quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Crítica – Blitz

 

Análise Crítica – Blitz

Review – Blitz
Dirigido por Steve McQueen, diretor responsável por 12 Anos de Escravidão (2013) e As Viúvas (2018), Blitz retrata o período dos constantes bombardeios nazistas contra Londres durante a Segunda Guerra Mundial. É uma produção que tenta retratar a sobrevivência em um período de constante perigo e escassez, mas que por vezes tenta manejar tantas ideias ao mesmo tempo que não desenvolve nenhuma de maneira impactante.

Notícias de uma guerra cotidiana

A trama acompanha a jovem Rita (Saoirse Ronan), que vive com o pai e o filho George (Elliott Heffernan) em uma Londres sob constantes alvos de bombardeios. Quando o governo evacua as crianças da cidade, Rita e George se separam, mas George não vai para o abrigo do governo. Ele pula do trem durante o trajeto e tenta voltar para casa sozinho, enquanto isso Rita continua a trabalhar em uma fábrica, produzindo armamentos para o esforço de guerra, enquanto tenta sobreviver aos bombardeios constantes.

O filme alterna entre o caos dos bombardeios e os momentos mais calmos do cotidiano de Rita, especialmente ao lado das amigas Tilda (Hayley Squires) e Doris (Erin Kellyman, de Falcão e o Soldado Invernal). A primeira cena já dá a tônica do senso de desespero dos bombardeios, adotando uma câmera na mão que tenta acompanhar o movimento das evacuações ou de bombeiros tentando apagar um incêndio, mas que parece sempre se distrair com uma nova emergência, saltando entre uma ocorrência e outra, tentando dar conta dos múltiplos eventos simultâneos que denotam o caos e destruição das bombas.

A produção também tenta construir um senso de escassez e desalento em meio àquela vida durante a guerra, com Rita andando por entre os escombros de ruas próximas à sua casa ou mostrando pessoas saqueando imóveis recém bombardeados. Esses momentos, porém, carecem da atmosfera de desamparo que filmes do neorrealismo italiano como Roma, Cidade Aberta (1945) ou Alemanha, Ano Zero (1948) conseguiam imprimir sobre a vida precária e com pouca esperança durante ou imediatamente após a guerra. Talvez porque a condução de Steve McQueen seja tão clássica, tecnicamente precisa e elegante, não chegando a cosmetizar a tragédia, mas sem conseguir captar a imperfeição caótica do período.

Passado e presente

Há uma tentativa de observar questões latentes de tensões ou transformações da sociedade londrina durante a guerra, com o filme inserindo uma quantidade enorme de temas sem exatamente levar eles a qualquer reflexão. Em uma cena vemos Rita com suas amigas em um pub e um soldado se oferece para pagar uma rodada a elas, com Tilda recusando dizendo que não precisam de homens pagando coisas porque elas trabalham. É um momento que reflete como a necessidade de ter mulheres trabalhando em fábricas durante a guerra serviu para acelerar as demandas de emancipação feminina, mas o roteiro não faz muito mais com esse tema.

Do mesmo modo, os constantes protestos dos cidadãos para que o governo libere os túneis de metrô para a população se abrigar revela tensões de classe presentes nesse momento, embora isso não seja muito explorado. Do mesmo modo, há um segmento em que George é acompanhado por um soldado de origem nigeriana e passa por um museu onde vê imagens de pessoas escravizadas na África. É um momento que nos lembra da violência colonial perpetrada pelos britânicos e a origem do racismo que o garoto enfrenta. É de se imaginar que o filme vai pensar sobre essa complexidade de ter os britânicos como alvo de um país que prega supremacia racial, quando eles próprios já usaram desse discurso em sua trajetória colonial, no entanto, ponderações sobre o colonialismo se limitam a essa cena.

São muitos personagens que entram e saem da narrativa sem fazer muito além de serviram de veículo de exposição para que o filme narre como um determinado segmento da sociedade lidava com a situação da Blitz. A impressão é que talvez esse material tenha sido inicialmente pensado para ser uma minissérie, dedicando mais tempo a esses indivíduos e diferentes ideias, mas foi transformando em longa-metragem e muita coisa precisou ser abreviada.

Sim, a sequência do bombardeio final impressiona por seu senso de escala e destruição enquanto que Saiorse Ronan é bastante competente como uma mãe em busca do filho perdido. Ainda que o elenco seja eficiente e as cenas de bombardeio sejam bem conduzidas Blitz tem tantos temas e arcos narrativos muitos ficam subaproveitados.

 

Nota: 6/10


Trailer

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