sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Crítica – Hala

 

Análise Crítica – Hala

Review – Hala
De certa forma, Hala é uma história de amadurecimento bem típica, acompanhando uma adolescente conforme ela lida com descobertas afetivas, o peso de certos erros e o complicado divórcio de seus pais. O que diferencia a produção de outras histórias é que isso é contado a partir do ponto de vista de uma adolescente muçulmana filha de imigrantes paquistaneses nos Estados Unidos.

Crescendo e aprendendo

A trama se baseia no curta Hala da diretora Minhal Baig, que também conduz este longa-metragem. Acompanhamos Hala (Geraldine Viswanathan), uma adolescente que tem uma boa relação com o pai, Zahid (Azad Khan), com quem compartilha vários interesses, como o amor por palavras cruzadas, enquanto tem uma relação mais distante com a mãe, Eram (Purbi Joshi) por conta de seu conservadorismo, frequentemente reclamando com Hala por ela andar em meio a garotos ou fazer coisas que “causariam dano” à sua reputação junto à comunidade. Hala também exercita sua capacidade literária, estimulada pelo professor Lawrence (Gabriel Luna) e pelo colega Jesse (Jack Kilmer, filho do ator Val Kilmer).

É um drama adolescente em que encontramos elementos familiares como a descoberta de um primeiro amor, perda de virgindade e a percepção que nossos pais não são as figuras heroicas ou perfeitas que imaginávamos, mas pessoas igualmente falhas. Tudo isso é desenvolvido com um olhar contemplativo, que deixa os silêncios se fazerem presentes e cujas narrações tiradas dos diários da protagonista servem para mostrar tanto seu talento literário quanto nos dá uma janela para sua subjetividade.

Imigração e traumas geracionais

Além das questões de adolescência é uma narrativa que trata de conflitos e traumas geracionais, explorando a diferença de expectativas entre os pais imigrantes e os filhos nascidos em outro país cuja relação com a cultura de seus pais é um pouco mais distante, evidenciado pela cena em que Hala retira seu véu ao entrar no dormitório da faculdade, como se desvelasse a influência dos pais sobre si. A mudança na relação de Hala com a mãe se transforma na medida em que Eram percebe que Zahid planeja para Hala um futuro similar ao dela própria, presa em um casamento arranjado sem o devido afeto e abrindo mão de seus sonhos. Conforme vê a história ensaiando se repetir com a filha, Eram decide quebrar o ciclo ao invés de perpetuá-lo como faz o marido, que também tinha uma relação ruim com os pais.

A partir do momento em que Hala acidentalmente testemunha o pai com outra mulher em uma lanchonete o filme muda o modo como filma Zahid para ilustrar a transformação na dinâmica entre eles. Antes os dois até apareciam juntos em quadro, com a mãe às bordas ou fora do enquadramento, construindo a sensação de proximidade entre eles ou em closes no rosto de ambos. Depois Zahid passa a ser filmado em planos médios, deixando-o mais distante, seu rosto filmado à meia luz, o fazendo parecer uma figura sombria, simbolizando a postura mais opressiva que ele toma com a garota depois que sua imagem de pai ideal é derrubada pela revelação da traição.

Assim, mesmo que replique muitos temas típicos de tramas sobre juventude, Hala acerta na sensibilidade de sua protagonista e no modo como desenvolve a relação dela com os pais.

 

Nota: 7/10


Trailer


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