Uma vida obscena
Mike (Simon Rex) chega cheio de hematomas à sua cidade natal e pede para ficar uns dias na casa da ex-esposa Lexi (Bree Elrod), de quem nunca se divorciou. Ela e sua mãe, Lil (Brenda Deiss), que vive na mesma casa, não o querem ali, mas Mike usa sua lábia para convencê-las em troca de ajudar no aluguel. Ele tenta conseguir emprego, mas é recusado por conta de seu passado como ator pornô. Ele acaba convencendo uma traficante local a deixá-lo vender maconha e passa a fazer ponto em uma loja de rosquinha vendendo para trabalhadores que passam no local durante a troca de turnos. Ele também fica interessado pela balconista da loja, a jovem Raylee (Suzanna Son), cujo apelido é Morango.
O filme nunca explica o que fez Mike ter que fugir para o Texas ou o motivo de que o vemos todo machucado, mas ao longo do filme sua conduta trambiqueira nos faz imaginar as razões. Longe de ser simplesmente um sujeito azarado, Mike age como se fosse mais esperto que os outros e sempre tenta passar a perna nas pessoas ao seu redor confiando apenas em sua lábia e charme cafajeste. Ele também é bastante machista e vê as mulheres como objetos. Mesmo Morango, de quem ele inicialmente parece estar apaixonado, se torna um alvo, alguém a ser aliciada para o universo dos filmes pornôs e que servirá como seu retorno triunfal.
Simon Rex vende bem como um sujeito de ego tão inflado e de leitura tão equivocada da própria realidade consegue sobreviver na base da lábia, ainda que ocasionalmente seus blefes deem errado, como na cena em que ele é espancado pela família de um ex-namorado de Morango a quem tentou intimidar. Rex traz o carisma canastrão necessário para nos convencer de Mike conseguiria tapear aquelas pessoas e a autoestima inabalável que impede o personagem de aprender com os próprios erros.
Ausência de aprendizado
Sim, a jornada de Mike não é o esperado caminho de redenção, mas uma repetição do ciclo de ações que provavelmente o levou à situação precária na qual o encontramos no início. Por mais ele use a lábia e um pouco de sorte para sair de várias encrencas, seu acúmulo de trambiques eventualmente se volta contra ele. Não há problema em ter um protagonista que não passa por nenhum aprendizado, nem que ele seja moralmente repreensível, o problema é que, enquanto estudo de personagem, o filme falha em nos trazer um entendimento mais profundo sobre ele. O que move Mike? Qual o motivo dele agir dessa maneira? Como o avançar da trama não nos fornece nenhuma camada a mais para ele, fica a impressão de que a narrativa não está indo a lugar.
É uma pena, considerando que Rex é tão bom na sua composição desse picareta tosco, assim como Suzanna Son é bastante eficiente no misto de ingenuidade e malícia de Morango que impede que ela seja vista como meramente um alvo dele. A interpretação de Son, principalmente depois que ela descobre o passado de Mike, deixa subjacente que ela sabe das intenções dele e ainda assim segue com o ator porque também planeja usá-lo como uma forma de escapar daquela cidade sem perspectivas.
É uma relação ambivalente do ponto de vista moral e Baker entende isso muito bem, principalmente em sua cena final, que deixa o desfecho em aberto. Claro, existem pistas, pela fotografia supersaturada ou por todo o absurdo de vermos Morango saindo de biquíni dançando ao som de Bye Bye Bye do NSync, que estamos diante de uma fantasia de Mike e o filme assumiu o olhar objetificante que o ator pornô tem em relação à garota. Esse desfecho mais uma vez reforça a incapacidade de Mike em aprender com os próprios erros e como ele ainda enxerga o mundo como um grande filme pornô no qual todos estão ali para servir às suas fantasias de grandeza e virilidade.
Assim, é uma pena que apesar do
filme mergulhar na subjetividade cafajeste de seu protagonista e da performance
dedicada de Simon Rex, Red Rocket seja
um estudo de personagem que carece das camadas necessárias.
Nota: 6/10
Trailer
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