segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Crítica – O Clube das Mulheres de Negócios

 

Análise Crítica – O Clube das Mulheres de Negócios

Review – O Clube das Mulheres de Negócios
Dirigido por Anna Muylaert, responsável por Que Horas Ela Volta? (2015), O Clube das Mulheres de Negócios tenta imaginar como seria um Brasil em que as mulheres dominassem a sociedade. É uma ideia com potencial de repensar noções de masculino e feminino, de como muito disso é uma construção social, mas infelizmente o filme se prende a um binarismo raso que o reduz a ser uma sátira de uma piada só.

Mundo invertido

Na trama, o renomado fotógrafo Jongo (Luís Miranda) e o inexperiente repórter Candinho (Rafael Vitti) vão ao famoso Clube das Mulheres de Negócios, confraria privada que abriga as mulheres mais poderosas do país, para entrevistar as integrantes da diretoria. Jongo está apreensivo de entrar em um ambiente de mulheres tão poderosas, mas Candinho não se sente intimidado por ser neto da presidente do clube, a poderosa Cesárea (Cristina Pereira).

Embora este seja um universo controlado por mulheres, ele não é muito diferente do nosso, apenas inverte os papéis de homens e mulheres. Assim, mulheres são grandes empresárias que tratam homens como objetos e passam boa parte do tempo discutindo negócios ou esportes, enquanto homens são cidadãos de segunda classe, relegados a serem maridos troféu ou serem tratados apenas pela beleza.

Não deixa de ser uma oportunidade desperdiçada para pensar como nossa sociedade poderia ser diferente se as mulheres estivessem no controle e também não aproveita essa premissa para fabular sobre papéis de gênero como construções sociais e existências possíveis fora dessas definições rígidas e tradicionais de masculino ou feminino e até mesmo fora desse binarismo. Tudo que o filme faz, na verdade, é apenas inverter a lógica binária de nosso mundo ao trabalhar com noções muito estreitas do que seria um comportamento masculino ou feminino.

Piada repetida

Uma vez que entendemos essa lógica as situações se tornam previsíveis e perdem boa parte da graça. É evidente, por exemplo, que o repórter bonitinho vai ser subestimado pelas mulheres poderosas que irão tratá-lo como um bibelô burro e ele eventualmente irá sofrer assédio sexual de uma delas. Ao tentar denunciar para avó ele ouvirá os mesmos chavões de sempre, de que isso é algo elogioso, de que ele deveria aproveitar, etc.

Algumas piadas até rompem a lógica do próprio universo, a exemplo da cena em que uma das mulheres elogia Jongo dizendo que ele parece com o Pantera Negra. Como assim esse personagem existe nesse universo? Os super heróis tal como existem em nosso mundo são fantasias masculinas de poder e em geral reafirmam noções tradicionais de masculinidade, então como algo assim poderia existir em um universo no qual esses padrões de comportamento são performados por mulheres? Do jeito que está a fala soa desconectada do que o filme quer construir.

Aliás, as intenções do filme parecem incertas em muitos momentos. Durante meu tempo com ele me perguntava se tudo que o filme queria era satirizar a conduta masculina expondo-a ao ridículo ao inverter sua lógica colocando mulheres no papel de homens e vice versa. Em outros a impressão é que a narrativa tenta pensar que se mulheres estivessem no poder se comportariam igualzinho aos homens, como se a opressão fosse algo natural da humanidade. Nenhuma dessas possibilidades, porém é desenvolvida com muita consistência.

Apesar do humor previsível, o elenco abraça o senso de absurdo e natureza caricatural de seus personagens, divertindo pelo compromisso com o exagerado. Vitti, por exemplo, faz de Candinho uma espécie de “homem patricinha” com direito a um terninho colorido vestido por cima de um top cropped e uma atitude sem noção. Do mesmo modo, André Abujamra faz o dócil e acomodado marido troféu da empresária vivida por Irene Ravache com um constante olhar perdido e beócio.

Katiuscia Canoro diverte ao engolir o cenário como Zarife, uma mulher super agressiva, sexista e defensora do porte de armas que sempre anda acompanhada das sobrinhas (interpretadas por Maria Bopp e Verônica Debom) igualmente histéricas, sempre empunhando armas de fogo e berrando “buceta!” como pokémons que não conseguem falar nada além do próprio nome. São personagens tão absurdos, tão longe de qualquer conduta humana normal, mas, ao mesmo tempo, tão próximas de figuras masculinas do mundo real que é difícil não rir.

É uma pena, portanto, que esse elenco dedicado, seja mal aproveitado por um material que não tem estofo para se sustentar ao longo da duração de O Clube das Mulheres de Negócios e resulte em um olhar raso para relações de gênero e poder. Talvez a ideia ficasse melhor como um curta metragem.

 

Nota: 4/10


Trailer

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