureira e
disposta a qualquer maluquice enquanto Marian é mais retraída e introspectiva.
Boa parte das situações insólitas em que a dupla se coloca vem de Jamie querer
que Marian se solte e tenha uma transa espetacular com alguma garota que
encontrem na estrada, enquanto Marian prefere esperar pela garota ideal.
Universo caótico
Além das protagonistas, o filme
povoa seu universo com figuras esquisitas e histriônicas, como a dupla de
capangas no encalço de Jamie e Marian, que estão sempre discordando e
questionando o modo de agir um do outro, enquanto um quer ser mais violento o
outro tenta resolver via diálogo, um embate que terá consequências sangrentas
perto do final. Igualmente pitoresca é a agressiva policial vivida por Beanie
Feldstein que parece sempre reagir a qualquer situação com o máximo de intensidade,
que faça sentido para o momento ou não.
Esse senso de bizarrice se dá
também na própria progressão da trama, com guinadas que acontecem por conta de
coincidências ou desencontros fortuitos e revelações completamente absurdas. A
principal delas é a descoberta do que há na maleta escondida no carro de Jamie
e Marian e o motivo de um poderoso e conservador senador da Flórida
(interpretado por Matt Damon) estar tão focado em recuperá-la. De todas as
possibilidades de construir uma trama de escândalo político, o filme escolhe
pela via mais estúpida e aloprada possível. Há uma crítica aqui às hipocrisias
dessas figuras públicas que arrotam moralismo em prol da “família tradicional”,
mas são observações que nunca saem da superfície e carecem da acidez de sátiras
sociais que os Coen já fizeram em filmes como Fargo (1996), O Grande Lebowski(1998) ou Queime Depois de
Ler (2006).
Assim, Garotas em Fuga diverte pelo seu universo povoado por personagens
excêntricos, ainda que não faça nada que os Coen não tenham feito melhor em
trabalhos anteriores.
Cresci com as tirinhas do
Garfield e assistindo a série animada que passava no Cartoon Network, até
assisti os dois live action em que
Bill Murray deu voz ao gato mal humorado (o primeiro é inofensivo, o segundo é
ruim), mas mesmo o retorno à animação não me empolgou muito para este Garfield: Fora de Casa. A trama tenta
recontar o início da relação do gato Garfield (Chris Pratt) com seu dono, Jon
(Nicholas Hoult), com Garfield eventualmente sendo sequestrado e forçado a
ajudar o pai que nunca conheceu, Vic (Samuel L. Jackson), a realizar um roubo
para a perigosa gata Jinx (Hannah Waddingham) como forma de pagar um dívida.
Estrelado por Halle Berry e Mark
Wahlberg, A Liga é uma mistura de
comédia romântica e filme de ação que não empolga em nenhuma das duas frentes.
Roxanne (Halle Berry) é uma espiã que trabalha para a agência secreta conhecida
como A Liga, quando uma missão da errado e toda a equipe dela é morta, a agente
decide pedir ajuda a alguém de fora, seu ex-namorado de tempos de colégio: Mike
(Mark Wahlberg). Ele é um operário de meia idade que mora com a mãe e continua
no mesmo emprego com a mesma vida e é recrutado por Roxanne para recuperar uma
lista com os dados de todos os agentes infiltrados de todas as agências de
inteligência do mundo antes que a lista caia em mãos erradas.
Assistir Aracnofobia (1990) e sua continuação na Sessão da Tarde quando
criança me deixou com medo de aranhas por muito tempo. A possibilidade de
talvez ser traumatizado de novo por um filme de terror com aranhas
provavelmente foi o que me impeliu a assistir este Infestação, produção francesa que é o primeiro longa-metragem do
diretor Sébastien Vanicek.
Humanidade inane
A trama é centrada em Kaleb (Théo
Christine), um jovem de vinte e poucos anos que vive de revender tênis de marca
e mora no apartamento de sua falecida mãe em um prédio de habitação popular na
periferia de Paris. Ele não tem muitas perspectivas de futuro e se interessa
por animais exóticos. Um dia ele compra uma aranha estranha em um container de
plástico da loja de produtos roubados na qual ele adquire os tênis que revende.
Logicamente a aranha escapa e rapidamente se multiplica, infestando o prédio.
É impressionante como os filmes
da parceria entre a Blumhouse e a Prime Video partem de boas premissas, mas
ficam aquém de seu potencial. Aconteceu em Noturno(2020), em A Babá(2022) e agora
volta a acontecer neste A Casa Mórbida,
cuja premissa pode ser resumida com “e se O Ursose passasse em uma casa mal assombrada?” para tentar desenvolver um
“horror gastronômico”.
Quando escrevi sobre a produção
coreana Força Bruta (2022) mencionei
como o filme trazia uma trama bem básica, mas se sustentava pelas cenas de
ação. Este Força Bruta: Sem Saída
segue na mesma toada, entregando uma narrativa similar ao que já vimos um monte
de outras vezes e se elevando pela condução da ação.
Crimes banais
A trama acompanha o detetive Ma
Seok-Do (Don Lee) que precisa investigar assassinatos conectados à chegada de
uma poderosa nova droga nas ruas da Coreia do Sul. A investigação o leva a uma
disputa por território entre gangues locais, membros da yakuza japonesa e as
tríades chinesas. Tráfico e guerras de gangues são comuns em filmes de ação e a
trama não faz nada com essa premissa que já não tenhamos visto antes. Ao menos
consegue tornar seus vilões em ameaças críveis e com personalidades
excêntricas, como o sanguinário yakuza Ricky (Munetaka Aoki). Don Lee é um
protagonista carismático ao equilibrar o jeito durão de Seok-Do com um lado
mais bonachão.
Depois de uma primeira temporada que demorava a desenhar seus principais conflitos e que funcionava como um
grande prólogo de uma narrativa que estava por vir, a segunda temporada de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder
entrega uma narrativa mais concisa e focada do que seu ano de estreia. Se o
primeiro ano demorou a encontrar um rumo, esta temporada já parece saber desde
o início qual será seu foco.
Se na temporada anterior tudo
girava em torno da possibilidade de Sauron (Charlie Vickers) estar vivo, aqui a
temporada foca justamente no vilão e como ele manipula todos à sua volta, em
especial o artesão élfico Celebrimbor (Charles Edwards). Os três anéis élficos
forjados no final do primeiro ano foram realizados sem a influência de Sauron e
agora o vilão quer estar perto de Celebrimbor conforme o convence a forjar anéis
de poder para os anões e homens, inserindo suas trevas nos artefatos. Ao mesmo
tempo, Galadriel (Morfydd Clark) tenta convencer o rei Gil-Galad (Benjamin
Walker) e Elrond (Robert Aramayo) da presença de Sauron entre eles e de como os
anéis élficos podem ser importantes para a batalha que virá. O Estranho (Daniel
Weyman) segue em sua peregrinação para leste ao lado de Nori (Markella
Kavenagh) enquanto Míriel (Cynthia Addai-Robinson) e Elendil (Lloyd Owen)
retornam para Numenor apenas para se verem sob a suspeita dos opositores
liderados por Pharazon (Trystan Gravelle).
Os primeiros trailers do game The Plucky Squire (que aqui recebeu o
título de O Escudeiro Valente) me
chamaram a atenção pelo modo como o game misturava elementos bidimensionais que
remetiam a livros infantis com segmentos 3D cuja estética remetia ao remake de Link’s Awakening para Nintendo Switch ou
o recente Echoes of Wisdom. Como ele
ficou disponível no catálogo de jogos da Playstation Plus já no dia de seu
lançamento pude conferir o jogo e o resultado é bacana, ainda que tenha alguns
problemas.
Um elo entre mundos
A trama se passa dentro de um
livro de histórias infantis protagonizado por Pontinho, o escudeiro valente. Um
dia, o vilão da história, o mago Enfezaldo, se dá conta de que todos são
personagens em um livro e usa poderes metamágicos para expulsar Pontinho do
livro e reescrever a história se colocando como herói. Agora Pontinho precisa
transitar entre os dois mundos para salvar seu livro e também o mundo real, já
que sem suas aventuras as vidas das crianças que leem seus livros mudarão para
pior.
Quando estreou a primeira
temporada de Monstros, nova série de
antologia sobre crimes reais produzidas por Ryan Murphy, acabei deixando de
conferir a história do assassino Jeffrey Dahmer por já estar saturado na época
de séries “true crime”. A série chega a sua segunda temporada com este Monstros: Irmãos Menendez Assassinos dos
Pais contando o caso de dois irmãos que mataram os pais no final da década
de 80. Eu tinha ouvido falar do caso algumas vezes, mas nunca soube muito à
respeito, então resolvi conferir a série.
A narrativa acompanha os irmãos
Lyle (Nicholas Alexander Chavez) e Erik Menedez (Cooper Koch) que em 1989
assassinam o pai, José (Javier Bardem), e a mãe, Kitty (Chloe Sevigny), com
múltiplos tiros de espingarda. O crime chamou atenção pela crueldade e pelo
fato de que os irmãos inicialmente tentaram culpar a máfia pela execução dos
pais, tentando sugerir que o pai, um rico empresário da indústria fonográfica,
estava envolvido com o crime organizado. O caminho até a eventual condenação
dos irmãos levou quase uma década e foi marcado por denúncias de abusos físicos
e sexuais que José Menendez teria cometido contra eles.
É impossível um realizador ter
pleno controle sobre a recepção de sua arte. A recepção é um processo
semiopragmático que depende da interpretação do espectador e, nesse sentido,
comunidades interpretativas podem chegar até mesmo a um entendimento que não é
sustentado pela materialidade da obra (Umberto Eco chamaria isso de
interpretação aberrante). Não importa o quanto um realizador seja perfeccionista,
é sempre possível que as pessoas gostem de um filme por motivos errados.
Piada explicada perde a graça
David Fincher é famoso pelo seu
perfeccionismo e nem ele foi capaz de impedir que seu Clube da Luta (1999) fosse lido como um chamado ao retorno a um
hipermasculinismo para reconstruir a ordem social e não como uma crítica a uma
masculinidade que prefere criar uma seita terrorista e explodir o mundo a lidar
com os próprios sentimentos. Há quem veja O Lobo de Wall Street(2013) como uma celebração da cultura de excessos da
especulação financeira e não como a óbvia sátira que o filme é. Do mesmo modo,
há quem goste de Coringa(2019) por
ver o protagonista como um revolucionário se rebelando contra uma sociedade que
o maltrata apesar do filme (e o próprio personagem) dizer explicitamente que
ele não é nada disso.