segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Crítica – Cobra Kai: Sexta Temporada Parte 2

 

Análise Crítica – Cobra Kai: Sexta Temporada Parte 2

Review – Cobra Kai: Sexta Temporada Parte 2
A impressão ao assistir essa segunda parte da temporada final de Cobra Kai é estar diante de alguém que já sofreu morte cerebral, mas a família se recusa a desligar os aparelhos e aceitar que acabou. Não apenas a trama já não tinha mais para onde ir, algo que mencionei quando escrevi sobre a primeira parte, como essa segunda parte se recusa a encerrar a história e prolonga a série para mais uma terceira leva de episódios que não tem mais qualquer razão para ter se alongado tanto.

Novo cenário, mesmos conflitos

A trama começa com os membros do Miyagi-Do chegando na Espanha para o torneio internacional Seikai Taikai. No meu texto da primeira parte mencionei como era difícil construir a mesma rivalidade contra o Cobra Kai que as temporadas anteriores pelo fato que de os novos lutadores do dojo de Kreese (Martin Kove) eram desconhecidos que não tinham nenhuma história pregressa com os protagonistas, os primeiros episódios até se esforçam para construir esse antagonismo e também introduzir novos rivais em potencial na forma dos lutadores do dojo liderado por Wolf (Lewis Tan, de Mortal Kombat).

O problema é que uns dois episódios depois todo esse potencial dos novos personagens cai por terra quando a série insiste em trazer Terry Silver (Thomas Ian Griffith) de volta. É uma decisão que não faz sentido do ponto de vista temático, já que a quinta temporada encerrou de maneira bem amarrada o arco de Terry, nem narrativo. Sim, é crível que um bilionário tenha um exército de advogados prontos para anular o processo por alguma tecnicalidade. Por outro lado, é difícil crer que ele seria aceito em outro evento esportivo menos de um ano depois de ser visto subornando juízes.

É o tipo de conflito reciclado que mantem a série andando em círculos ao invés de movê-la adiante e desconfio que a razão para isso é porque na verdade não há muito caminho à frente para onde se mover. Assim, os cinco episódios que compõem essa segunda gastam tempo em dramas que de partida já não são muito convincentes, como a briga entre Demetri (Gianni DeCenzo) e Falcão (Jacob Bertrand), que se desentendem até o momento em que simplesmente resolvem fazer as pazes.

Do mesmo modo, no início dos episódios Miguel (Xolo Maridueña) questiona constantemente a liderança de Robby (Tanner Buchanan) até o momento em que ele simplesmente decide não fazer mais isso. Apesar de já terem deixado as diferenças de lado há tempos Daniel (Ralph Macchio) e Johnny (William Zabka) voltam a se desentender a respeito de como guiar os alunos, até, claro, a trama decidir que eles vão fazer as pazes e pronto. Todo o arco de Daniel tentar descobrir uma participação passada do Sr. Miyagi no Seikai Taikai soa como uma tentativa forçada de criar uma nova cisão entre ele e Johnny, mas nunca gera um drama convincente, sem falar que o bizarro rosto digitalizado de Pat Morita que aparece em um pesadelo de Daniel soa mais como uma ofensa do que como um tributo ao veterano ator. Isso sem falar da “lógica Gloria Perez” de ter personagens indo e voltando da Califórnia para a Espanha como se estivessem pegando um ônibus para a cidade do lado.

Cobra sem presas

O motivo das cenas de ação da série serem tão envolventes não residia somente na coreografia de luta, mas na construção narrativa das rivalidades entre os envolvidos que desembocava em confrontos com muito mais em jogo para os envolvidos do que apenas ganhar ou perder. Como nessa leva de episódios boa parte dos conflitos soa forçado ou pouco convincente, a maioria das lutas termina soando inconsequente, já que nunca sentimos que há algo em risco para aqueles personagens.

Muitos conflitos em potencial inclusive terminam sem repercussão alguma. Era de se imaginar que a decisão de Tory (Peyton List) em ir para o Cobra Kai (que já era narrativamente mal construída) ia ser uma fonte de conflito entre ela, Sam (Mary Mouser) e o resto do Miyagi-Do, mas não, ela e Sam conversam no primeiro episódio e tudo fica bem. Do mesmo modo, é de se esperar que a decisão de Devon (Oona O’Brien) em revelar que sabotou Kenny (Dallas Dupree Young) na classificação gerará conflito entre ela e o time, mas Kenny a perdoa instantaneamente e o time nem repercute o fato da amiga ter trapaceado para estar ali.

O confronto com o Cobra Kai no penúltimo episódio através de uma batalha em equipe até consegue evocar algo da empolgação das cenas de luta de temporadas anteriores ao mostrar os personagens conseguindo cooperar e agir em conjunto. Toda a boa vontade construída ao longo deste episódio, no entanto, vai embora no episódio seguinte e último dessa leva, cujo clímax é mais uma daquelas pancadarias generalizadas que se tornaram típicas da série. A diferença é que aqui ela não faz o menor sentido. Primeiro que a maioria dos lutadores não tem motivo para lutar entre si claramente fora da competição, inclusive arriscando desclassificação, segundo que não há razão para a transmissão continuar filmando durante a confusão já que é o tipo de coisa que provavelmente faria o evento perder patrocínio, inclusive é estranho que em momento algum apareçam seguranças para tentar parar a confusão. Eu sei que a série sempre teve um pé em um senso de exagero oitentista, mas isso aqui é demais mesmo dentro do regime de excesso que a série estabeleceu para si.

No fim não há qualquer senso de conclusão e essa leva de episódios termina com mais um gancho para a próxima parte da temporada final que, espero, finalmente feche o caixão de Cobra Kai. Uma pena que uma série que começou tão legal chegue ao seu fim de maneira tão equivocada.

 

Nota: 4/10


Trailer

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