Essa terceira temporada de The Legend of Vox Machina tem um clima de apoteose considerando que ela marca o confronto derradeiro entre os aventureiros da Vox Machina e o conclave de dragões liderado pelo poderoso dragão vermelho Thordak. É um conflito que foi construído ao longo das duas temporadas anteriores e cuja execução aqui não decepciona.
Masmorras e dragões
Mesmo depois de coletarem os Vestígios na segunda temporada, o grupo ainda não é páreo para Thordak. Eles são abordados por Raishan, antiga aliada de Thordak, que propõe uma aliança com eles, já que ela quer se vingar do dragão por ter se recusado a ajudá-la a eliminar uma maldição que a estava matando aos poucos. Mesmo relutantes, a equipe aceita o acordo e parte em busca de uma armadura que pode absorver o poder de Thordak. A missão se torna mais urgente com a descoberta que o dragão está chocando centenas de ovos que estão prestes a eclodir para liberar novos dragões contra o reino.
Como em temporadas anteriores, o mérito da série é o modo como ela transita entre o extraordinário e o comum. De um lado esses personagens já se tornaram guerreiros com habilidades épicas, que viajam aos círculos mais profundos do inferno para barganhar com demônios ou enfrentam um navio inteiro de piratas. Por outro eles são indivíduos que lidam com suas próprias inseguranças, traumas passados, amores e uma série de outros sentimentos comuns a qualquer pessoa que serve para calcar todos os eventos em algum grau de realismo emocional.
Nos conectamos a essa história não apenas pela ação grandiosa, que explora de maneira criativa e por vezes sangrenta, as habilidades poderosas de heróis e vilões. A ação envolve pelo senso de energia que esses embates trazem e também pelo perigo, já que os inimigos são demônios ou dragões poderosos com uma capacidade real de eliminar os heróis e a vitória contra eles sempre tem um custo doloroso de vidas de aliados ou pessoas próximas.
Heróis em conflito
Mais do que a empolgação da ação o que nos mantem interessados é a jornada pessoal de cada membro do grupo e das conexões que eles forjam entre si. Da relutância de Vex em assumir seu amor por Percy por medo de perdê-lo, passando pela crise de fé de Pyke ou pelo esforço de Scanlan em se conectar com a filha que nem sabia que tinha. Cada um desses personagens tem algo em jogo para si além do objetivo maior de salvar o mundo, cada um deles tem uma razão compreensível pelo que lutar e ao longo da temporada eles lidam com as consequências de suas ações ou falta delas. Vex, por exemplo, enfrenta o peso da culpa por não ter dito a Percy como se sentia, Keyleth se cansa de não ser ouvida pelos aliados enquanto alertava para os perigos da traição de Raishan e Scanlan, na tentativa de ser presente para a filha, acaba negligenciando os aliados em momentos importantes, como no episódio em que o grupo é quase executado por um crime que não cometeu e Scanlan chega no último minuto para salvá-los.
Esse tipo de drama nos faz ver os protagonistas não como heróis infalíveis, mas como sujeitos cheios de falhas que fazem o melhor que podem com as cartas que tem à mão, dando mais peso a suas derrotas e empolgação com seus triunfos. Claro, não é apenas o drama que nos conecta a eles, há também o humor. Como um grupo de aventureiros que viaja junto há anos, eles estão sempre trocando piadas ou reações bem humoradas às situações insólitas em que se colocam, reagindo a muitos eventos menos como uma missão épica e mais como se fossem operários em mais um dia de trabalho (porque eles basicamente se veem assim).
Os episódios que acompanham a luta derradeira contra Thordak ressaltam o poder avassalador do dragão conforme ele dizima exércitos inteiros sem muito esforço e mesmo heróis poderosos são literalmente esmagados como se fossem insetos, sendo difícil não se chocar quando um personagem é reduzido a uma poça de sangue e gosma ao ser pisoteado pelo vilão. O final da temporada é tão competente em amarrar as histórias construídas até aqui, como a relação de Scanlan com a filha, os romances entre Vex e Percy ou Vax e Keyleth que há um senso palpável de conclusão, de fechamento de ciclo.
Sim, ainda existem elementos em
aberto a exemplo da relação de Pyke com os deuses ou o poder em seu sangue, mas
é tudo tão bem amarrado e os personagens tem seu merecido momento de cavalgar
na direção do pôr do sol que poderia muito bem ser o final da série. Não será,
já que uma quarta temporada já foi confirmada, o que me deixa ansioso para ver que
rumos a aventura irá tomar, mas apreensivo que o novo arco que virá possa não
estar à altura do que foi feito até aqui.
Nota: 8/10
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