quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Crítica – Infestação

 

Análise Crítica – Infestação

Review – Infestação
Assistir Aracnofobia (1990) e sua continuação na Sessão da Tarde quando criança me deixou com medo de aranhas por muito tempo. A possibilidade de talvez ser traumatizado de novo por um filme de terror com aranhas provavelmente foi o que me impeliu a assistir este Infestação, produção francesa que é o primeiro longa-metragem do diretor Sébastien Vanicek.

Humanidade inane

A trama é centrada em Kaleb (Théo Christine), um jovem de vinte e poucos anos que vive de revender tênis de marca e mora no apartamento de sua falecida mãe em um prédio de habitação popular na periferia de Paris. Ele não tem muitas perspectivas de futuro e se interessa por animais exóticos. Um dia ele compra uma aranha estranha em um container de plástico da loja de produtos roubados na qual ele adquire os tênis que revende. Logicamente a aranha escapa e rapidamente se multiplica, infestando o prédio.

A primeira metade do filme gasta muito tempo nos fazendo acompanhar Kaleb e seus amigos, como a irmã Manon (Lisa Nyarko), sua melhor amiga, Lila (Sofia Lessafre), e o melhor amigo de Kaleb, Jordy (Finnegan Oldfield). O problema é que esses personagens não tem nada digno de nota e o tempo estendido que passamos com eles não serve para aumentar nossa empatia ou nos fazer ter interesse em suas histórias. Na verdade, considerando que tudo acontece por Kaleb ser estúpido o suficiente para comprar o que claramente é um animal silvestre obtido ilegalmente de um vendedor com conexões escusas nos faz torcer para que ele seja logo devorado pelas aranhas.

Seres rastejantes

Cada minuto que o filme passa com esses personagens me faz torcer para que as aranhas chegassem logo e quando elas chegam não decepcionam. Sim, de certa forma eu entendo que não é preciso lá muito esforço para fazer aranhas soarem assustadoras. Ainda assim o filme é eficiente no modo como constrói a tensão nas cenas com as criaturas. Um exemplo é o momento em que Lila está limpando o banheiro e nos vemos as aranhas entrando no recinto pelo reflexo do espelho, com mais e mais artrópodes chegando conforme a cena passa. A personagem não tem ciência disso, mas nós temos e essa discrepância de informação entre público e personagem serve para ampliar o suspense enquanto Lila caminha para um perigo que desconhece.

A produção também tem sua parcela de horror corporal, com dezenas de filhotes de aranhas saindo de pústulas ou de feridas abertas nos cadáveres de moradores mortos por elas. Como se trata de uma produção de orçamento relativamente baixo, essas não são ocorrências frequentes, mas o filme sabe usá-las para que sejam impactantes. A locação do conjunto habitacional é usada para construir um sentimento de claustrofobia, com corredores apertados e escadarias mal iluminadas tendo seus espaços ainda mais reduzidos por conta das teias e criaturas que rapidamente se multiplicam pelo local.

A produção ainda tenta construir algum comentário social, com a polícia chegando para combater a ameaça e tratando a população do local como se eles fossem descartáveis e agindo de forma hostil em relação a eles, lembrando como as instituições não se importam com essas pessoas de cor, imigrantes (ou descendentes) em áreas periféricas. São temas que ficam subjacentes durante boa parte da projeção, embora a narrativa não as desenvolva muito.

Mesmo com seus personagens genéricos e unidimensionais, Infestação entrega o que promete em termos de horror envolvendo aranhas, criando momentos tensos e agoniantes conforme as criaturas aterrorizam um prédio inteiro.

 

Nota: 6/10


Trailer

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