Vidas em jogo
A narrativa se passa durante a partida derradeira entre Shohoku e Sannoh e ao logo do jogo volta algumas vezes ao passado dos protagonistas para construir suas histórias e o que está em disputa para cada um naquela partida numa estrutura similar a Rivais (2024). Se o anime e mangá eram protagonizados pelo jovem delinquente Sakuragi, que entrava para um time de basquete para se aproximar de uma garota de quem gostava, aqui o foco da narrativa é Ryota, um armador de baixa estatura, mas muito ágil.
A mudança de foco serve para mostrar os arcos anteriores do anime sob o ponto de vista de Ryota, conseguindo trazer novos olhares para esta história mesmo para quem já acompanhou a série animada. A história de Ryota é também bastante competente em estabelecer o drama do personagem, que tenta se estabelecer no basquete como homenagem ao irmão morto apesar de saber que não tem o mesmo talento que ele e que isso dificulta sua relação com a mãe. A narrativa também encontra espaço para o resto do time e se inicialmente eles soam como um conjunto de clichês como “o arruaceiro”, “o grandalhão”, o “lobo solitário”, conforme a partida avança e embarcamos em mais flashbacks esses personagens vão ganhando mais camadas.
Todo esse drama entre os personagens ajuda a dar mais intensidade à partida, já que entendemos o que move cada um dos protagonistas e o motivo de ser tão imperativo para eles vencerem a despeito das chances estarem contra eles. Seria fácil o filme se perder em uma inconsistência tonal por variar entre esses momentos mais contemplativos de drama conforme Ryota lida com o luto pelo irmão ou Sakuragi vence seu senso de inadequação e se integra ao time, mas Inoue caminha bem entre a intensidade do drama e a intensidade da ação da partida.
O arremesso final
As cenas de basquete são o ponto alto do filme pelo modo como Inoue registra a ação, de planos longos que situam os jogadores na quadra, a tomadas mais fechadas que nos fazem ver os mínimos movimentos de um drible, há sempre uma energia intensa acompanhando cada ação com direito a balanços na câmera como se estivéssemos ali correndo ao lado dos jogadores. São lances tão intensos que só fazem sentido como animação, já que Inoue usa tomadas em primeira pessoa ou constantes dilatações temporais para demonstrar algumas fintas ou arremessos feitos sob marcação cerrada. Se estivéssemos em um live action tudo precisaria ser tão computadorizado que soaria artificial. É interessante como durante o contra-ataque final os protagonistas correm tão rápido de uma ponta a outra da quadra que chegam a ficar com espaços em preto e branco, como estivessem se movendo com tanta velocidade que não dá tempo de colori-los.
Muito do estilo de jogar dos
personagens soa claramente inspirado por astros da NBA da década de 90 (o mangá
foi escrito entre 1990 e 1996 afinal de contas), com movimentos que referenciam
Michael Jordan, Charles Barkley ou Dennis Rodman. Sakuragi, por exemplo, soa
claramente inspirado em Rodman com seu cabelo colorido e personalidade
desafiadora. Ele constantemente rouba a cena com as provocações que faz aos
adversários ou com as maneiras pouco ortodoxas com as quais tenta estimular seu
time. Sim, de certa forma é uma típica história de esporte e superação, mas The First Slam Dunk empolga pela energia
intensa que traz às cenas de basquete e ao consistente drama pessoal que
envolve seus protagonistas.
Nota: 8/10
Trailer
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