Filhos protegidos
A trama é centrada em uma mãe (Halle Berry), que vive em uma cabana isolada com os dois filhos, Nolan (Percy Daggs IV) e Sam (Anthony B. Jenkins). Ela conta que o mundo foi tomado por uma calamidade maligna invisível e que a única proteção que eles tem é o espaço sagrado da casa. Eles podem sair desde presos a uma corda que os mantem conectados à casa, mantendo-os seguros das criaturas que só a mãe vê. Conforme o tempo passa, porém, Nolan e Sam começam a querer se aventurar para além do limite das cordas e questionam a realidade que sua mãe os narra.
A situação funciona como uma metáfora para relações entre mães e filhos, em como queremos proteger nossas crias dos perigos do mundo e para fazer isso achamos que o melhor meio é mantê-los próximos de nós. A imagem desses personagens conectados à casa e uns aos outros por corda evoca um cordão umbilical, como se eles nunca tivessem se soltado da mãe.
O arco desses personagens reflete como muito da nossa visão de mundo é construída pelo que nossos pais e mães nos dizem quando somos criança, mas com o tempo vamos experimentando a vida por conta própria e passamos a desenvolver nossas próprias ideias sobre o mundo. Esse choque entre o que fomos ensinados quando crianças e o que o mundo apresenta a nós pode muitas vezes gerar conflitos intensos, principalmente quando vemos que a visão de nossos pais não se adequa a realidade. O conflito entre os irmãos e a mãe vem justamente dessa dúvida se a visão dela a respeito do “mal” que habita o mundo é real ou não e como eles agem diante da possibilidade mãe estar completamente errada.
Pecados dos pais
O filme constrói um clima constante de apreensão conforme a família faz incursões fora da casa e aparições sinistras que apenas a mãe vê estão constantemente à espreita. O visual das criaturas é bem grotesco e contribui para o senso de pavor diante de um mal desconhecido. Por outro lado, o filme muitas vezes entrega alguns jumpscares tão previsíveis que só diluem a construção mais atmosférica que permeia a produção.
A ambiguidade com a qual o filme trabalha essa ameaça também é importante para o clima de suspense. De início acreditamos na mãe, mas conforme vemos que apenas ela enxerga as criaturas e que essas imagens grotescas constantemente a provocam sobre seus erros do passado, ficamos com a impressão de que a mãe pode sofrer com paranoia ou esquizofrenia e estar tudo na cabeça dela.
Essas reflexões sobre saúde mental e impacto nos filhos se perdem um pouco na segunda metade quando os irmãos entram em conflito e tudo parece se encaixar mais como uma história típica de possessão. É só nos últimos minutos que a trama tenta retomar essas ideias de trauma geracional e os impactos disso nos filhos ao usar as assombrações (que a esse ponto podem ser literais ou metafóricas, o filme deixa aberto à interpretação) como manifestações da presença desse trauma nos irmãos e nos impactos das reações dele diante daquilo tudo. Se um deles consegue se libertar de todo o senso de culpa que a mãe incutiu nele, reconhecendo o amor e a importância da mãe em sua vida ao mesmo tempo em que a deixa ir, o outro é completamente dominado por essas assombrações, repetindo os mesmos padrões de comportamento destrutivo no que deve ser o pior pesadelo de um pai ou mãe: ver um filho passar por tudo que se tentou evitar durante a criação dele.
O problema é que todos esses
temas e subtextos se atropelam rapidamente nos minutos finais, sem dar o devido
tempo para que essas ideias respirem por conta da constante e rápida inserção
de novas informações que deixa tudo mais bagunçado do que ambíguo. É uma pena,
porque dilui muito da força que o desfecho poderia ter se fosse bem executado.
Apesar de um começo instigante, Não
Solte! desenvolve suas ideias sobre maternidade, superproteção e trauma
geracional em meio a um constante clima de tensão que se esvai durante o clímax
e não entrega o impacto devido.
Nota: 5/10
Trailer
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